Sabe bem pegar num livro novo e começar a abri-lo à nossa maneira. A folhear cada pedaço de papel como nos apetece, a interpretar cada palavra de acordo com a nossa maneira de ser, a sonhar com a história que cada um deles contém. Histórias daquelas que não acabam, que percorrem livros com mais de 500 páginas e que ainda têm a capacidade de saltitar de volume em volume num caminho que se crê que vai sempre em frente.
Um livro deveria ser algo em que só se pega uma vez. Algo que só se larga porque a história chegou ao fim. E aí deveria ir para a prateleira. Para aquela mais alta, onde nunca mais ninguém lhe descansaria a vista em cima. Mas há sempre aquele dia em que, no meio de uma limpeza qualquer, se volta a encarar aquele objecto, já com a capa cheia de pó, com as páginas amarelas de tão velhas e dobradas e gastas de tão viradas. Se calhar é normal perder um pouco de tempo a voltar a olhá-lo, com alguma nostalgia, e reviver mentalmente tudo o que se viveu e sentiu quando se esteve no seu interior. Os pedaços de papel, as palavras e as histórias.
Há quem, arrebatado por essa nostalgia tão inconsciente e animal, se atreva a pegar naquele pedaço de passado e a voltar a lê-lo, mesmo que isso signifique largar um livro novinho que ainda há pouco se começara. E muitas vezes essa saudade dá somente lugar à desilusão por já se conhecer a velha trama de trás para a frente. De se saber como começa e, sobretudo, como acaba. Ou melhor, porque acaba. Descobre-se que aquele objecto já está completamente descoberto. Que não tem mais nada para descobrir. Está lido.
Tenta-se depois voltar ao livro novo, que com tanto cuidado se tinha tentado obter. Mas por capricho do livro, este muitas vezes deixa de abrir, ou se o faz, nunca mais vai contar a mesma história de antes.
5 comentários:
Lê um livro e esquece-o numa prateleira qualquer. Quando o voltares a abrir, a história ainda será a mesma? Será que o tempo que passou não escreveu alguma coisa de novo? O tempo não poderá ter apagado algo que não querias que lá estivesse? Talvez o facto de já o teres lido te faça olhar para as pequenas coisas, aquelas que achaste irrelevantes. As tais que podem ser tão importantes quando leres um livro novo.
Para se ler um livro correctamente, têm que se ter em atenção todos os pormenores. Desde o início.
lol. diz me uma primeira vez que tenha sido preenchida no seu esplendor de todos os pormenores possiveis. eu creio sinceramente que não as há.. quando pego num livro uma segunda vez, um livro que valha a pena, encontro sempre pequenas coisas que me fazem olhar para ele com um certo espanto de tao novo me parecer. elas já ali estavam antes. mas se calhar noutra altura disseram me assim. e agora soam me assado.
a perspectiva não poupa na sua evolução.
Uma primeira vez chega para que nos possamos aperceber de todos os pormenores possíveis. Desde que essa primeira vez seja suficientemente grande. Do tipo... para sempre.
os livros que tenho na prateleira li-os quase todos mais que uma vez. e de cada vez que leio, leio de maneira diferente ou porque a atenção redobra-se ou porque os meus olhos são outros já e vêm sempre coisas diferentes, pois usam sempre a lente do tempo para os decifrar.
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