quinta-feira, novembro 23, 2006

Quando não consigo

Sempre que tento fazer algo (várias vezes) e não o consigo (várias vezes), acho que o caminho mais fácil é ir-me embora. Não que esta seja uma atitude de fugir ou desistir. Nada disso. É somente a consciencialização de que não dá. Não tenho capacidade. Não sou suficientemente bom. Ficar, tentar e errar de novo só dói mais, custa mais, mói mais... Nem sempre o melhor é insistir. "À primeira caem todos... À segunda cai quem quer..." À terceira caem os estúpidos...

quinta-feira, novembro 16, 2006

Nevoeiro


Uma das coisas que mais me atrai e fascina são aquelas imensas paredes de nevoeiro. Aquelas paredes que encontramos quando subimos aos cumes das nossas montanhas mais altas, quando nos perdemos nas nossas florestas ao amanhecer, quando mergulhamos ao fundo dos nossos mais íngremes vales. Atrai-me não conseguir ver nada para além delas, de poder não ser visto quando estou dentro delas. Apetece-me deambular, bem devagar, como quem se arrasta, para a companhia de uma delas. Para que me encharque até aos ossos e me gele e congele por completo. Para me fazer desaparecer, nem que seja por um bocado. É talvez isso que mais me cativa: a possibilidade de me evaporar com o nevoeiro. De ir e ficar ao mesmo tempo. Em todo o lado. Por todo o lado. Sem ninguém me prestar a mínima atenção. Partir para ver como seria tudo sem a minha presença. O que aconteceria às minhas coisas, aos meus lugares, às minhas pessoas. O que seriam as reacções das pessoas. Principalmente isso. Talvez hoje já as possa adivinhar. Talvez hoje não queira acreditar que aquilo que adivinho pudesse ser verdade. Conjecturas... Talvez saiba a quem faria falta, em quem me tornaria em lágrimas (por muito ou pouco tempo). Talvez saiba a quem não faria falta nenhuma, em quem me tornaria o nada do que sou já agora. Mas... isso são coisas que eu nunca saberei. Vivo com elas, para mim.
Fico à espera do meu nevoeiro. Fico à espera que ele me leve um dia. Num dia em que o sol nascerá gelado para sempre.

domingo, novembro 12, 2006

"O distinto"

O aço de uma aliança é somente a necessidade de se materializar e de se mostrar aquilo que, primeiramente, se deveria sentir e viver. A aliança é somente o resultado daquilo que o coração deve perceber. E assim sendo, terá necessariamente quer ser menos que um dedo que se estende ou um olhar que se conforta. O amor não está na exteriorização, mas na interiorização (em nós e no outro) de todos os pormenores (por mais estúpidos que pareçam) e que têm o maior dos significados por si só.
Depois há as palavras. Ou, como sempre me chamam a atenção, a maneira como dizemos essas palavras. A entoação, a oportunidade, o contexto em que elas nos fogem da boca. Não serão elas mais poderosas que qualquer arma que exista? Não são elas que fazem o impensável, que partem o inquebrável e juntam o que jamais se completaria? As palavras são tão tentadoras de se usarem e tão fáceis de ser mal usadas...
E o amor é isto tudo. Uma amálgama de sentimentos maiores ou menores, mais puros ou mais confusos. Uma amálgama de palavras que se dizem e se deixam por dizer, que se ouvem ou não se querem ouvir. O amor nada tem de parecido com aquele que nos fazem passar todos os dias. Belo, perfeito, carnal, eterno. O amor é tão simples quanto... sofrimento. Só ama quem sofre, quem chora, quem não dorme, quem não come. Antes de prazer, o amor dá sempre dor. Dá-nos depois necessidade, dependência. Algo que deixamos de saber se vem do coração ou da cabeça. Dos dois lados. De lado nenhum. O amor mata, mas acima de tudo fere. E não há que ter vergonha ou medo de o mostrar. Porque mostrar e cuidar das feridas que ele deixa é desde logo uma prova e uma mostra que ele existe. Uma prova talvez muito mais honesta que o aço de uma aliança. Porquê tentar esconder uma cicatriz que não existe? O amor sangra-nos e fá-lo-á sempre.