quarta-feira, dezembro 31, 2008

2009

Já vão mais de 3 anos a escrever neste pequeno e enorme espaço. Tanta coisa aconteceu desde então. Muito começou, muito continuou e muito acabou. E continuar a escrever com tanto a acontecer à nossa volta não é fácil. Houve quem aqui se iniciasse. Houve quem pausasse. Houve quem parasse (temporariamente ou definitivamente). Houve quem desistisse. Houve os que avisaram e os que fugiram sem dizer nada. Houve até quem muito refilasse e se tivesse acabado por perder nas próprias discussões. Mas eu continuo aqui. Continuo como prometi a mim mesmo desde o primeiro post. Talvez agora um pouco menos assíduo que antigamente. Mas ainda assim assíduo. E é isso que eu prometo para 2009. Continuar a escrever com assiduidade. E com muito gosto. Sobre tudo o que me apetecer.

quinta-feira, dezembro 25, 2008

"E sinto que isso nos faz falta."

"Não temos conversado nada mesmo... É estranho. Chega a ser desconfortável. E sinto que isso nos faz falta."

Podia ter sido inventado, ser uma ilusão da memória ou simplesmente um sonho. Mas não foi. O choque e o espanto destas palavras não chegam para negar a sua existência. Chegam sim para uma crescente frustração e noção de incapacidade de tomar rumos. Para uma incredulidade demasiado repleta de raiva e tristeza. Principalmente tristeza.

A realidade é isto mesmo. A inconstância do presente, com reminiscências do passado e promessas falhadas no futuro.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Dramática

Sinto vontade de te retribuir o que me quiseste entregar. Aquilo que nunca chegaste a concretizar. Mas não o farei porque já não quero recebê-lo de ti. Nem tão pouco dá-lo de mim.

Pela primeira vez não me apetece escrever. Pela primeira vez não tenho nada para escrever. Pela primeira vez não vou escrever. Porquê? Para quê? Vou escrever sim. Sobre o que não sei. Mas sei sobre o que não vou escrever. Desta vez serei banal. Normal. Vulgar. Igual aos outros. Não haverá nada de especial. De transcendente. De diferente. Cada coisa no seu devido lugar. Nem acima, nem abaixo. Só no seu sítio. Finjamos então que é assim que tudo funciona. E ponhamos um sorriso parvo em todas as caras. Não é a vida um imenso teatro? Levantem a cortina que isto só já faz sentido num palco com uma plateia a aplaudir uma história que só pode existir na fantasia de uma peça. Dramática claro.

terça-feira, dezembro 09, 2008

Rapaz mais velho

No outro dia disse-se na aldeia que tinham visto o teu rapaz mais velho.

Imagino-te a entrar no café e a tirares a tua boina. Como quem te cumprimenta, contar-te-iam a história toda cheia de pormenores. Descreveriam o teu rapaz mais velho: como estava vestido, como andava de um lado para o outro. Como já tinha ar de homem com a barba crescida. Bem diferente do pequeno rapazola que todos se habituaram a ver entretido com os irmãos. Tu ouvirias tudo muito interessado. Afinal era o teu rapaz mais velho. Sorririas entre dois dedos de conversa e um café. E pegarias novamente na boina para fazeres o caminho de volta. Farias o percurso mais direito e menos pequeno. Muito maior. Por fora e principalmente por dentro. Talvez tivesses o passo acelerado. Mas não terias os teus tiques nervosos tão característicos, pois nessa altura não terias motivos para os ter.

Vejo-te a chegar ao portão do quintal. Vê-la-ias sentada no banco, com o sol de fim da tarde a aquecer-lhe o descanso e a fazer alguma coisa com duas agulhas e um fio de lã. E então dir-lhe-ias "Hoje viram o nosso rapaz mais velho". E aí sorririam os dois. Inchariam ambos um pouquinho de orgulho. E à noite, depois da sopa, contariam tudo novamente ao telefone. Fariam questão de falar os dois. Falariam com o vosso rapaz mais velho e dir-lhe-iam "Hoje contaram-nos que te viram". E aí o rapaz mais velho sorriria também. Acho que não saberia muito bem o que dizer. Era capaz de não dizer nada. Simplesmente porque ouvir aquilo já lhe era suficiente. Já seria tudo para ele.

sábado, novembro 22, 2008

Orgulho

Só quero ser alguém de quem tu possas ter imenso orgulho para o resto da tua vida. Simplesmente porque mereces aquilo em que me tornei.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Besta

Ainda bem que fazes questão de me lembrar todos os dias o quão besta és. Assim nunca corro o risco de me arrepender de te ter mandado à merda de vez.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Olhares

