segunda-feira, maio 29, 2006

Mais leve...

Quero que me dês um dia radiante. Com o céu limpo e com o sol a brilhar lá no alto. Calor. Muito calor. Quero que me dês um dia assim. Para que o possas destruir de seguida.

Para que eu possa ver chegar, ao longe, as nuvens escuras que eu adoro. Essas nuvens que se vão colocar à frente do sol que me queima. Vão tapá-lo, apagá-lo, destruí-lo. Acabando com o maldito calor que me derrete. Traz-me o frio de morte, de solidão. Gela tudo o que ouse mover-se lá fora. Enche de neve cada lugar e cada pessoa obscura que encontres. Tapa-as. Congela-me a alma e faz-me sentir como novo. Quero que essas nuvens escuras, pretas, comecem a chorar tudo aquilo que têm acumulado dentro delas. Deixa-me ver cada remorso cair como pedra cá em baixo. Levanta o vento para que todos estes sentimentos rodopiem no ar e voem muito e para longe. Mostra-me um vendaval grotesco que dispa todas as árvores do que as cobre. Que as deite mesmo para o chão. Onde tudo está ao mesmo nível. E por fim quero que o céu rebente de raiva. Que ruja e ilumine tudo até onde a minha vista alcance. Oferece-me um relâmpago que rasgue o ar sem piedade e queime tudo o que mereça ser queimado, aclarando tudo o que teima em se esconder. Não me negues o trovão que se segue. Esse barulho horroroso e terno que faz com que os valentes se escondam com medo. Como cobardes que na realidade são. Destrói-me o dia maravilhoso que me mostraste ao início. Detesto-o.

Quero que me satisfaças o desejo. Que me apagues o sol e o calor e me dês um dia maravilhoso com o céu colorido de breu, muita chuva, vento e trovoada. Porque é que gosto destes dias? Sinto que são eles que me "lavam", que me limpam de muita coisa. Que me deixam mais leve...

sábado, maio 27, 2006

Conclusão

Acontece porque somos completamente diferentes. Não completamente. Quase totalmente. Como duas circunferências tangentes num só ponto. Ponto esse que me permite ser apenas "uma voz". Talvez nem isso. Talvez algo lá perto, por defeito. Não posso esperar por mais. Iludi-me apesar de não o querer. Não passou o teste. Somos completamente diferentes. É essa a conclusão.

Fim...

domingo, maio 21, 2006

Impulso

Arrasto-me, lentamente, sem destino...
Como uma simples pedra rolada,
Batida, esfolada, partida mil vezes
Pelas teimosas ondas constantes
Que não cessam nunca de me magoar.

Porquê tamanha tristeza que me assola?
De onde vem esta apatia que me invade?
Esqueço-me, apago-me, ignoro-me...
Talvez porque sentimentos tão maus
Acabam por ir dilacerando a minha existência.

Tento ser eu, só eu próprio!
Alegre, bem-disposto, radiante.
Penso que me tratam com sinceridade,
Que me compreendem e que me ajudam,
Que os outros também estão a ser eles...

Tudo mentiras, falsidades!
Oportunismo em cima de ganância,
Toda ela coberta por avareza...
Pés enormes e brutos sobre ovos pequenos,
Olhos revirados para si próprios!

Nunca aprendo: sou burro.
Só posso adorar estar e ser assim,
Abaixo, por abaixo, no fundo!
Sem vontade de me erguer de vez
E gritar tudo o que tenho em mim.

Não mudo porque não consigo,
Porque simplesmente não me deixam!
E ao fim de tanto penoso tempo
Continuo sem perceber porquê!...
Só gostava de saber porquê!

Sou excelente, até mesmo grandioso
(Só quando vos interessa...)
Reles, decrépito, inexistente
Por vezes (muitas vezes, por sinal).
Sou uma mera carta jogada quando convém...

Assim não vale mesmo a pena!
Ser-se aquilo que não se é
Não é um fardo carregável por todos...
Não confio em nada nem ninguém...
Apetece-me desistir por completo!

