quinta-feira, novembro 16, 2006

Nevoeiro


Uma das coisas que mais me atrai e fascina são aquelas imensas paredes de nevoeiro. Aquelas paredes que encontramos quando subimos aos cumes das nossas montanhas mais altas, quando nos perdemos nas nossas florestas ao amanhecer, quando mergulhamos ao fundo dos nossos mais íngremes vales. Atrai-me não conseguir ver nada para além delas, de poder não ser visto quando estou dentro delas. Apetece-me deambular, bem devagar, como quem se arrasta, para a companhia de uma delas. Para que me encharque até aos ossos e me gele e congele por completo. Para me fazer desaparecer, nem que seja por um bocado. É talvez isso que mais me cativa: a possibilidade de me evaporar com o nevoeiro. De ir e ficar ao mesmo tempo. Em todo o lado. Por todo o lado. Sem ninguém me prestar a mínima atenção. Partir para ver como seria tudo sem a minha presença. O que aconteceria às minhas coisas, aos meus lugares, às minhas pessoas. O que seriam as reacções das pessoas. Principalmente isso. Talvez hoje já as possa adivinhar. Talvez hoje não queira acreditar que aquilo que adivinho pudesse ser verdade. Conjecturas... Talvez saiba a quem faria falta, em quem me tornaria em lágrimas (por muito ou pouco tempo). Talvez saiba a quem não faria falta nenhuma, em quem me tornaria o nada do que sou já agora. Mas... isso são coisas que eu nunca saberei. Vivo com elas, para mim.
Fico à espera do meu nevoeiro. Fico à espera que ele me leve um dia. Num dia em que o sol nascerá gelado para sempre.

1 comentário:

AR disse...

"Num dia em que o sol nascerá gelado para sempre."

tanto de dramático, como de cativante.