quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Mini-saia

"As estatísticas são como as mini-saias: mostram muitas coisas, mas não mostram o que interessa."

Às vezes vale a pena levantarmo-nos às 7 da manhã para ir assistir a umas aulas teóricas de uma universidade qualquer, só para ouvir pérolas como estas.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Boneco de neve

Um boneco de neve é feito daquela coisa branca e fofa que costuma cair do céu... Como é que se chama mesmo? É isso! Neve!
Um boneco de neve é feito de neve que costuma cair quando o tempo está agreste e as nuvens pretas lá de cima choram lágrimas que gelam pelo caminho antes de chegarem a uma qualquer superfície onde possam repousar. Com as mãos protegidas por luvas, é normal fazerem-se duas bolas enormes, uma por cima da outra, simulando um corpo e uma cabeça. Dos lados do corpo, colocam-se dois galhos fracos como muitas das fraquezas que se têm quando as coisas não correm bem, mas com força para abraçarem tudo o que quiserem. À frente, ainda no corpo, vêm-se 2/3 botões que fecham um casaco que não se vê, invisível como o sofrimento que só uma atenção especial descobre. Ao pescoço, um cachecol quente como que a representar o sufoco que muitas dificuldades causam constantemente e às quais pode apetecer sucumbir. Na cabeça, a tradicional cenoura ocupa o lugar de todas as mentiras que se acumulam com o arrastar do relógio, num crescendo infindável. Os olhos, duas pedras, podem servir para serem arremessados contra um qualquer vidro onde eles próprios se vêem, só para negar esse sentido às vezes demasiado revelador. No topo, um gorro a proteger do frio que muitas vezes a solidão cria na mente e que se estende a todo o restante organismo.
E depois surge aquele dia feliz e alegre de sol. Aquele reconfortante calor. E o que acontece ao boneco de neve? Derrete! E para que serve agora? Para nada. Agora é uma enorme poça de água que se mistura com a terra onde estava assente para formar um insignificante monte de lama. Os galhos rebentam e criam árvores fortes a cujo topo quase ninguém chega. Os botões do casaco tornam-se órfãos do ser que os sustentava. O cachecol é já supérfluo para qualquer ocasião. A cenoura mirrou como se fosse possível esquecer todas as verdades que não se contaram. As pedras rolaram sobre si e perderam-se no chão de onde vieram. O gorro é recolhido numa gaveta com cuidado, para que, num outro momento de solidão, num dia frio de tempestade, possa vir a aquecer a cabeça do velho e usado boneco de neve. Do sempre eterno boneco de neve.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Importância

Só temos capacidade para perceber que algumas pessoas são importantes para nós quando nos afastamos delas. Tornam-se parte de nós quando temos saudades. Quando nos faltam. Se por um lado é na solidão que eu me encontro a mim mesmo, é também na solidão que eu começo a procurar os outros. As outras partes do meu eu.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Finalidade

Para mim, tudo o que existe tem um propósito. Bom ou mau. Reconfortante ou demolidor. Cada coisa que acontece tem necessariamente um fim...
Todas as letras são escritas para serem lidas. Mesmo que possam ser interpretadas da maneira errada.
Todas as músicas são compostas para serem ouvidas. Mesmo que possam ser desligadas a meio.
Todas as perguntas são postas para terem respostas. Mesmo que possam ser um mero "Não sei".

sábado, fevereiro 10, 2007

Dualidades

Disseram-me um dia que desempenho tão bem o papel de amigo quanto o papel de inimigo. Sinto-me elogiado por pensarem que faço tanta coisa bem feita.

Uma questão de tempo

Falhaste tão redondamente. Fizeste erros, para mim, tão infantis. Pormenores que não vou esquecer. Aliás: pormenores que eu vou fazer questão de me lembrar. Sei que o tempo encarregar-se-á de relevar essas pequenas coisas que eu vejo. Aquelas falhas nos alicerces das muitas paredes que, por isso, cairão. Reconforta-me saber que o tempo me dará razão. Apesar de querer estar errado...

