Todos os que me conhecem dizem frequentemente que sou pessimista. Fatalista. Exagerado. Na verdade eu dou-lhe outro nome: realista.
Uma pessoa pessimista é aquela que vê o mal em tudo. Nada está certo. Tudo está errado. Nada corre bem. É uma pessoa negativa, que só vê negro em todo o lado. Talvez por isso possam dizer que sou pessimista, porque, em grande parte, também eu vejo assim as coisas. No entanto o pessimista difere do realista num determinado ponto: quase nunca tem razão.
O realista é aquele que, simplesmente, vê a realidade. Quer seja boa ou má. Mas o facto de a realidade ser maioritariamente má faz com que estes dois tipos de encarar a vida se toquem largamente.
Eu sou realista. Eu não sou pessimista. Caramba, eu também sei ver as (poucas) coisas boas que existem! E acreditem que lhes sei dar o devido valor, embora raramente o mostre. O problema é que, para quem conseguir abrir os olhos, o que nos cerca é quase tudo um cenário de uma encenação. Onde todos são actores que não representam o seu verdadeiro papel. Onde cada gesto está escrito no guião para agradar ao espectador. Resultado: quase nada é verdadeiro. E por mais que se tente, é muito difícil esconder mentiras, ocultar falsas verdades. É só isso que eu faço. Olhar para trás da cortina, das máscaras, dos papéis que cada um representa. E tentar ver o que está lá... Muitas vezes não gosto do que vejo. Quase sempre me arrepio do que não queria ou devia saber. E pior: tenho quase sempre razão. Parece que adivinho tudo o que de mau vai acontecer. Porque, afinal de contas, tudo tem lógica. E percebendo a lógica, facilmente se chega lá.
É bom ser assim? Talvez. Uma pessoa realista não é necessariamente infeliz. Nunca apanha desilusões e pode frequentemente ser positivamente surpreendida. Sabe quase sempre com o que conta. O que não é bom é ter sempre razão. Principalmente quando se vê o pior que há em cada um de nós (sim, porque a nossa natureza natural é ser mau, muito mau).
Não sabem o quanto eu gostava de estar errado em certas situações e em relação a algumas pessoas. De ser burro. De ser ignorante. De me deixar iludir por toda esta arte que é a vida. De ser mais inocente. Como uma criança. Apesar de não me queixar, acho que seria muito mais feliz. Porque o saber magoa.
Porque sou uma pessoa de palavra e as apostas são para se pagar...
4 comentários:
aí está o post que eu já andava a prever.. até tinha estranhado não ter aparecido antes. creio que temáticas mais importantes tenham surgido primeiro. muito bem.
o realismo é benéfico. o pessimismo adjacente não. é bom acordar de manha e saber com que cara nos apresentarmos à vida. é igualmente bom acordar e sorrir.. dar o beneficio da dúvida ao dia que desperta conosco. é por isso que "Uma pessoa realista não é necessariamente infeliz (...) e pode (...) ser positivamente surpreendida. o principio devia ser que, em todos os dias, surpresas boas nos surgiriam defronte.. e que as pessoas sao boas. ha que acreditar nisso.
mesmo que a tendencia geral seja inversa.. nao quer dizer que esteja correcta.
desta vez nao tivest razao.. *bjs
Às vezes não vale a pena continuar a acreditar numa mentira em que tropeçamos todos os dias...
Acredita... gostei de não ter razão.
Nao sei se as coisas são bem assim.Eu penso que somos todos realistas.Tem tudo a ver com a maneira como queres que essa realidade seja traduzida na tua vida.Por vezes,não a conseguimos iluminar, desviando-a do "negro" que disseste.A ideia do texto é boa.Há contudo, coisas que não me parecem "realistas": um realista, desilude-se. E o que magoa nao é o teu saber, é o que os outros fazem com ele.É bom ver a face de negra dos outros,previne desilusões...mas não as evita totalmente...
André
É verdade que a vida tem coisas boas e más e que realisticamente há que reconhecer tanto umas como outras. Mas a desilusão magoa, e falando como alguém que a sofreu na pele sob as mais variadas formas e feitios, reconheço que é preferível contar com o pior e ter depois aquela agradável surpresa que nos faz dar o dia como ganho. Ao menos assim poupa-se o miocárdio.
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