Recentemente cheguei a uma conclusão que assim à primeira ouvida, admito, soa um pouco mal. Mas não é por soar mal que deixa de ser verdade, principalmente no meio em que frequentemente me insiro. E a conclusão é tão simples quanto esta: para se ter amigos é preciso ter dinheiro.
A minha família, desde as gerações mais longínquas, nunca nadou em dinheiro. Só um dos meus quatro avós tirou mais do que a 4ª classe. Carpinteiros, metalúrgicos e costureiras. Os meus pais escolheram uma das profissões mais ingratas que hoje se pode ter, ou seja, são professores (não recebem nada de especial, têm um terço das férias dos alunos e têm que aturar e educar os filhos dos outros). Com este panorama, é lógico que nunca fui habituado a grandes excentricidades.
Quando entrei para o curso de Medicina, na saudosa FML, penetrei numa realidade completamente diferente, que já tinha tido o "prazer" de roçar ao de leve. Mais de metade dos meus colegas são pessoas que estão bem na vida. As profissões dos pais e os seus negócios assim o permitem. Até aqui tudo bem. Cada um tem aquilo com que nasce e para que trabalha. É justo. Mas é também aqui que surge o problema. Pessoas com mais posses fazem coisas que os de menos posses não podem. Simplesmente têm dinheiro para gastar nisso. Mas eu não tenho.
Como se sentiriam, estando na minha posição, se à vossa volta estivesse um grupo de pessoas que todas as semanas fala de todos os lugares do globo onde esteve, mostrando fotografias e esquecendo-se e pondo de parte aqueles que, como eu, tem o simples prazer de conhecer este cantinho a que chamamos Portugal? Desculpem mas eu não me sinto bem, quando todo o mundo fala de coisas que não me dizem respeito, estando eu a escassos centímetros do centro da conversa. Acho que é falta de consideração porque sempre me ensinaram que ser amigo, companheiro ou colega é deixar todos à vontade, não ignorar, integrar. Peço perdão se discordam ou se firo susceptibilidades. Sou assim como sou, não consigo fingir quando não estou bem e quando não gosto de algo...
É por isto que digo que para ter amigos é preciso ter dinheiro. Se eu o tivesse, também viajaria e aí poderia contar todas as viagens, brinquedos e acessórios que tivesse comprado. Poderia conversar e entrar nas vossas conversas. Mas não o tenho. E não pensem que tenho inveja. Caminhando por Portugal, também eu vi coisas que vocês nunca viram. E mesmo que também as tenham visto, com certeza não o viram da mesma maneira que eu (porque às vezes não basta ver... é também importante a maneira como se vê e isso parte de cada um). Conheci a perfeição em muitos cantos que vocês se calhar não sonham e que não encontram lá fora... Por isso não vos invejo. Porque quase sem me mexer, também eu conheci um mundo fascinante e repleto de beleza.
Talvez seja (também) pelo dinheiro que este não é o meu lugar no puzzle. Se calhar nem é este o meu puzzle. O meu será talvez um de 500 peças e não um de 10000. Será talvez num puzzle mais baratinho e acessível ao meu bolso.
8 comentários:
pela primeira vez.. sou forçada a nao concordar com o que escreves. é verdade que cada vez mais nos encontramos em meios que envolvem dinheiro, em que kuase tudo depende dele. poucas coisas sao as que escapam da "etiqueta" do preço.
..os amigos nao medem os zeros que o outro tem na sua conta. esses zeros nao fazem mais amigos, dos verdadeiros. porque sao apenas zeros.
Tens razão quando dizes que os zeros não fazem mais amigos. Os zeros servem para afastar aqueles que não os têm dos que frequente e discriminadamente lhes fazem referência. Ainda que inconscientemente e indirectamente. Os zeros servem para descontextualizar quem os tem a menos. Só isso.
Num ponto concordo plenamente ctg...os amigos são de facto para nos fazerem sentir bem e não completamente desinseridos, apesar das diferenças...Mas é sp bom k nc nos esqueçamos k amigo é akele k nos ouve e que está ali kd mais precisamos...a questão é: Será k os "endinheirados" tb n são capazes dixo? Afinal tds nós temos defeitos...Amo-te******************
Eu não concordo muito com o post.Há certas coisas que podem ser tornadas como verdadeiras.Há,sem dúvida, pessoas que se guiam pelo dinheiro.E nisso participam coisas como o amor, ou a amizade.No entanto,para quem é verdadeiro...penso que isso não se aplica.Tenho amigos com menos capacidades financeiras do que as minhas.Tenho muitos mais, com maiores capacidades.Eu não sou rico.Não sou pobre!Sou verdadeiro.Para os "ricos" e "pobres".É uma temática...complicada.Tanto dá para acreditar, como não.Mas, certamente tu saberás quem são os teus verdadeiros amigos, independentemente da cor e da densidade das notas que eles usam.Quanto aos outro...deixa-os contar sobre viagens e fotos.Assim também se apprende qualquer coisa!Não concordo muito, como já disse.Mas uma coisa gostei!Foi o facto de teres explicitado isso aqui.Isto é teu.Tu dizes o que quiseres.Como quiseres.Acho muito bem!
discordo totalmente que para ter amigos é preciso ter dinheiro, aliás se isso é uma condição para se ter amigos, então o caso está muito mal parado.
por outro lado concordo que essa realidade de que descreves é cada vez mais visível e certos lugares, certos sectores se estejam a tornar cada vez mais elitistas.
e essa imagem de elite, particularmente no sector da medicina tem-se vindo a acentuar, pelo menos é o que tenho vindo a observar, apesar de estar de fora. medicina tal como outros cursos superiores, hoje em dia, são encarados por muitos, à partida,como uma forma de ter dinheiro e estatuto social. e toda esta atitude e acaba por se reflectir na postura dos estudantes e de alguns profissionais, para com outros profissionais de saúde e mesmo para com os utentes dos serviços de saúde.
ser médico é mais que um estatuto, ou que ter muito dinheiro, ou que viajar (porque há sempre uns congressos nuns pontos do globo, à maneira),é muito mais.
e se desde já tens essa sensibilidade, espero que a ponhas em prática sempre na tua vida.
desculpa ter adulterado o conteúdo deste comentário, mas esta é uma situação que me revolta e que me incomoda,e não pude deixar de escrever aqui a minha "reclamação".
Se é verdade que algumas (bastantes) pessoas estão para o dinheiro como as moscas estão para o lixo, e se é também verdade que muita gente se aproveita deste efeito "magnético" do dinheiro para obter o que a sua personalidade não lhe pode dar, já não é totalmente correcto assentir que toda e qualquer pessoa com maior capacidade nesta área, que ainda por cima goste de fazer referência a tudo de bom que isso lhe trouxe, tem pretensões a ser mais que os outros. Em termos de amizade e relação com os outros, os cifrões não representam riqueza. E é por isso que toda a gente, podendo ou não ter cifrões, pode sempre ter amizades.
Quando digo que é preciso ter dinheiro para ter amigos não é com o intuito com que vocês estão a entender. Quando digo que é preciso ter dinheiro para ter amigos quero dizer que esse dinheiro seria a maneira de me integrar num meio onde o dinheiro esvoaça em cada pedaço de ar e que me afasta de quase todos os que me rodeiam. Eu não queria dinheiro para ter amigos. Longe disso (amigos é coisa que o dinheiro não compra). Eu só queria dinheiro para não me sentir à parte. Aliás... Eu só não me queria sentir à parte....
axo.. k já te tinha dito...
Mas tens mm um blog porreirinho;)
Fica bem!
Carlos Franclim
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