domingo, setembro 30, 2007

De novo

Vai começar de novo. Vai recomeçar outra vez. Não sei se será mais difícil ou mais fácil. Não me interessa. Sei, isso sim, que será diferente. Bem diferente... É bastante provável que vá sentir saudades (estranho seria se tal não acontecesse). Mas não quero que alguma coisa deixe de existir. Também não quero mais. Só quero o mesmo. Mesmo que seja de maneira diferente. É só disso que preciso. E da chuva que começa agora a cair. Oportuna. Quero essa água para me olear os gestos e as ambições. Os caminhos para as minhas metas e a lucidez para os meus desejos.

Quero voltar aqui, a este sítio, neste lugar. Quero regressar e dizer que estou cá de novo. Que estou cá outra vez. Tal como estou hoje. Mas talvez sem medo. Sim. Quero estar tal como estou hoje mas sem medo. Quero esse braço à volta do meu tronco. E essa boca encostada à minha... O resto sei que vem do beijo e com o beijo. Vou querer isto tudo tal como quero agora. Com muita força. Com muita certeza. Com muita esperança. Com muito sonhos. Contigo.

terça-feira, setembro 18, 2007

A língua das nossas mãos

Gosto de ver e perceber a linguagem das mãos. Acho que não há nada mais perfeito que o mover harmonioso de dez dedos para uma só finalidade. As mãos falam e dizem tanto mais do que as palavras que podemos proferir. E as mãos não mentem. Tantas vezes que o discurso é atraiçoado por um movimento subtil das falanges...

As tuas mãos são assim. Pequenas mas enormes. Gigantescamente enormes. São mais singelas que as minhas, mas abraçam-nas com uma facilidade que me espanta... Dizem-me muitas coisas. Dão-me calma, dão-me confiança. E, acima de tudo, dizem às minhas mãos que sabem o que elas estão a passar. Dizem às minhas mãos que as compreendem. Dizem que se tem que acreditar. Que se tem que lutar. Que há mãos que estarão ao nosso lado.

Às vezes nem eu próprio acredito no quanto me fazem falta umas mãos como as tuas. Às vezes sinto que quase caio se elas não me derem uma pequena palavra...

Um "passou-bem" de respeito para ti.

sábado, setembro 08, 2007

Aos bocados...

Hoje queria uma conversa, mas falta-me voz.
Hoje queria um abraço, mas faltam-me braços.
Hoje queria um pouco de calor, mas falta-me lenha.
Hoje queria um toque, mas falta-me tacto.
Hoje queria um beijo, mas falta-me boca.
Hoje queria uma emoção, mas falta-me coração.
Hoje queria uma alegria, mas falta-me sorriso.
Hoje queria uma miragem, mas faltam-me óculos.
Hoje queria um passeio, mas faltam-me pernas.
Hoje queria um sonho, mas falta-me sono.
Hoje queria uma sobremesa, mas falta-me apetite.
Hoje queria uma balada, mas falta-me ouvido.
Hoje queria-te a ti, mas falto-me eu.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Muralha

Aí estás tu de novo. Estás no local de onde teimaste nunca mais sair. Cabra! Não me olhes do cimo do que pensas ser a tua integridade. Não me gozes mais com esse teu ar de perfeição. Por favor. Por ti. Não sabes que tenho sempre razão?
Circundas-me. Rodeias-me. Cercas-me.
Tentei cavar por baixo das tuas mais profundas e podres catacumbas. Mas elas são tão profundas e tão podres que é impossível fugir sob tal peso. Tentei escalar-te as superfícies húmidas e viscosas para te passar por cima. Mas a tua humidade e o teu visco são tão imensos que só dão para me escorrer e escorregar de ti. Tentei inclusive aproveitar as tuas muitas brechas e os teus muitos buracos. Mas, por muitos que fossem, a tua espessura era demasiada para mim. Para o meu feitio.

Aqui estou eu. Pela primeira vez seguro de mim. Não totalmente, mas enfim seguro. Aqui estou eu à tua frente. Ergues-te alta, com as tuas imensas pedras rachadas e furadas, molhadas e cobertas de limo, que vão apodrecendo à medida que se afogam no pântano onde assentas. Desta vez é que vai ser. Desta vez é que é. Vou em frente. E vou-te passar. Atravessar. Passo firme. Recto. Rígido. Convencido. Jocoso... Só mais um... Já está.
Gostaste? Eu sei que não... Não percebeste? Eu explico-te: o que não existe fisicamente não pode prender alguém a lado algum.

Hoje ultrapassei-te. Tirei tudo o que tinha a tirar de ti. Espremi tudo o que me poderias dar. Hoje estás seca. Hoje não passas de um sonho. Uma ilusão. Uma memória.