É impressionante a capacidade que a nossa memória auditiva tem para nos fazer viajar no tempo. O que a simples audição de uma voz nos é capaz de trazer à cabeça, mesmo que estejamos de olhos fechados na mais profunda das escuridões. E em tão poucos segundos.
É impressionante a capacidade que a nossa memória olfactiva tem para nos levar para lugares e para junto de pessoas. Locais e pessoas que não vemos há bem mais tempo do que os meros segundos que é preciso para um perfume nos fazer associar tantas ideias.
É impressionante a capacidade que a nossa memória visual tem para que consigamos identificar coisas tão nossas, mesmo que muito mudadas. Olhar para além daquilo que está à nossa frente, juntando pequeninas peças gastas e flashes pouco claros, mas tão iguais como sempre.
É impressionante como estas memórias mais primitivas, mais animais, nos conseguem trazer tanto e tanta coisa. Como nos emergem aqueles pormenores que nos marcam e dos quais raramente nos lembramos: um tom de voz, um perfume ou um flash.
É impressionante a capacidade que a nossa memória cortical tem para que possamos associar as nossas decisões a muito mais para além das nossas memórias primitivas. A possibilidade que nos dá de juntar sentimentos tão mais complexos e característicos da nossa espécie. Coisas que mais nenhum ser sente.
É impressionante a capacidade que esta memória tem para, apesar de mais racional, por vezes se sobrepor a todas as outras. Porque às vezes tem que ser.
Este é o meu Atlas.O meu Atlas Deus que carrega o meu mundo. O meu Atlas que sofre por sonhos. O meu Atlas que, mesmo sofrendo por vezes, é feliz por sonhar.
sexta-feira, dezembro 15, 2006
Sonhar
Se eu pudesse escolher uma prenda de Natal para nós dois, era isto que eu escolheria: que continuasses sempre a sonhar. Sempre a acreditar nos teus sentimentos. Sem medo. Porque é isso que nos une: tu fazes-me sonhar o meu pensamento e eu faço-te pensar os teus sonhos. É através dessa tua capacidade que atingimos o nosso equilíbrio. Para além disso, gosto muito de ter ver sonhar. E gosto ainda mais quando o fazes com aquele sorriso de criança na cara. Aquele sorriso que diz que tudo é possível...
sexta-feira, dezembro 08, 2006
Há um ano...
Faz hoje um ano que decidi começar este espaço, tanto para mim mas também (e principalmente) para os outros. Sinto-me feliz por perceber que consigo encarar e levar este meu objectivo, de há tanto tempo, a sério. Faz-me bem ao ego. É verdade que estive também para desistir. Desistir por me faltarem motivos, vontade, fins. Imaginei-lhe conclusão (que não estará nunca esquecida). Mas ainda aqui estou e estarei por mais algum tempo...
Ao longo deste ano, percebi que os meus textos me ajudaram muito, principalmente no sentido de me mostrar aos outros. Sim, porque eu não sou só aquele ser carrancudo e fechado que normalmente todos vêem. Sei que o que escrevi me aproximou de algumas pessoas. Que algumas coisas me fizeram viver o passado. Que outras me fizeram dar um passo no futuro. Sei que não tive medo de ferir susceptibilidades. Sei que não tive medo de dizer que errei. Sei que também devo ter criado expectativas que provavelmente nunca cumprirei. Sei que talvez tenha servido para ajudar, dar um sorriso, estimular 2 minutos de reflexão ou simplesmente passar o tempo. E é por este pequeno retorno, que digo que valeu mesmo a pena.
Ao longo deste ano, percebi que os meus textos me ajudaram muito, principalmente no sentido de me mostrar aos outros. Sim, porque eu não sou só aquele ser carrancudo e fechado que normalmente todos vêem. Sei que o que escrevi me aproximou de algumas pessoas. Que algumas coisas me fizeram viver o passado. Que outras me fizeram dar um passo no futuro. Sei que não tive medo de ferir susceptibilidades. Sei que não tive medo de dizer que errei. Sei que também devo ter criado expectativas que provavelmente nunca cumprirei. Sei que talvez tenha servido para ajudar, dar um sorriso, estimular 2 minutos de reflexão ou simplesmente passar o tempo. E é por este pequeno retorno, que digo que valeu mesmo a pena.
quinta-feira, dezembro 07, 2006
Um lugar tão meu...
