terça-feira, janeiro 31, 2006

Promessas

Não prometas... Pelo menos aquilo que já sabes que não vais fazer. Fica mal. Mais tarde ou mais cedo vou saber que, enquanto deverias estar a cumprir a promessa, estavas noutro mundo, a fazer outras coisas, a pensar em tudo menos no prometido.
Não justifiques. Eu entendo. A promessa foi só o adiar de algo que não gostavas nem querias fazer. Adiaste na esperança de esquecer. De eu me esquecer. E não será esse o papel principal das promessas? Não vou mentir. Custa-me que assim seja. Dizes "Eu prometo". E eu espero. Desespero. Desisto. Entristeço-me. Resigno-me.
Porque é que és assim? Porque é que são assim? Não prometas o que não queres fazer. Não prometas aquilo que virá sempre depois de tudo, ou seja, que nunca virá. Não prometas... Simplesmente não o faças. Da próxima vez diz simplesmente "Não vou fazer". Se assim for, também vou ficar triste. Mas não me iludo.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Tradução

Todas as línguas podem ser traduzidas umas nas outras, com mais ou menos dificuldade. Mas há muita coisa que se perde, principalmente nas entrelinhas, quando se tenta passar as palavras de país para país. É como a "saudade" do nosso português. Só nós, lusitanos, nos apercebemos do que se esfuma quando se escreve "I miss"... Não é o mesmo. Em inglês é tão mais frio...
Mas esta estrada de erro tem sem dúvida dois sentidos... Há também expressões inglesas que só fazem sentido em inglês. E dessas, a que mais gosto (ou que mais me marca e que mais sigo frequentemente) é uma que quase todos utilizamos: I'll forgive but I'll never forget. Precisa de tradução?

domingo, janeiro 15, 2006

Praia

Numa pequena praia deserta
Quatro pés passeiam lado a lado...
O mar, atrás deles como ladrão,
Estica-se, enrola-se, desliza,
Apagando as suaves pegadas
Que nós os dois deixamos atrás.

O sol, lá do alto, do longe,
Bate nas rochas, no oceano...
Nos nossos corpos também.
Do horizonte, como que com medo,
Uma brisa fresca e alegre
Mexe nos teus cabelos, como eu gosto.

Pego numa pedra, preta e lisa.
Atiro-a sobre a água, com força.
Salta uma, duas, três vezes...
Rimos juntos e tu dás-me um beijo.
Uma gaivota, só, voa sobre nós,
Indo até ao pôr-do-sol que já vê.

Sentamo-nos, bem agarrados.
Olhamos para o horizonte, lá ao fundo,
Entre o céu já com sono
E o mar que quer dormir.
O sol, uma bola de fogo laranja,
Desce e apaga-se na fria água abaixo.

Lá em cima, no azul estrelado,
Há agora uma esfera branca,
Uma lua cheia tão perfeita...
Um barco navega ao largo,
Numa imensidão teimosamente suave,
Tão teimosamente linda.

E o luar desce devagar, com calma,
Escorrendo no brilhante espelho salgado,
Vindo sorrateiramente até nós dois,
Tocar nos teus olhos verdes fechados
Que, cansados, adormeceram no meu ombro,
Esperando pelo novo amanhecer de amanhã.

terça-feira, janeiro 10, 2006

Vergonha...

Se algum erro existe em qualquer lado que tu possas imaginar, esse erro és tu. Tu mesma. Só tu. Da tua boca, em vez das coisas bonitas que os outros sempre esperaram (mesmo antes de me esperarem a mim) só saem aberrações. Facas com mil gumes que se espetam directamente onde os beijos deviam atracar.
Não são os outros que estão mal. És tu. Não és tu que não consegues viver com os outros. São os outros que não conseguem viver contigo. Não és tu que anseias pela liberdade (que aliás sempre tiveste, demais). São os outros que se querem evadir da Alcatraz que te tornaste.
Há muita gente que daria a tua inteligência por bem empregue. Para fazer algo de útil. Para ser alguém. Tu usa-la para nada. Pior. Tu usa-la para magoar os outros. Para não seres ninguém. Hei! Já viste a ironia...: até a utilizar a tua inteligência consegues ser estúpida.
Juro que um dia, pelo menos eu, não irei aguentar mais qualquer texto, frase, palavra, sílaba, letra que saia da tua boca. Qualquer vestígio de ar que saia tão venenoso como a víbora em que te tornaste. E aí juro fechar a minha mão numa bola de ossos, tendões e músculos e atirá-la dez, cem, mil vezes directamente à tua cara. Bem no meio dela. Tantas vezes quantas as necessárias para perceberes a quão injusta és para todos. O quão não mereces nada do que alguma vez tiveste ou venhas a ter. Juro fechar a mão e enterrá-la bem fundo na cara que devias ter vergonha em mostrar. Enterrá-la até conseguir ver o teu nariz na nuca. Mas... Se calhar é melhor não fazer isto. Mereces pior, não mereces? Sabes o que te farei então? NADA. Simplesmente o vazio. Ignoro-te. Se há coisa pior no mundo é não significar nada para ninguém. Nem bom nem mau. É ser-se um zero. Isso sim merecias. Mas infelizmente não dá. Haverá sempre algo que nos será superior... E em relação a isso é que não podemos fazer mesmo nada.

domingo, janeiro 01, 2006

Cavaleiro Andante

"Porque sou o Cavaleiro Andante
Que mora no teu livro de aventuras?
Podes vir chorar no meu peito
As mágoas e as desventuras.

Sempre que o vento te ralhe
E a chuva de Maio te molhe,
Sempre que o teu barco encalhe
E a vida passe e não te olhe.

Porque sou o cavaleiro andante
Que o teu velho medo inventou?
Podes vir chorar no meu peito
Pois sabes sempre onde estou...

Sempre que a rádio diga
Que a América roubou a lua
Ou que um louco te persiga
E te chame nomes na rua.

Porque sou o que chega e conta
Mentiras que te fazem feliz?
E tu vibras com histórias
De viagens que eu nunca fiz?

Podes vir chorar no meu peito
Longe de tudo o que é mau
Que eu vou estar sempre ao teu lado
No meu cavalo de pau..."

Mesmo nascendo de aventuras de livros, sendo criados por receios e momentos fracos, tendo vivido histórias inventadas ou montado um cavalo de pau, é sempre bom saber que somos o Cavaleiro Andante de alguém. De alguém que saberá sempre que pode contar connosco. Que saberá sempre que tem o nosso peito disponível. Que saberá sempre onde estaremos... Mesmo ao lado.