Gostava de ser cego só para ter uma razão para não te conseguir olhar. Mas não sou e, assim sendo, sou obrigado a reconhecer a minha incapacidade. Já não te consigo olhar directamente nos olhos. Tenho medo que os nossos olhares se cruzem e se fixem para além do tempo que dois olhares desconhecidos se cruzam. Tenho medo que os nossos olhares se (re)tornem demasiado conhecidos.
Não quero que vejas para lá dos meus olhos escuros e captes as minhas fraquezas e dificuldades. Não quero que entendas as razões que levam a que esses mesmos olhos por vezes turvem ou tenham vontade de turvar. Não quero que percebas, como percebias, para além daquilo que eu quero mostrar.
Mas também não quero ver o que está por trás das tuas pálpebras. A vida ou a morte que elas escondem. Não quero descobrir o novo marasmo de sentimentos e razões que te inunda o corpo. Não quero tornar-me familiarizado com o que quer que seja que eu consiga captar na tua retina.

Sempre falámos mais com o nosso corpo do que com a nossa voz. Sempre nos entendemos assim. Agora, tanto tempo depois, quero cortar todos os fios que possam ainda ligar as recordações que há. Não quero que os meus olhos voltem a ver-te desencadear processos e memórias demasiado complexas no meu cérebro. Agora a minha visão já não te conhece.

quinta-feira, outubro 23, 2008

Saber

Posso não saber tudo, mas garanto-vos que sei mais do que aquilo que vocês julgam que eu sei.

domingo, outubro 12, 2008

Culpa

Desta vez nenhum de vocês me pode apontar a mais pequena falha. Dei tudo o que tinha. Disponibilizei-me e fui sincero em tudo o que fiz e disse. Não errei um milímetro que fosse.

Desta vez todos vocês sugaram-me o sangue que me preenchia. De tal maneira que estou vazio por dentro e para fora. Têm tudo o que vos podia dar. Vocês agora decidem o que querem ou não.

Tive culpa no passado e ainda a tenho no presente. A partir de agora, a culpa será toda vossa.

sábado, outubro 04, 2008

Esquecimento

Dêem-me tempo. Preciso de me esquecer que vocês se esqueceram de mim.

quinta-feira, outubro 02, 2008

Tela

Na minha mente tenho uma imagem demasiado nítida. Um desenho bem vincado. Uma pintura perfeitamente minha.

Ao fundo uma falésia negra como o breu de uma noite escura. Xisto no seu estado mais bruto e animal. Sem qualquer correcção ou aperfeiçoamento. Irregular, farpado e ingrememente assustador. Cortante. Inescalável. Demasiado alto. Demasiados metros impossíveis de vencer e que se reduzem, em baixo, a um miserável e curto areal. Liso, nu e curto porque o mar assim o determina sem vontade mas com propósito. Sem marcas, conchas ou sinais de vida. Um manto que tapa outros tantos iguais a ele que se escondem sob o seu repouso. Um tapete cheio de nada e repleto de areia dispersa aleatoriamente de acordo com a vontade do vento que ruge escarpa abaixo em direcção ao mar. Que rasga o xisto tal como rasga a água até que eu o perca de vista. Fundindo-se em turbulências com o mar que enche todo o lado direito da minha visão. Não lhe sei a cor mas sei que é mar. Porque o seu cheiro está na tinta da tela e as suas gotas na palma da minha mão. Sei que tem ondas maiores que a falésia e que essas mesmas ondas rebentam com estrondo, partindo-se em estilhaços suaves nas suas próprias bases que encharcam a figura imponente e impenetrável ao centro de tudo.