Gosto de me sentar mesmo à beira do paredão e deixar as minhas pernas suspensas sobre a água. Ou então simplesmente reclinar-me sobre um qualquer banco e deixar-me ficar. Este lugar chama-me, a mim e ao meu pensamento. Como se as ideias viessem com as pequenas ondas que se dirigem a mim, vindas de não sei onde. Ideias boas e más. Frequentemente más. Melhor: inquietantes. Arrepia-me sentir aquele vento característico. Aquele vento que é capaz de me atravessar a pele, os músculos, os ossos. Aquele vento que traz com ele aquele cheiro inconfundível a maresia. E que volta a sair. Vai mas não leva com ele os meus fantasmas. Nem ele nem as ondas que antes vinham e que agora se afastam para longe da minha vista. Já sei que o melhor não é esperar que algum destes agentes me ajude a levá-los. Sei que me devo deixar consumir com estas memórias e com as minhas preocupações. Pelo menos enquanto aqui estiver neste lugar que é de todos mas que acaba por ser tão meu. Não tenho medo da melancolia que se me assola. Deixo-a entrar. Enfrento-a. Custa mas alivia...
Quando aqui estou, parece que tudo o que está nas minhas costas deixa de existir. Sou eu e o mar. E tudo o que ele me dá e tudo o que ele não me tira. Já perdi pessoas aqui. Também já comecei a ganhar algumas neste lugar. Tive até o prazer de destruir outras num pequeno canto algures por perto. Será sempre algo demasiado simbólico para que me seja indiferente. Há quem diga que é um cenário perfeito, daqueles de quadros pintados com as mais bonitas cores. Eu não o vejo assim. Vejo-o de cores escuras, abafadas, presas. Um cenário demasiado deprimente. Demasiado revivalista. Odeio-o por gostar dele. Evito-o por precisar dele...
Ao fundo um barco passa no horizonte... Corta-o como me corta neste instante o rodopio que me invade a cabeça. Por hoje chega. Levanto-me e dirijo-me para o mundo nas minhas costas.
Quando aqui estou, parece que tudo o que está nas minhas costas deixa de existir. Sou eu e o mar. E tudo o que ele me dá e tudo o que ele não me tira. Já perdi pessoas aqui. Também já comecei a ganhar algumas neste lugar. Tive até o prazer de destruir outras num pequeno canto algures por perto. Será sempre algo demasiado simbólico para que me seja indiferente. Há quem diga que é um cenário perfeito, daqueles de quadros pintados com as mais bonitas cores. Eu não o vejo assim. Vejo-o de cores escuras, abafadas, presas. Um cenário demasiado deprimente. Demasiado revivalista. Odeio-o por gostar dele. Evito-o por precisar dele...
Ao fundo um barco passa no horizonte... Corta-o como me corta neste instante o rodopio que me invade a cabeça. Por hoje chega. Levanto-me e dirijo-me para o mundo nas minhas costas.
quinta-feira, novembro 23, 2006
Quando não consigo
Sempre que tento fazer algo (várias vezes) e não o consigo (várias vezes), acho que o caminho mais fácil é ir-me embora. Não que esta seja uma atitude de fugir ou desistir. Nada disso. É somente a consciencialização de que não dá. Não tenho capacidade. Não sou suficientemente bom. Ficar, tentar e errar de novo só dói mais, custa mais, mói mais... Nem sempre o melhor é insistir. "À primeira caem todos... À segunda cai quem quer..." À terceira caem os estúpidos...
