Sossego. Percebo-te sagazmente em torno do solo que é meu. Sinto-te sobrevoar. Aproximas-te somente só. Roças sorrateira os meus cabelos. Sopras-me suavemente algo ao ouvido. Algo que sabes e que nada me diz. Suspendes a respiração... Um silêncio. Sagrado? Supostamente! Sussurras um novo zumbido de novo. Não entendo. São símbolos de um abecedário desconhecido. Não meu. Teu. Uns silvos bruscos. Horrendo. Horrível. Horripilante. Grotescamente rude. Gritos fortes que me rasgam qualquer esboço de reacção. Reduzem-me de forma macabra. A nada. A um resquício de trevas negras e tristes, tristemente ridicularizadas. Dás-me raiva. Raiva ruborizada por tudo o que me recordas e me relembras. "Rua!", apetece-me responder-te. Obrigar-te a correr aos tropeções. Rosnar-te algo ofensivo e mesquinho. Romper a direito o teu corpo e o teu ser quando ousam atravessar-se à minha frente e reter-me retirado do meu rumo. Redestruir o que não é para ser erguido. Erros.
Esbatido. Esgotado. Ansiando pelo sono solene. Desejoso de não sobreviver à superficialidade. Pessoas, situações. Segredos salvos com objectivo? Que objectivo?
Sabes... Nunca chegaste a ser o que deverias ter sido para ousar seres o que jamais serás. Regozijas-te demasiado por aquilo que apresentas e representas. Simples somas de zeros.
Este é o meu Atlas.O meu Atlas Deus que carrega o meu mundo. O meu Atlas que sofre por sonhos. O meu Atlas que, mesmo sofrendo por vezes, é feliz por sonhar.
terça-feira, março 25, 2008
segunda-feira, março 10, 2008
Depois de tu partires...
Agora à distância, parecem dois metros que se cruzaram numa estação e que, durante escassos segundos, partilharam as linhas lado a lado. Mãos que se deram fugazmente com tanta força. Que se partiram e estilhaçaram quando ambas se dirigiram cada uma para sua direcção. Dizias que gostavas dela. Da companhia dela. Agradeceste-lhe ao ouvido o ombro que sempre te deu e o pequeno lugar que reservou só para ti. Dizias sentir-te bem naquele mundo por ela construído para lá caber um mundo novo e entravas em pânico quando te lembravas que deixavas sempre demasiada massa do teu corpo (e principalmente da tua mente) fora da esfera que se tentava construir. Desculpavas-te. Às vezes. Sempre soubeste quando devias ter-lhe dito ou feito algo mais antes de abandonares a tempos aquela utopia. Juraste que estarias sempre parado naquela estação porque te sentias bem amparado. Porque sentias que era bom não estar sozinho naquela encruzilhada de somente dois sentidos e um único ponto de encontro. Porque precisavas de alguém para te ouvir, para te ver chorar e para rir contigo. Naquele instante. Tão apenas naquele instante. Alguém para quem a sua presença fosse um prazer, certamente passageiro. Sempre soubeste e disseste isso tudo. Foram sempre promessas de se deslocarem em sentidos paralelos ou pelo menos não tão perpendiculares. Mas ela cansou-se de se tentar laçar a ti. Com um nó bem apertado e adequado à vontade que tinha. Mas ela fartou-se. Fartou-se de esperar. De te esperar. E depois ela partiu. Ou talvez tenhas sido tu a partires e ela tenha ficado no mesmo sítio à espera de outra parceira. Argumentaste que nunca percebeste. És capaz de ter fingido não ter percebido. Pediste para ela te gritar e chamar de volta a uma razão que variava entre a suposta e a julgada. Mas o problema era exactamente esse. Ela já havia bradado tudo o que a voz lhe permitia. Tu é que não ouviste. És capaz de ter fingido não ter ouvido. Mas nessa altura, depois de tu partires, era já tarde demais...
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