O problema deve ser meu...
Só pode ser meu todo ele,
Deste pseudo-projecto de pessoa que sou!
Detesto-me, odeio-me sem fim...
Enojo-me de mim próprio!


Porque nem sempre temos momentos mais racionais e porque às vezes o que escondemos e calcamos em nós tem que arranjar maneira de sair. Às vezes estamos mal. Acontece.

quarta-feira, maio 17, 2006

Mais do que palavras

O Homem é preguiçoso. Umas pessoas mais, outras menos. Mas todos o são. E tu também. Não preciso que me digas ou escrevas nada. Até podes adornar com palavras bonitas e sentimentais todos os textos que te saem das mãos ou da boca. Não chega. Nunca chegará. Para mim serão sempre mentiras. Mentiras talvez não. Mas de certeza que não serão verdades. Porquê? Só porque o que eu quero é que faças, que mostres aquilo que eventualmente tenhas vontade de dizer. Quero menos palavras. Aliás, quero muito mais do que palavras. Quero gestos, expressões, acções. É claro que podes sempre dizer e escrever. Mas eu só vou acreditar quando vir. E sobretudo sentir.

segunda-feira, maio 08, 2006

A carne é fraca

Aceitar uma relação a dois é quase como assinar um daqueles contratos que têm, em rodapé, a letra 6, uma infinidade de "ses" e de premissas que é necessário cumprir ao milímetro. E uma dessas alíneas é sem dúvida a existência de respeito. Dos dois lados.
Existe muita gente (e hoje em dia cada vez mais) cuja carne é fraca. Muito fraca. E para estas pessoas, estas relações só têm um fim possível: para baixo. Perto do respectivo são tudo rosas. Longe dele é aquele arrastar e babar perante outros. Aquele insinuar como se fossem algo de apetecível. À procura de uma esmola que os faça sentir importantes. E nojentos. Sim, porque essas pessoas são nojentas. Porcas. Mentirosas. Falsas. Putas (a palavra é feminina, mas no contexto aplica-se a ambos os sexos) na verdadeira origem da palavra. Aliás, são piores que as putas porque essas admitem o que fazem. E não enganam ninguém nas costas.
Mas o mais hilariante de tudo isto é ver estas ditas pessoas ("cuja carne é fraca") a criticarem a fragilidade da carne dos outros. Realmente é muito bonito dizer "Eu não faria aquilo!", "Tanto contacto físico que eles têm! Eu nem a metade me atrevia!", "Andam assim agarrados e por fora têm namorado". Desculpem a minha ignorância, mas como é que alguém é capaz de dizer isto quando faz pior? Para a próxima vez em que pensarem abrir a boca para criticar lembrem-se que muito do que vocês, moralistas da treta, cospem para o ar, vai acabar por vos cair em cima. Tornando-se um bocadinho mais ridículos do que aquilo em que, com a vossa própria ajuda, se tornaram.

quarta-feira, maio 03, 2006

Não consigo

Por vezes até gostava de ser mais eu perante as pessoas. Algumas. De não jogar à defesa. De não apostar sempre no contra-ataque. Mas é mais forte do que eu. Simplesmente porque tenho medo. Tenho medo das pessoas. Porque há sempre pormenores que me fazem confusão. Que não encaixam na lógica que eu tento atribuir e ver em tudo. Que me impedem de arriscar a pôr o pé em falso. Sou assim. Fizeram-me assim. Cresci assim. Peço desculpa se esperavam mais de mim, mas de outra maneira não consigo.

terça-feira, maio 02, 2006

Vénia ao "rei"

Façam vénia ao vosso "rei". Verguem-se por quem sempre esperam e desesperam. Rebaixem-se por aquele que vos faz, cinicamente, sentir importantes todos os dias. Lambam o chão ao que se mete em todas as conversas para mostrar que é superior, que sabe, que domina. Que vos domina. Arrastem-se atrás dele como se pedissem esmola e se sentissem importantes por o conhecer. Destruam-se para lhe dar um sorriso mesmo que não vos apeteça. Sejam escravos, lacaios, vermes. Simplesmente sejam. Eu não sou.