Uma estrada

Quero um dia enveredar por uma estrada bem larga, que possa percorrer sozinho. E quando por lá for, quero olhar para trás, por cima do meu ombro, e ter consciência que tinha razão. Quero crer que abandonei tudo o que tinha para abandonar. Principalmente quem antes me abandonou.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Feitios

O principal problema do meu feitio de merda é não conseguir odiar minimamente as pessoas que eu adoro de verdade.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

O meu mundo

O meu mundo começa no meu quarto. No sítio onde tenho as minhas coisas arrumadas como eu quero. No sítio onde eu próprio me arrumo comodamente. É aqui que eu vivo e que a minha vida ganha vida. Livros, puzzles, espelhos... Tenho aqui tudo. Mas aquilo que guardo com mais afinco é a minha caixa de sapatos cheia de areia e areias. Areias que um dia foram pedrinhas. Pedrinhas que fizeram parte de enormes rochedos.
Gosto de, solenemente, abrir a tampa da caixa feita de cartão. Cartão muito pesado. Gosto de depois olhar lá para dentro e agarrar naquele pedaço de matéria que não é mais do que a suficiente para me encher uma mão fechada. Mão essa que com toda a raiva cuidadosa espalho ao longo do meu mar. Aquele que é feroz e se levanta gigantescamente sobre o imenso areal de quilómetros que eu acabo de estender. É nesse manto de grãos que ando muitas vezes. Descalço. Deixando os meus pés marcados na fusão de água e calhaus minúsculos do meu tamanho, que o próprio líquido se encarrega de apagar ou recolher, na ânsia de queimar a saudade que virá até que um novo pé se decalque. Aqui sinto gotas de oceano a espetarem-se na minha pele. Frias e aguçadas como... gotas de oceano. Que me rasgam o corpo. E que tão bem me fazem sentir...
Muitas vezes recolho-me na base de falésias enormes. Daquelas que tendem verticalmente para cima. Para um lugar onde, cá de baixo, vejo mãos e braços que me acenam e que se esticam na minha direcção. Membros que eu tento freneticamente agarrar, como se tivesse medo que o meu próprio mar me afogasse. Membros que eu de facto consigo agarrar, sempre com algum critério que às vezes eu próprio desconheço: mais robustos, mais despidos, mais básicos. Membros que penso agarrarem-me suspenso enquanto eu precisar de arranjar forças para eu próprio acabar de subir o que falta. Membros que por vezes me largam sem se preocuparem se caio de costas num colchão de penas ou numa estalagmite de ferro. Se sobrevivo ou me desfaço.
No topo da arriba, passeio no meu bosque. Por entre as minhas árvores. Sobre as minhas folhas. Debaixo dos meus ramos. Ombreio com troncos grossos que o meu corpo não abraça, tropeço nas suas raízes que os meus pés não reconhecem e esgueiro-me na escuridão que as suas copas impedem de ser penetrada brutalmente por qualquer fio de luz. E por onde quer que vá, é sempre à minha clareira que chego. Uma clareira escura. Preta. Onde não há bosque, nem árvores, nem folhas, nem raízes, nem ramos. Só terra. Molhada. Vazia. Infinita. Onde jaz uma sepultura. A sepultura das minhas coisas. A minha sepultura. Onde eu choro e recordo tudo o que enterrei. Onde talvez durma mais leve e mais acompanhado. Onde me (re)visito e me (re)completo.
À noite, quando volto, sei as ruas que dizem para eu percorrer. As ruas que eu não percorro. Atalho pelo caminho maior. Aquele que é estreito e ladeado por imensos edifícios enormes sem janelas. Edifícios sobre os quais eu ando e que cedem sempre ao meu peso. Que colapsam para dentro sob mim. Admiro os cartazes de publicidade, para mim sempre lunarmente brancos. Preenchidos à minha maneira para que me possam absorver para o seu interior, ganhando vida ao sabor do que me apetece. Sigo as vias com sinais proibidos. Não paro nos STOP's. Sigo contra o sentido de prioridade. Ignoro as passadeiras. Simplesmente faço os meus sinais e o meu trânsito. E é assim que chego com segurança, de novo, ao meu quarto. No sítio onde tenho as minhas coisas arrumadas como eu quero. No sítio onde eu próprio me vejo chegar comodamente.
Este é o meu mundo. Este sou eu.