Uma figura preta de cima a baixo. Um homem jovem e gasto, cujos 180 centímetros de altura e os poucos quilos de peso se encontram de costas para os meus olhos. Os sapatos são simples, nada brilhantes e de sola escassa. Os atacadores atados à pressa e já resvalados, arrastam-se soltos e apressadamente de forma milimétrica atrás do passo. Das calças apenas se adivinha a bainha em torno dos tornozelos, de tão escondidas que estão sob um sobretudo enorme e já ruço de toda a porcaria em que se roçou. É liso, moldado pelo ar em movimento que o empurra sem dó em direcção indefinida, e tem dois bolsos à altura da cintura que alojam as mãos esguias e desprovidas de qualquer músculo que as sustenha estoicamente erguidas contra qualquer tipo de força, por mais mínima que seja. A cor deste manto só encontra rival em toda o quadro na total ausência de cor do cabelo curto e cuidadosamente revoltado com o qual a sua gola alta e aberta se continua. A cara sei eu como é. Não preciso de a ver para a adivinhar. Velha e com a barba por fazer, não muito comprida. Suficientemente crescida para dar o ar de vagabundo despreocupado que gostava de cultivar perante os outros que não se interessavam por ele. Olhos vazios de alma que fitam a biqueira dos sapatos enquanto os pés alternam na posição de destaque do campo visual, destaque que nenhum ser alguma vez se dignou a conceder-lhe. Uma boca inexpressiva e fechada, guardando tudo o que todo o interior quer gritar de dor e agonia a todos os que o feriram. Uma expressão acabada, desiludida e resignada com a vida. Como o percebo? Não faço ideia. Não sei o que é uma expressão acabada, desiludida e resignada. Mas aquela era-o sem qualquer hesitação. Tal como a marcha. Decidida, embora cambaleante. Trôpega mas com destino. Tão leve que não marcava a areia. Tão forte que não se deixava levar pelo vento. Tão imponente que não era possível de ser arrastada com o mar. Tão ignorada que carregava este vulto, sem ninguém dar por isso, até ele se confundir com a falésia de xisto. Até só eu o ver e saber onde ele estava. Porque ainda é possível distinguir a sombra da escuridão.

quarta-feira, outubro 01, 2008

Carta

Durante os meses em que mal nos falámos, não foste só tu que tentaste arranjar alguma razão plausível para tudo o que aconteceu. Não foste só tu que ousaste pôr em causa coisas que muito provavelmente nenhum de nós deveria ter sequer imaginado em desacreditar. Faltou-nos talvez uma resposta do outro lado. Um sinal que sempre soubemos dar mas que, incompreensivelmente, desapareceu a dada altura.

Disseste-me que se pode ter devido tudo às nossas duas individualidades que embatem vezes demais e muitas vezes não da melhor ou mais agradável maneira. Sem dúvida. Vestimos demasiado bem o nosso próprio papel que o tempo nos foi consagrando, à medida que fomos batendo em inúmeras paredes por que cada um de nós passou. Temos a nossa própria maneira de estar, tremendamente forte e, a tempos, enormemente grande. É natural que choquemos. Não poderia estar mais de acordo contigo. Mas, para mim, faltam-nos também oportunidades de estarmos os dois a falar sem qualquer tipo de condicionante externa. Sem que tenhamos que cortar conversas devido à existência de plateia. Sem que tenhamos que estar constantemente atrás de um monitor de computador ou telemóvel. Talvez por isso, para mim, nos tenhamos perdido e afastado sem dar conta. Não sei se concordas ou achas que é completamente ao lado, mas sinto que perdemos a disponibilidade, o tempo e a importância que guardávamos um para o outro. Perdemos a capacidade de entender o outro. De eu te perguntar o que tinhas quando via à distância que estavas estranha. De tu me dares instintiva e silenciosamente a tua mão quando percebias que eu não estava bem. Se queremos que a nossa relação seja o que de melhor dela possamos tirar, talvez se torne muito importante (re)criar este espaço onde já nos entendemos tão bem.

Às vezes gosto de vasculhar os palavras que trocámos há muitos meses. Parece-me tudo tão longe, yet so real. Partilhámos tantas ideias, tantos esconderijos nossos. Ralhámos e afagámos a cabeça um do outro. Disseste-me coisas das mais puras e verdadeiras que eu alguma vez ouvi. Chegámos a perder noção das horas enquanto, como disseste na altura, fazíamos companhia um ao outro em noites frias, desacompanhadas ou mal dormidas. Não falhávamos tanto como agora. Lembrávamo-nos mais. Era capaz de te mostrar imensas coisas que me escreveste, tal como provavelmente tu também o conseguirias fazer, só para que conseguíssemos responder a este "Porquê?".

É provável que arranjássemos alguns motivos para além dos que primeiramente nos assolaram a mente. Talvez o tempo nos mostre onde nos derrotámos. Mas não acho que seja produtivo insistir agora. Afirmaste que tinhas muitas coisas para me dizer que não caberiam num pedaço de papel. Como te compreendo... As coisas hão de se ir acertando. Pelo menos espero que nunca mais voltem a ficar tão erradas. Não te vou negar que gostava muito de voltar atrás. Não para apagar alguma coisa do que se passou, porque isso deve ficar para que aprendamos. Gostava muito de voltar atrás "só" para ir buscar o que por lá ficou. Não te vou negar que tenho tremendas saudades dessa altura. Não sei se teremos essa capacidade de reconstruir o que quase ruiu... Acho que precisamos de acreditar: eu em ti e tu em mim. Eu acredito em ti.

quinta-feira, setembro 25, 2008

Definições V

Grupo ímpar aglomerado de pessoas onde uma delas está, invariavelmente, sempre a mais.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Elástico

