segunda-feira, agosto 30, 2010

Amor

Amor. Que sabes tu dele para dele tão eloquentemente falares? Mostra-me como articulas essas palavras em ideias moldadas pelos teus lábios que mentem a verdade com que tentas os outros deleitar. Agora ouve-te a ti própria e ao tão sem sentido que declamas entre falsidades das quais te moves como gelo do fogo. Percebes agora o quão desnaturais e inconsequentes são as bolas de sabão que tentas fazer subir ao céu?

Amor. Que sabes tu do amor pelos outros para que com tanta ânsia o tentes ensinar a quem ainda se deixa enganar em te escutar? Como ousas ousar tanta ousadia quando o amor que usas e com o qual te pintas todos os dias não é mais que aquele que te serve a cada momento? O teu amor pelos outros é o amor que em primeiro te satisfaz. Aquele com o qual brincas ao belo sabor dos teus desejos carnais e mais arcaicos. Como uma criança que joga com um brinquedo e tão cedo se farta por querer o alheio. Só porque apetece. E dá mais prazer.

Amor. Que sabes tu sobre o que é ter e fazer crescer um amor se contigo ele nunca passa de uma erva bravia e daninha que é sempre rasteira e só tenta abafar quem acima dela tenta crescer? Tens a boca demasiado suja para que as frases devessem ter permissão a soar, tamanha é a traição, a insensibilidade e a morte de espírito que causas a quem se enrola no teu "amo-te" frio em busca de um conforto inexistente. Mas tu sabes o que é o amor. O amor pelo teu próprio ser. Aquele amor narcisista que tem o dom de preencher os outros de um vazio só menor que a tua plenitude que com ele alcanças. O qual bebes como sangue que te alimenta como só de isso dependesses.

Amor. Que sabes tu como o dar se obrigaste todos a de ti o tirarem? Olha à tua volta e não te lamentes pela ausência de presenças que te abram os braços e te acolham. Vê-se que lutas desesperadamente, em constante fuga para um lugar em que julgas fugir dos desamores que construíste para que novos voltes a erguer. Sem que tenhas que carregar aqueles olhos cravados na tua nuca e aquelas mãos apertadas na tua garganta a tentarem fazer escoar aos poucos a réstia de esperança e de sentimento de superioridade que a vida teimosamente ainda te dá.

Estás longe desse lugar... Tão longe...