quinta-feira, novembro 16, 2006
Nevoeiro
Uma das coisas que mais me atrai e fascina são aquelas imensas paredes de nevoeiro. Aquelas paredes que encontramos quando subimos aos cumes das nossas montanhas mais altas, quando nos perdemos nas nossas florestas ao amanhecer, quando mergulhamos ao fundo dos nossos mais íngremes vales. Atrai-me não conseguir ver nada para além delas, de poder não ser visto quando estou dentro delas. Apetece-me deambular, bem devagar, como quem se arrasta, para a companhia de uma delas. Para que me encharque até aos ossos e me gele e congele por completo. Para me fazer desaparecer, nem que seja por um bocado. É talvez isso que mais me cativa: a possibilidade de me evaporar com o nevoeiro. De ir e ficar ao mesmo tempo. Em todo o lado. Por todo o lado. Sem ninguém me prestar a mínima atenção. Partir para ver como seria tudo sem a minha presença. O que aconteceria às minhas coisas, aos meus lugares, às minhas pessoas. O que seriam as reacções das pessoas. Principalmente isso. Talvez hoje já as possa adivinhar. Talvez hoje não queira acreditar que aquilo que adivinho pudesse ser verdade. Conjecturas... Talvez saiba a quem faria falta, em quem me tornaria em lágrimas (por muito ou pouco tempo). Talvez saiba a quem não faria falta nenhuma, em quem me tornaria o nada do que sou já agora. Mas... isso são coisas que eu nunca saberei. Vivo com elas, para mim.
Fico à espera do meu nevoeiro. Fico à espera que ele me leve um dia. Num dia em que o sol nascerá gelado para sempre.
domingo, novembro 12, 2006
"O distinto"
O aço de uma aliança é somente a necessidade de se materializar e de se mostrar aquilo que, primeiramente, se deveria sentir e viver. A aliança é somente o resultado daquilo que o coração deve perceber. E assim sendo, terá necessariamente quer ser menos que um dedo que se estende ou um olhar que se conforta. O amor não está na exteriorização, mas na interiorização (em nós e no outro) de todos os pormenores (por mais estúpidos que pareçam) e que têm o maior dos significados por si só.
Depois há as palavras. Ou, como sempre me chamam a atenção, a maneira como dizemos essas palavras. A entoação, a oportunidade, o contexto em que elas nos fogem da boca. Não serão elas mais poderosas que qualquer arma que exista? Não são elas que fazem o impensável, que partem o inquebrável e juntam o que jamais se completaria? As palavras são tão tentadoras de se usarem e tão fáceis de ser mal usadas...
E o amor é isto tudo. Uma amálgama de sentimentos maiores ou menores, mais puros ou mais confusos. Uma amálgama de palavras que se dizem e se deixam por dizer, que se ouvem ou não se querem ouvir. O amor nada tem de parecido com aquele que nos fazem passar todos os dias. Belo, perfeito, carnal, eterno. O amor é tão simples quanto... sofrimento. Só ama quem sofre, quem chora, quem não dorme, quem não come. Antes de prazer, o amor dá sempre dor. Dá-nos depois necessidade, dependência. Algo que deixamos de saber se vem do coração ou da cabeça. Dos dois lados. De lado nenhum. O amor mata, mas acima de tudo fere. E não há que ter vergonha ou medo de o mostrar. Porque mostrar e cuidar das feridas que ele deixa é desde logo uma prova e uma mostra que ele existe. Uma prova talvez muito mais honesta que o aço de uma aliança. Porquê tentar esconder uma cicatriz que não existe? O amor sangra-nos e fá-lo-á sempre.
segunda-feira, outubro 30, 2006
Mais um
As peças de puzzle que normalmente existem possuem quatro lados muito bem esculpidos. Muito bem detalhados. Para que encaixem em sítios muito bem determinados. De uma forma perfeita. No entanto, as peças de puzzle que eu mais admiro são aquelas que, apesar disto tudo, conseguem sempre arranjar maneira para que outra peça se lhes ligue. Que conseguem arranjar só mais um lado. Por mais pequeno que seja.
sábado, outubro 21, 2006
Duelo
A vida não é fácil. Nunca o foi e nunca o será. Mas uma coisa é sabê-lo e outra, completamente diferente, é ter de encarar isso no dia-a-dia. E é quando não estou bem e grande parte das coisas me corre mal, que eu percebo o quão sozinho estou aqui. O quanto tenho de depender de mim mesmo, só de mim, apenas para mim. É nestas alturas que percebo que não estou nem sou de lado nenhum. Percebo que fico atrás e para trás. Porque é esse o resultado do meu feitio, daquilo que sou e mostro ser. Afastar os outros. Se quero e gostaria de mudar? Às vezes penso que sim. Melhor. Às vezes sinto que sim. É o "coração" que mo diz. Mas apesar de assim ser, a "cabeça" não me deixa. Porque, afinal de contas, é a minha maneira de ser (mesmo sabendo que por vezes é demasiado absurda) que me torna diferente de todos os outros, principalmente dos que cedem incessantemente às pressões do grupo, da sociedade, do mundo. É o meu feitio que me deixa ser único. Único à minha maneira.