Às vezes sinto-me sozinho. Quase que como abandonado. Se calhar mesmo abandonado. Por alguns, por muitos, por todos. Por ninguém. E quanto mais sozinho me sinto, quando estou no escuro e no silêncio, mais sons e mais luzes vislumbro. Sinais que mais sozinho me deixam. Pistas que me atiram para fora da rota que eu juro que via. Que estava lá desenhada tão nítida. Quente como as vozes que eu juro que ouvia. Que estavam lá faladas tão nítidas.
Não entendo porque me fazem viver na ponta do elástico. Ora me aproximam para aconchegar o desaconchego. Ora me repelem desdenhosamente como quem já não quer o que quis. Incomoda-me este movimento de yo-yo, quando jogam com a minha presença e as minhas acções sem autorização ou permissão de qualquer género. Sem procurações. Sobretudo quando o fio que me rola ao prazer de outrem está atado nas minhas costas. À revelia e cobardia. Onde os meus olhos não atingem o mínimo dos gestos que me subjugam e onde os meus gestos não atingem nenhum dos olhos que me fitam a nuca. À espera de me concederem uma machadada suave. De modo a que eu ressalte e não esteja muito tempo por perto. De modo a que eu rebata e fuja celeremente para longe.
Se calhar não existo. Devo ser invenção minha. Uma ilusão do eu para mim. Um holograma que só toma forma numa realidade que só eu conheço e que também não deve passar de fantasia. Daí talvez não existir para outros. Outros que vivem na realidade de serem reais entre eles num mundo demasiado real para mim. Um sonho ou um pesadelo. Uma memória. Algo que não se compadece com vida. Nem com a morte. Algo que fica eternamente naquele limbo a vegetar eternamente numa agonia indescritível. Num pesar e num penar demasiado longo. Incompreensível. Dispensável. Ignorável.

terça-feira, setembro 16, 2008

Felicidade

Acho que seria capaz de ser feliz sozinho. De viver o meu caminho sem companhia. Só comigo. A fazer aquilo que só eu gosto. Sem ter que justificar o que quer que seja, a quem quer que seja. Ser eu para mim próprio. Satisfazer tudo e somente o que eu quero.
Ah... como eu seria feliz! Tanto! Muito mesmo! A vontade com que às vezes anseio por esta solidão. Este deserto que me alimenta a alma vazia e o corpo sovado. Que imensa a raiva de não conseguir evaporar as amarras que teimam em me acorrentar, atar e prender a algo que ainda não atingi. A algo que talvez não tenha capacidade de atingir.

Mas vou tentar. Vou tentar dar-me uma oportunidade de viver com outros. Contigo e com eles. Só preciso de ter força para não desistir. Para não mudar de ideias. Só tenho que ser capaz. E vou sê-lo. Não me posso permitir o luxo de abandonar as janelas que quero abrir para mim. Isso não sou eu. Não sou assim. A minha felicidade talvez venha a ser mais difícil. Mas talvez venha a ser maior. E mais saborosa.

Fluido

Ontem voltaste a chorar... E isso foi algo que não me surpreendeu de todo. Especialmente por o teres feito num dia como este. Neste dia. É assim que tens agido há já largos anos. Quer estejas alegre ou destroçada. Radiante ou melancólica. Para ti isso já não interessa. Simplesmente choras. Porque sim. Mas eu conheço bem essas lágrimas. Quem mais, para além de mim, o poderia fazer? Só mesmo alguém que todos os dias anseia fervorosamente por esse teu fluido. Por que seques definitivamente.

domingo, setembro 07, 2008

Empate

Um empate a duas bolas no final dos noventa minutos. Será que alguém terá a coragem de resolver este jogo no prolongamento, de forma voluntária? Ou será preciso recorrer à lotaria das grandes penalidades?

sexta-feira, setembro 05, 2008

Desassossego

Há livros que só não são auto-biográficos porque houve alguém com dom e capacidade para o escrever em vez de nós. Alguém que escreveu sobre as nossas pessoas a pensar em si mesmo. Alguém que escreveu sobre a sua pessoa e que nos retratou sem nos conhecer.
Ainda bem que existem pessoas com talento na ponta do aparo.

sábado, agosto 16, 2008

Sonhamentos

Durante o dia sou capaz de controlar os pensamentos que tentam emergir na minha consciência. Escolho-os a dedo ou a juízo. Relego os complicados e não resolvidos para o mais profundo do meu ser. Reprimo-os e escondo-os para não sobrecarregar as minhas ideias e não complicar o eu já complicado. Durante o dia sei tudo o que me assoma o cérebro.

