domingo, março 28, 2010

Quando formos grandes

Já imaginaste como tudo será quando formos grandes? Quando formos maiores e mais crescidos?

Será que ainda nos vamos conhecer? Ainda seremos capazes de trocar palavras de conforto, carinho e compreensão? Se nos afastarmos, teremos a habilidade de nos reconhecer por trás do tempo que passou? Teremos orgulho daquilo que cada um de nós se tornou? E daquilo que o outro se tornou? Ou será que nos envergonharemos perante todas as nossas esperanças e desejos actuais? Teremos sido capazes de corrigir os nossos defeitos ou simplesmente de os refinar mais? Encontraremos a nossa outra melhor metade com que sempre sonhámos? Será alguém hoje para nós um desconhecido ou aquela pessoa que sempre aqui esteve sem darmos pela sua presença e que futuramente será o brilho do nosso ser?

Quando formos grandes, teremos perdido a capacidade de chorar? Ou será que o continuaremos a fazer de cabeça erguida sempre que o peso da vida nos pesar demais? Teremos sarado feridas ou somente herdado mais cicatrizes de guerras que agora não descortinamos? Conseguiremos ainda sentarmo-nos lado a lado, reconhecendo a amizade do outro num simples encostar mútuo da cabeça no ombro que atraca ao lado? Teremos, ao invés disso, minado por completo qualquer réstia de ligação humana que existisse? Saberemos ouvir o silêncio que nos enche a alma quando está vazia, sem necessidade de clamar por ajuda? Quando fecharmos os olhos, ainda saberemos onde o outro está mesmo no escuro?

Saberemos saborear o prazer das pequenas coisas, mesmo que elas se repitam a ciclos? Ou conformar-nos-emos numa toca isolada, desesperando pelo crescimento caduco e nada perene? Seremos capazes de ainda procurar as pontes que nos unem e os vales que nos afastam, mas que todos juntos criam esta dualidade una? Ansiaremos sempre ainda por mais um pedaço de vida com o outro e com quem queira connosco degustar o tempo? Antes seremos derrotados por utópicas outras vidas que de nós florescerão e nos consumirão as atenções? Seremos vencidos pela gula e soberba de quem se deixou vencer a si próprio? Ou continuaremos a encontrar o caminho de volta a casa, por entre fragas e matas?

Agora, aqui, não sei se quero crescer. Não me urge o desconhecido quando o que tenho e tacteio me é tão real e tão seguro. Tão presente.


Já imaginaste como tudo será quando formos grandes? E quando formos grandes, será que continuaremos a lembrar do tempo em que éramos pequenos? Às vezes acho que o melhor seria ficarmos para sempre suspensos num marasmo que só nos prolongasse este momento melancólico que é poder partilhar este pensamento inventivo com alguém que não sabemos onde estará amanhã. Que talvez já não exista quando crescermos.