No outro dia disse-se na aldeia que tinham visto o teu rapaz mais velho.
Imagino-te a entrar no café e a tirares a tua boina. Como quem te cumprimenta, contar-te-iam a história toda cheia de pormenores. Descreveriam o teu rapaz mais velho: como estava vestido, como andava de um lado para o outro. Como já tinha ar de homem com a barba crescida. Bem diferente do pequeno rapazola que todos se habituaram a ver entretido com os irmãos. Tu ouvirias tudo muito interessado. Afinal era o teu rapaz mais velho. Sorririas entre dois dedos de conversa e um café. E pegarias novamente na boina para fazeres o caminho de volta. Farias o percurso mais direito e menos pequeno. Muito maior. Por fora e principalmente por dentro. Talvez tivesses o passo acelerado. Mas não terias os teus tiques nervosos tão característicos, pois nessa altura não terias motivos para os ter.
Vejo-te a chegar ao portão do quintal. Vê-la-ias sentada no banco, com o sol de fim da tarde a aquecer-lhe o descanso e a fazer alguma coisa com duas agulhas e um fio de lã. E então dir-lhe-ias "Hoje viram o nosso rapaz mais velho". E aí sorririam os dois. Inchariam ambos um pouquinho de orgulho. E à noite, depois da sopa, contariam tudo novamente ao telefone. Fariam questão de falar os dois. Falariam com o vosso rapaz mais velho e dir-lhe-iam "Hoje contaram-nos que te viram". E aí o rapaz mais velho sorriria também. Acho que não saberia muito bem o que dizer. Era capaz de não dizer nada. Simplesmente porque ouvir aquilo já lhe era suficiente. Já seria tudo para ele.
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