De noite perco essa capacidade. E perco-a de tal modo que a consigo inverter. De noite todos os meus sonhamentos são a imagem de tudo o que neguei quando estava acordado. Neles vivo o que gostaria de viver de dia mas que não consigo porque há assuntos complicados que não o deixam acontecer. Neles sinto o que já senti e deixei de sentir e que tenho saudades de sentir de novo. Parece tudo tão real, tudo tão como eu desejo. Mas são sonhos. Não existem. Não existem por serem tão bons. Não existem por serem tão grosseiramente irreais. Ah se eu pudesse vivê-los... Quero estes sonhos que tive, em que tudo é tão resolúvel e tão simples e tão directo e tão prático. E tão bom. Quero-os com tanta força que dói não os ter e dói querê-los.

É por isto que eu não gosto de dormir. Por não conseguir controlar os meus sonhamentos. Por eles me mostrarem aquilo que não quero enfrentar. Por eles me mostrarem aquilo que não posso ter. Por serem mentiras.

Morto

Faz tempo que morreste. Mas, mesmo assim, guardo-te passados tantos meses. Estás escondido e protegido num qualquer canto da minha existência e lá descansas tal qual como quando faleceste. Estás igual. Não apodreces. Como que agarrado a um fio de esperança que eu já não vislumbro. À espera que talvez a ciência invente uma fórmula que te permita trazer de novo à vida.

Tenho dúvidas se esperarás tanto tempo por isso. Mesmo que esperes e voltes a viver, não sei até que ponto o teu caminho voltará a ser o do passado. O mundo lá fora não pára enquanto estamos além da realidade e demasiadas coisas acontecem enquanto nada podemos fazer. Terás pernas para voltar a andar? Terás olhos para voltar a ver? Terás mãos para voltar a agarrar? Terás coração para voltar a sentir? Por vezes tenho a certeza que não. Outras tenho vontade que sim. No meio disto tudo, sinceramente, já não sei...

terça-feira, julho 29, 2008

Às vezes

Por agora terminou. Finalmente.

Este ano foi demasiado difícil em comparação com o que eu estava à espera. Muitos contra-tempos e atrasos desnecessários. Recuos e passos à ré. Estúpidos, infantis e repetitivos. Internos e também (e principalmente) externos. Há jogos que por si só já são complicados. Mais complicados se tornam quando o árbitro, os adversários, o público e a própria equipa não colaboram no nosso sentido...

Mas acabo contente, em grande parte comigo mesmo. Apesar de ter começado algo cambaleante, orgulho-me de ter tomado decisões urgentes e necessárias na altura certa e de me ter mantido fiel a elas a partir de então. Ganhei no braço-de-ferro apesar de não ter força quase nenhuma para derrotar os adversários. Saí de cabeça erguida, postura firme e com plena consciência de que dei de mim o que podia e o melhor que conseguia produzir perante as circunstâncias que me foram propostas (ou impostas) por tudo o que me rodeia. E quando assim é... puta que pariu todos os problemas que se atravessaram na minha frente! Caramba... às vezes consigo ser mesmo bom.

quarta-feira, julho 16, 2008

Gosto I

Gosto dos teus olhos. Gosto da maneira como o verde deles sorri. Gosto do teu sorriso. E gosto também do teu riso. Gosto da expressão que mostras quando o fazes. Gosto das curvas com que ficas em torno da boca. Gosto da tua boca. Gosto de beijá-la. Gosto dos beijos que me dás. Gosto do teu jeito de criança. Gosto da ingenuidade com que encaras algumas coisas. Gosto do teu lado crescido. Gosto que saibas o que queres. Gosto quando dás tudo pelo que adoras e por quem adoras. Gosto do teu jeito de vestir. Gosto do teu jeito de te despires. Gosto do teu corpo. Gosto de como fazemos amor. Gosto de como fazemos sexo. Gosto de ver a tua escova de dentes ao lado da minha. Gosto de te abraçar. Não. Gosto quando nos abraçamos. Gosto quando brincamos. Gosto de falar a sério contigo. Gosto de te ouvir. Gosto dos teus conselhos e dos teus avisos. Gosto que tenhas razão. Gosto quando me surpreendes. Gosto das prendas que me dás. Gosto de como me apoias. Gosto de como me emendas. Gosto que me completes. Mas, acima de tudo, gosto de gostar de ti.

sexta-feira, junho 27, 2008

Ser

Contigo eu não teria de pensar como ser e o que ser. Tinha que simplesmente sê-lo. O mais natural possível... Devias ser das últimas pessoas a obrigar-me a ser aquilo que eu não sou.

