Arrasto-me, lentamente, sem destino...
Como uma simples pedra rolada,
Batida, esfolada, partida mil vezes
Pelas teimosas ondas constantes
Que não cessam nunca de me magoar.
Porquê tamanha tristeza que me assola?
De onde vem esta apatia que me invade?
Esqueço-me, apago-me, ignoro-me...
Talvez porque sentimentos tão maus
Acabam por ir dilacerando a minha existência.
Tento ser eu, só eu próprio!
Alegre, bem-disposto, radiante.
Penso que me tratam com sinceridade,
Que me compreendem e que me ajudam,
Que os outros também estão a ser eles...
Tudo mentiras, falsidades!
Oportunismo em cima de ganância,
Toda ela coberta por avareza...
Pés enormes e brutos sobre ovos pequenos,
Olhos revirados para si próprios!
Nunca aprendo: sou burro.
Só posso adorar estar e ser assim,
Abaixo, por abaixo, no fundo!
Sem vontade de me erguer de vez
E gritar tudo o que tenho em mim.
Não mudo porque não consigo,
Porque simplesmente não me deixam!
E ao fim de tanto penoso tempo
Continuo sem perceber porquê!...
Só gostava de saber porquê!
Sou excelente, até mesmo grandioso
(Só quando vos interessa...)
Reles, decrépito, inexistente
Por vezes (muitas vezes, por sinal).
Sou uma mera carta jogada quando convém...
Assim não vale mesmo a pena!
Ser-se aquilo que não se é
Não é um fardo carregável por todos...
Não confio em nada nem ninguém...
Apetece-me desistir por completo!
O problema deve ser meu...
Só pode ser meu todo ele,
Deste pseudo-projecto de pessoa que sou!
Detesto-me, odeio-me sem fim...
Enojo-me de mim próprio!
Porque nem sempre temos momentos mais racionais e porque às vezes o que escondemos e calcamos em nós tem que arranjar maneira de sair. Às vezes estamos mal. Acontece.
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