Agora entendo o que buscas. E entendo também todo o trabalho de bastidores que fazes para lá chegares. Agora vejo como te roças e te insinuas em mundos protegidos pela ausência de luz que te denuncie. Sabes perfeitamente ao que vais e usas o mais antigo método do mundo para tentares atrair o já atraído por outrem. Cá dentro sempre o soube porque sempre o vi, mesmo quando não queria deixar que me entrasse pelos olhos. Desde sempre houve um toque especial, um inclinar ousado, um sorriso de provocação, uma frase de entrega. Uma total venda e oferta de ti para a tua pessoa. Sei o que queres e tudo o que fazes são degraus que montas para escalar para mais perto do que almejas.
Mas não te limitas a vender-te de forma descarada. E não te limitas a fazê-lo porque tens plena noção de que não chega simplesmente porque tu também não chegas. Não chegas enquanto gente ou enquanto qualquer outra coisa, por mais pequena e reles que seja. E é por isso que minas toda a sólida estrutura que te bloqueia o caminho e protege celestialmente o teu alvo. Inventas, crias e inovas temas e palavras que soltas pelo caminho. Aqui e ali, para este ou aquele. E é pelas costas, apanhando o escudo desprevenido, que infiltras o veneno na ligação que desejas romper e corromper. E vais moendo-a, incessantemente, na esperança que quebre. De podridão ou de exasperação.
Não sei se conseguirás. Espero que não. Primeiro porque o que existe é de longe melhor que tudo aquilo que queres criar à força. À força de ideais que não devem vingar neste mundo. Segundo, porque mereces perder e perder-te sem fim. Mereces a solidão que não vês que geras em tudo o que tocas. Repulsas. Se houver justiça em tudo aquilo que te envolva, existirão luzes para iluminar a escuridão em que exibes a tua nudez de corpo e principalmente de alma para convencer alguém de que serves para ser degustada. Se houver justiça em tudo aquilo que te envolva, existirão ecos de som que levarão as tuas ferroadas aos ouvidos de quem tem o direito de as voltar a enfiar a murro na tua boca.
Hás-de continuar a viver nessa amargura de vida. E caso queiras subir nessa amargura de vida, não será certamente à custa dos que se encontram acima de ti e que têm mais poder que tu. Ainda vais ter que rastejar muito...