Tempos

O tempo é humano. E é humano porque é totalmente feito por humanos. Mas também porque erra tanta vez. Erra para quem não o fez. Para quem não é dono daquele tempo específico. Imensos aqueles que não me pertencem. Que, geralmente, correm lenta e vagarosamente menos rápidos quando comparados com o meu tempo. Aquele que eu começo e conheço. Que se rege pelos meus princípios. E pelos de muitos outros que não os que se julgam Terra num sistema geocêntrico que não existe.


Mas mesmo os tempos intermináveis têm prazos de validade. Como tudo. O tempo estraga-se com o passar do tempo. Auto-consome-se. Implode sem fazer barulho e limpando tudo o que tem em volta. Como a fusão de um núcleo atómico. Um tempo cheio de mofo e verdete não é tempo que se apresente. A ninguém. Por respeito. Por consideração. Por o que quer que seja. Se é isso que me querem dar, então é isso mesmo que eu não quero. Prefiro abstinência temporal a tempos mal gastos.


Não quero esses tempos. Não gosto desses tempos.

quarta-feira, junho 11, 2008

Mensagem

Serias capaz, passados tantos anos, de escrever tudo o que vai em ti e que sempre ficou por me dizer? Terias habilidade de pegar numa caneta e desenhar o que só gestos seriam perfeitos para descrever? Há tanto que gostava de ter ouvido com a tua voz. Alguns pedidos, alguns sentimentos, alguns desejos. Gostava de ter ouvido isto e talvez mais, só para poder senti-los como senti tudo o resto que me passaste. Aquilo que sempre acreditei ser verdade.

A vida prega-nos enormes rasteiras. Armadilhas apetecíveis que nos atrasam no nosso percurso. Partiste muito atrasada. Sem dúvida. Mas não o suficiente para perderes de vez o teu tempo. Já recuperaste alguma coisa. Talvez o mais difícil. Agora é não desistir.

domingo, maio 18, 2008

Crescidos com saudades

Às vezes há situações que me fazem ter saudades de voltar a ter 15 anos. Nessa altura a maioria das coisas era tão mais fácil, tão mais sincera e tão mais melhor. No meio da nossa adolescência, parecia que nos conhecíamos a todos como as palmas das mãos de cada um de nós. Antecipávamos tudo de todos.
Hoje não sei até que ponto essa realidade era real. Provavelmente era verdadeira, quando mergulhada na inconsciência e despreocupação com que se vivia tudo. Se calhar era mais certo que fosse falsa, por não mostrarmos quem puramente éramos. E que culpa tínhamos nós, se a natureza ainda não nos tinha terminado de afinar?
Sim, tenho saudades. Muitas em determinados momentos. Quando comparo e quero o que era perfeito na altura. Mas não, não voltaria atrás para reviver tudo. Já passou. Tirei o que de bom e de mau havia a tirar. E agora estou aqui, melhor do que naquela altura. Todos seguiram os seus caminhos. Agora mais crescidos. Crescidos com as saudades que teremos sempre.

quarta-feira, maio 14, 2008

Definições IV

Triste vida um grupo de estudantes de medicina sentados a uma mesa do McDonald's incapaz de falar sobre um qualquer assunto que não seja medicina.

segunda-feira, abril 21, 2008

Descertezas

Por vezes é nos destroços da guerra ou no meio da cinza de um tremendo incêndio. É lá que se ganha a coragem para olhar em volta e recomeçar de novo. Na procura de um outro ponto de apoio ou um outro caminho dali para fora. Não é rara a ocasião em que a alternativa já lá se encontrava. Simplesmente não existia desastre que apelasse à nossa atenção. "Há males que chegam por bem". Talvez seja verdade. Há vida para além das nossas descertezas.

terça-feira, março 25, 2008

Aliterações

Sossego. Percebo-te sagazmente em torno do solo que é meu. Sinto-te sobrevoar. Aproximas-te somente só. Roças sorrateira os meus cabelos. Sopras-me suavemente algo ao ouvido. Algo que sabes e que nada me diz. Suspendes a respiração... Um silêncio. Sagrado? Supostamente! Sussurras um novo zumbido de novo. Não entendo. São símbolos de um abecedário desconhecido. Não meu. Teu. Uns silvos bruscos. Horrendo. Horrível. Horripilante. Grotescamente rude. Gritos fortes que me rasgam qualquer esboço de reacção. Reduzem-me de forma macabra. A nada. A um resquício de trevas negras e tristes, tristemente ridicularizadas. Dás-me raiva. Raiva ruborizada por tudo o que me recordas e me relembras. "Rua!", apetece-me responder-te. Obrigar-te a correr aos tropeções. Rosnar-te algo ofensivo e mesquinho. Romper a direito o teu corpo e o teu ser quando ousam atravessar-se à minha frente e reter-me retirado do meu rumo. Redestruir o que não é para ser erguido. Erros.

