Hoje apetece-me ouvir o brilho das estrelas lá no céu, longínquas e fora do nosso alcance. Quero cheirar o som do sopro da brisa que voa sem amarras e sem destino. Tenho vontade de saborear o cheiro do teu perfume quando te cruzas comigo bem perto. Anseio por ver o calor aconchegante e terno da tua cabeça encostada no meu ombro ao fim da noite. E por fim, desejo tocar o sabor do teu beijo antes de adormecermos juntos sem nos preocuparmos com nada.
Felizmente que ainda há dias perfeitos...
Este é o meu Atlas.O meu Atlas Deus que carrega o meu mundo. O meu Atlas que sofre por sonhos. O meu Atlas que, mesmo sofrendo por vezes, é feliz por sonhar.
quinta-feira, dezembro 31, 2009
domingo, dezembro 20, 2009
É agora
Abrir aquela porta e senti-la e ouvi-la fechar-se atrás de mim pela última vez é algo que para sempre me ecoará na memória.
Estava um dia lindo. Um daqueles dias de Inverno em que o sol é utopia porque a realidade são telhados de nuvens escuras e pesadas que nos cobrem sem intervalos. Um daqueles dias de Inverno em que o frio nos aquece o ego, nos atravessa até aos ossos e nos arrepia à mais pequena brisa de gelo. Um daqueles dias de Inverno em que até a própria chuva, que invariavelmente tem que cair, cai de forma escassa e com medo de congelar, com pingos tímidos de vergonha.
Daquela vez a porta pareceu-me muito mais leve quando fiz força no puxador. Pareceu que deslizou sob o seu peso como que fazendo-me uma sublime e frágil vénia à medida que lhe passava a ombreira. Não me deteve nem sequer o tentou fazer, simplesmente porque desta vez sabia que não valia a pena. Fechei o casaco até ao cimo, tão decidido quanto o máximo que poderia estar em qualquer situação que alguma vez terei enfrentado.
Não tive medo do frio, do vento ou sequer da chuva que reinavam e se divertiam lá fora. Abracei-os. Puxei-os para junto de mim agradado pela companhia neste último caminho. Soube bem senti-los à minha volta, quase me levando ao colo. Olhei pelo canto do olho, por cima do meu ombro esquerdo. Lá estava ele, onde há mais de meio século sempre estivera. Onde há meia dúzia de anos eu sempre o vira. Impávido e pouco sereno. Mas hirto e severo.
Mas desta vez era de vez. Ao olhar por cima do meu ombro terei talvez experimentado uma vivência de quase-morte. Um daqueles momentos em que, em segundos, viajamos e revemos uma vida a alta velocidade. Os altos, os baixos. Os amigos e os inimigos. Os feitos e as derrotas. As conquistas e os falhanços. Uma experiência de quase-morte diferente somente por anteceder uma nova vida que se segue à que naquele momento terminou. Viajei num vórtex de sentimentos e sensações durante o tempo que demorei a fazer uma inspiração mais prolongada de ar que sustive nos pulmões enquanto o meu interior gelava e prolongava aquele instante. Se me pedissem uma palavra para descrever aquele turbilhão talvez respondesse nostalgia. Mas uma palavra nunca chegaria. Era aquele sentido de trabalho acabado, sem remorsos. De missão cumprida na sua totalidade, sem qualquer tipo de arrependimento. De quem cresceu com o que viveu e soube retirar aquilo que precisava de tudo o que se atravessou no seu caminho. De quem está bem consigo e aceita tudo o que leva consigo e tudo o que, de consciência, optou por deixar ao longo do carreiro. Sim, acho que foi isso. Um grande sentimento de nostalgia mas sem saudade. Porque a saudade fica daquilo que se sente falta e já não se tem. Mas desta vez, o que lá deixo passará agora a ser passado porque já não me é necessário. E não o será por não ter mais lugar no meu presente. Porque o que me é de facto necessário continuará comigo, mais ou menos perto. Porque essas coisas continuarão e manterão de forma ténue aquele sentimento perfeito de orgulho próprio pelo trabalho desenvolvido e as metas alcançadas. É por isso que não tenho medo de dizer adeus. Acabei.
É hoje. É agora.
Estava um dia lindo. Um daqueles dias de Inverno em que o sol é utopia porque a realidade são telhados de nuvens escuras e pesadas que nos cobrem sem intervalos. Um daqueles dias de Inverno em que o frio nos aquece o ego, nos atravessa até aos ossos e nos arrepia à mais pequena brisa de gelo. Um daqueles dias de Inverno em que até a própria chuva, que invariavelmente tem que cair, cai de forma escassa e com medo de congelar, com pingos tímidos de vergonha.
Daquela vez a porta pareceu-me muito mais leve quando fiz força no puxador. Pareceu que deslizou sob o seu peso como que fazendo-me uma sublime e frágil vénia à medida que lhe passava a ombreira. Não me deteve nem sequer o tentou fazer, simplesmente porque desta vez sabia que não valia a pena. Fechei o casaco até ao cimo, tão decidido quanto o máximo que poderia estar em qualquer situação que alguma vez terei enfrentado.
Não tive medo do frio, do vento ou sequer da chuva que reinavam e se divertiam lá fora. Abracei-os. Puxei-os para junto de mim agradado pela companhia neste último caminho. Soube bem senti-los à minha volta, quase me levando ao colo. Olhei pelo canto do olho, por cima do meu ombro esquerdo. Lá estava ele, onde há mais de meio século sempre estivera. Onde há meia dúzia de anos eu sempre o vira. Impávido e pouco sereno. Mas hirto e severo.
Mas desta vez era de vez. Ao olhar por cima do meu ombro terei talvez experimentado uma vivência de quase-morte. Um daqueles momentos em que, em segundos, viajamos e revemos uma vida a alta velocidade. Os altos, os baixos. Os amigos e os inimigos. Os feitos e as derrotas. As conquistas e os falhanços. Uma experiência de quase-morte diferente somente por anteceder uma nova vida que se segue à que naquele momento terminou. Viajei num vórtex de sentimentos e sensações durante o tempo que demorei a fazer uma inspiração mais prolongada de ar que sustive nos pulmões enquanto o meu interior gelava e prolongava aquele instante. Se me pedissem uma palavra para descrever aquele turbilhão talvez respondesse nostalgia. Mas uma palavra nunca chegaria. Era aquele sentido de trabalho acabado, sem remorsos. De missão cumprida na sua totalidade, sem qualquer tipo de arrependimento. De quem cresceu com o que viveu e soube retirar aquilo que precisava de tudo o que se atravessou no seu caminho. De quem está bem consigo e aceita tudo o que leva consigo e tudo o que, de consciência, optou por deixar ao longo do carreiro. Sim, acho que foi isso. Um grande sentimento de nostalgia mas sem saudade. Porque a saudade fica daquilo que se sente falta e já não se tem. Mas desta vez, o que lá deixo passará agora a ser passado porque já não me é necessário. E não o será por não ter mais lugar no meu presente. Porque o que me é de facto necessário continuará comigo, mais ou menos perto. Porque essas coisas continuarão e manterão de forma ténue aquele sentimento perfeito de orgulho próprio pelo trabalho desenvolvido e as metas alcançadas. É por isso que não tenho medo de dizer adeus. Acabei.
É hoje. É agora.
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