sábado, novembro 03, 2007

Nada

Um cargueiro. É exactamente isso que tu és. Transportas mercadorias de um lado para outro. Entre continentes. Entre países. Entre cidades. Entre pessoas. Mercadorias que muitas vezes desconheces. Caixas cujo conteúdo ignoras. Bom ou mau, não é isso que te interessa. É o teu trabalho e sabes que o tens que fazer. De um lado para outro.
Como tudo, há portos e portos. Hoje chegaste cá. Chegaste a este sítio. A este sítio que eu acho que conheço e que tão estranho é para ti. Não me peças para que te explique alguma coisa. Eu percebo mas é-me impossível passá-lo a outros. Eu sei que não te sentes acolhido. Lançaste amarras como em outros lugares mas aqui elas não ficaram presas. Lançaste-as e a doca fugiu. Fugiu até que te queira apanhar. Até que ela tome essa decisão. Aqui é ela que manda. É ela que agarra quando quer, para largar quando nós menos quisermos. Quer queiras, quer não queiras... Aqui estarás sempre preso. Estarás preso a coisa nenhuma. A nada. Estarás preso ao nada.

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