Esbatido. Esgotado. Ansiando pelo sono solene. Desejoso de não sobreviver à superficialidade. Pessoas, situações. Segredos salvos com objectivo? Que objectivo?

Sabes... Nunca chegaste a ser o que deverias ter sido para ousar seres o que jamais serás. Regozijas-te demasiado por aquilo que apresentas e representas. Simples somas de zeros.

segunda-feira, março 10, 2008

Depois de tu partires...

Agora à distância, parecem dois metros que se cruzaram numa estação e que, durante escassos segundos, partilharam as linhas lado a lado. Mãos que se deram fugazmente com tanta força. Que se partiram e estilhaçaram quando ambas se dirigiram cada uma para sua direcção. Dizias que gostavas dela. Da companhia dela. Agradeceste-lhe ao ouvido o ombro que sempre te deu e o pequeno lugar que reservou só para ti. Dizias sentir-te bem naquele mundo por ela construído para lá caber um mundo novo e entravas em pânico quando te lembravas que deixavas sempre demasiada massa do teu corpo (e principalmente da tua mente) fora da esfera que se tentava construir. Desculpavas-te. Às vezes. Sempre soubeste quando devias ter-lhe dito ou feito algo mais antes de abandonares a tempos aquela utopia. Juraste que estarias sempre parado naquela estação porque te sentias bem amparado. Porque sentias que era bom não estar sozinho naquela encruzilhada de somente dois sentidos e um único ponto de encontro. Porque precisavas de alguém para te ouvir, para te ver chorar e para rir contigo. Naquele instante. Tão apenas naquele instante. Alguém para quem a sua presença fosse um prazer, certamente passageiro. Sempre soubeste e disseste isso tudo. Foram sempre promessas de se deslocarem em sentidos paralelos ou pelo menos não tão perpendiculares. Mas ela cansou-se de se tentar laçar a ti. Com um nó bem apertado e adequado à vontade que tinha. Mas ela fartou-se. Fartou-se de esperar. De te esperar. E depois ela partiu. Ou talvez tenhas sido tu a partires e ela tenha ficado no mesmo sítio à espera de outra parceira. Argumentaste que nunca percebeste. És capaz de ter fingido não ter percebido. Pediste para ela te gritar e chamar de volta a uma razão que variava entre a suposta e a julgada. Mas o problema era exactamente esse. Ela já havia bradado tudo o que a voz lhe permitia. Tu é que não ouviste. És capaz de ter fingido não ter ouvido. Mas nessa altura, depois de tu partires, era já tarde demais...

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Pelo teu melhor

Sempre pensei que juntos, se tal fosse possível, faríamos o ser o humano perfeito. Teríamos, sob o meu (agora ingénuo) olhar, tudo para nos completarmos. Peças feitas à medida para formar daqueles puzzles admiráveis. Daqueles que só existem mesmo quando se juntam 2 indivíduos absolutamente distintos. O branco e o preto. O dia e a noite. O quente e o frio. Eu e tu.

Talvez tivesse sido assim nalgum período. Já não sei. Hoje tenho a certeza que tal não se passa. Simplesmente porque tens mais do que o que devias. Excedeste os limites exigidos pela mínima decência. Não pela minha, mas antes pela que é mais correcta. Erraste. E deste daqueles erros bem graves. Daqueles que pesam demais. Que marcam muito muita gente. E não pensaste nisso. Simplesmente fizeste. E pior que isso, deixaste-me com a tua asneira na mão. Para eu decidir o que fazer dela. O que fazer de ti...

Não sei... Talvez aja pelo teu melhor.

Naquele dia

Naquele dia consegui tudo. Bati todos, inclusive eu próprio. Superei-me. Às minhas capacidades e aos meus receios. Às minhas inseguranças em todos os campos. Disse para mim mesmo "Sim, vais fazê-lo!". E fi-lo. Virei as costas e fui em frente. Sem medo. Sei o que causei. Sei o que provoquei. Já tinha isso em mente quando dei o primeiro passo tímido antes do primeiro passo decidido. Há tanto para aprender. Há tanta gente para aprender. Naquele dia houve quem explodisse. Ou implodisse. Eu fiquei feliz. Feliz por não me interessar minimamente por qualquer outra coisa. Ou qualquer outro ser humano. Por sentir que naquele dia fui eu para mim. Só para mim. Lixei-me para os outros. De propósito. E senti-me bem. É realmente óptimo estar bem com os pecados que cometemos.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Sem escrita

Algo de errado se passa quando dou uma prenda a alguém sem escrever alguma coisa. Por mais pequena e simples que seja. Algo de mal se passa quando não sou capaz de dizer alguma coisa a alguém. Nessas alturas normalmente prefiro não dizer o que me apeteceria dizer. Aliás, não dizer nada para quem costuma dizer sempre alguma coisa, acaba por querer dizer muito.

