Durante o dia sou capaz de controlar os pensamentos que tentam emergir na minha consciência. Escolho-os a dedo ou a juízo. Relego os complicados e não resolvidos para o mais profundo do meu ser. Reprimo-os e escondo-os para não sobrecarregar as minhas ideias e não complicar o eu já complicado. Durante o dia sei tudo o que me assoma o cérebro.
De noite perco essa capacidade. E perco-a de tal modo que a consigo inverter. De noite todos os meus sonhamentos são a imagem de tudo o que neguei quando estava acordado. Neles vivo o que gostaria de viver de dia mas que não consigo porque há assuntos complicados que não o deixam acontecer. Neles sinto o que já senti e deixei de sentir e que tenho saudades de sentir de novo. Parece tudo tão real, tudo tão como eu desejo. Mas são sonhos. Não existem. Não existem por serem tão bons. Não existem por serem tão grosseiramente irreais. Ah se eu pudesse vivê-los... Quero estes sonhos que tive, em que tudo é tão resolúvel e tão simples e tão directo e tão prático. E tão bom. Quero-os com tanta força que dói não os ter e dói querê-los.
É por isto que eu não gosto de dormir. Por não conseguir controlar os meus sonhamentos. Por eles me mostrarem aquilo que não quero enfrentar. Por eles me mostrarem aquilo que não posso ter. Por serem mentiras.
2 comentários:
Acho que todos, nalgum momento olhamos assim para os nossos "sonhamentos".
Mas, também acho que há alturas em que podemos fazer com que não sejam tão "grosseiramente irreais". Há alguns sonhamentos que, se estivermos dispostos a isso, podem passar para o lado acordado da vida e converterem-se em pensamentos reais. Podem não ser muitos e ser complicado, mas, há alguns em que é possível fazer-lhes essa transformação.
...Por vezes são assustadores...
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