Às vezes sinto-me sozinho. Quase que como abandonado. Se calhar mesmo abandonado. Por alguns, por muitos, por todos. Por ninguém. E quanto mais sozinho me sinto, quando estou no escuro e no silêncio, mais sons e mais luzes vislumbro. Sinais que mais sozinho me deixam. Pistas que me atiram para fora da rota que eu juro que via. Que estava lá desenhada tão nítida. Quente como as vozes que eu juro que ouvia. Que estavam lá faladas tão nítidas.
Não entendo porque me fazem viver na ponta do elástico. Ora me aproximam para aconchegar o desaconchego. Ora me repelem desdenhosamente como quem já não quer o que quis. Incomoda-me este movimento de yo-yo, quando jogam com a minha presença e as minhas acções sem autorização ou permissão de qualquer género. Sem procurações. Sobretudo quando o fio que me rola ao prazer de outrem está atado nas minhas costas. À revelia e cobardia. Onde os meus olhos não atingem o mínimo dos gestos que me subjugam e onde os meus gestos não atingem nenhum dos olhos que me fitam a nuca. À espera de me concederem uma machadada suave. De modo a que eu ressalte e não esteja muito tempo por perto. De modo a que eu rebata e fuja celeremente para longe.
Se calhar não existo. Devo ser invenção minha. Uma ilusão do eu para mim. Um holograma que só toma forma numa realidade que só eu conheço e que também não deve passar de fantasia. Daí talvez não existir para outros. Outros que vivem na realidade de serem reais entre eles num mundo demasiado real para mim. Um sonho ou um pesadelo. Uma memória. Algo que não se compadece com vida. Nem com a morte. Algo que fica eternamente naquele limbo a vegetar eternamente numa agonia indescritível. Num pesar e num penar demasiado longo. Incompreensível. Dispensável. Ignorável.
1 comentário:
Magnífico...tomara que não o tivesses escrito ou que não tivesses essa necessidade mas...Magnifíco sem dúvida...
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