Rir

Só já me dá para rir, tal não é a surrealidade de tudo isto. Não choro, não me chateio, não me aborreço. Só rio. Rio das disparidades de critérios. De vontades. Rio de gozo. De desprezo pelo desprezo. Ainda bem que há pessoas que agem sempre com dois pesos e duas medidas. Ainda bem que eu o vou começar a fazer também.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Tudo-Nada

Não compreendo porque é que se age como se nada se tivesse passado, quando tudo o que se passou foi tudo menos nada. Quando o nada que aconteceu, foi simplesmente o tudo que representa. Quando tudo o que se faz ou diz, é somente nada daquilo que se devia ter feito ou dito. Quando tudo me desilude. Quando já nada me espanta. Quando espero tudo que continuará a ser sempre nada.

Porque não se arranja um meio-termo? Que tal um tudo-nada perfeito?

Máquina

Há quem pense que sou uma máquina. Há quem pense que sou nada. Sei que não sou nenhuma das situações, principalmente a primeira. Canso-me e consumo-me como qualquer outra pessoa. Às vezes também me apetece desaparecer. Por um bocado. Deixar o tempo saltar sem que eu tenha consciência disso. Avançar e deixar algo para trás. Resolver coisas que não consigo resolver conscientemente. Que ao menos se resolvam enquanto viver nesse estado de entorpecimento em que vivo tudo mas não convivo nada. Só peço: por favor, deixem-me estar sossegado e não me incomodem mais.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Motivo aleatório

Pensei que a minha sorte me ia dar um motivo. Desejei com muita força que isso acontecesse... Mas não aconteceu.

Não vou ter saudades

Ainda não acabou e já sei que não gostei. Que não gosto. Muito menos que irei alguma vez gostar. Já sei que não vou ter saudades. De tudo. De todos. Não vou sentir aquela nostalgia de quem saboreou todos os momentos. Não vou sentir qualquer amargura por me atrever a pensar que poderia ter sido diferente. Foi o que tinha que ser. E o que tem que ser tem muita força. Não me arrependo de não ter perdido mais um minuto. Tenho a certeza que teria sido mais um minuto perdido. E a partir de agora vou-me tentar lembrar de me esquecer. Ou tentar esquecer de me lembrar. Mas não vou passar por cima disso. Vou passar ao lado. Completamente ao lado.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Inspira fundo...

Vão todos para o caralho que vos foda mais a merda da puta que vos pariu!

Pronto, já disse...

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Já não quero estar aqui

Falta-me um sorriso teu. De um ninguém qualquer. Um sorriso de quem sente o que eu sinto. De quem se sente como eu. Um mínimo gesto de emoção. Uma lágrima de orgulho por eu ganhar na tua derrota. Porque sim. Porque é isso que sai sem se pensar. Instintivo. Porque a felicidade dos alguns outros também tem de se completar com a minha. Falta-me perceber que eu existo em outras existências. Que faço sentido reflectido. Em algum lado, em alguma coisa... em alguém.

Já não quero estar aqui. Pensei, expressei, hesitei, acabei. Já não quero ser aqui.

-Me

Quero ser meu dono. Dizer que não quero mais. Quero poder querer o que me apetece. Perceber-me. Saber que chego lá mesmo antes de o conseguir. Quero ser eu enquanto não me perco do que sou. Dar-me valor e penitenciar-me. Abraçar-me. Ver a alegria de mim em mim. Pura. Quero ir-me para poder sempre regressar-me ao que encarno. Representar papéis de um teatro de sonho. O meu. Quero conhecer-me como só eu o faço. Quero ser um. Comigo. Vencer-me e derrotar-me constantemente. Superar-me. Quero controlar-me. Escolher-me. Decidir-me. Quero muito. Com muita força.

domingo, janeiro 13, 2008

Talvez não saibas...

Talvez não saibas mas desta vez disseste-o como nunca o tinhas feito antes. Eu ouvi-o e senti-o. E podes ter a certeza que foi grande.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Ano Novo

Depois de passada qualquer suposta euforia inerente ao abandono do ano antigo (se é que esta alguma vez existiu), aproveito para deixar aqui a minha promessa para o ano novo que agora começa...

Este ano vou-me preocupar e aborrecer menos com isso.