Valerá a pena? Enquanto eu achar que sim, sei que tenho que suportar este gigante duelo de titãs que tenho em mim. Tenho que aguentar estóica e heroicamente o embate entre estes sentimentos fortes e puros de mais e este meu pensamento de ter vontade de controlar e decidir aquilo que quero ser. Tenho a missão inglória de aguentar o meu núcleo de lava incandescente debaixo de um imenso manto de gelo. Não posso deixar que o fogo vermelho se apague, mas também não vou permitir que o gelo branco derreta. Pelo menos enquanto tiver forças... Enquanto acreditar que pode existir um equilíbrio... Enquanto existirem fadas...
Valerá a pena? Enquanto eu achar que sim, sei que tenho que suportar este gigante duelo de titãs que tenho em mim. Tenho que aguentar estóica e heroicamente o embate entre estes sentimentos fortes e puros de mais e este meu pensamento de ter vontade de controlar e decidir aquilo que quero ser. Tenho a missão inglória de aguentar o meu núcleo de lava incandescente debaixo de um imenso manto de gelo. Não posso deixar que o fogo vermelho se apague, mas também não vou permitir que o gelo branco derreta. Pelo menos enquanto tiver forças... Enquanto acreditar que pode existir um equilíbrio... Enquanto existirem fadas...
terça-feira, outubro 10, 2006
Um mundo de peças
Imaginem um lugar imenso. Um espaço fechado do tamanho do mundo. Um mundo como o nosso. Imaginem esse sítio. Cheio de puzzles. Com as peças todas fora das caixas. Todas misturadas. Tudo junto. Grandes com pequenas. Com encaixes direitos ou tortos. A cores ou a preto e branco. Qual seria a probabilidade de tirar duas peças com características parecidas? Muito pequena. Mas imaginem que conseguiam. E agora... qual seria a probabilidade de essas mesmas duas peças pertencerem ao mesmo puzzle? Ainda é uma coisa remota, mas muito mais plausível. E qual seria a probabilidade de essas duas peças do mesmo puzzle encaixarem uma na outra? É claro que ia depender do tamanho do puzzle, mas é já uma coisa mais possível. Já agora, se essas peças encaixassem, qual seria a probabilidade de estarem viradas uma para a outra, com os lados certos? Cada uma tem que estar com o lado certo virado, ou seja, será algo do género: 1/4 vezes 1/4. 1/16 se não me falha a matemática. Comparada com a probabilidade do início, isto é quase um acontecimento certo...
Depois de se tirarem duas peças de puzzle de um mundo cheio delas e de se saber que têm as mesmas características, pertencem ao mesmo puzzle e podem encaixar, porque é que a porcaria das peças não conseguem ficar juntas?
Depois de se tirarem duas peças de puzzle de um mundo cheio delas e de se saber que têm as mesmas características, pertencem ao mesmo puzzle e podem encaixar, porque é que a porcaria das peças não conseguem ficar juntas?
quinta-feira, setembro 28, 2006
Passado presente
Se alguma vez me enganei tanto no carácter de alguém, essa vez foi contigo. Isto apesar de sempre ter tido tudo para acertar. Isto apesar de muitas pessoas sempre me terem mostrado que estava errado. Contigo sempre achei que era diferente. Que tu eras diferente. E acabaste por sê-lo...
Eras aquela a quem se pode chamar "melhor amiga". Sentia-o quase cegamente. Pensava vê-lo nos teus olhos quando falávamos, nas tuas palavras quando me completavas ou dizíamos o mesmo em simultâneo, no teu sorriso (supostamente) sincero, nos teus braços quando me cumprimentavas com um abraço.
Gostava muito de ti. Como não é possível gostar mais de um amigo. E um dos meus erros foi perceber isso tarde, foi procurar alguém para te substituir. Mas na vida, em qualquer situação, as pessoas não se podem trocar nos papéis que representam na vida de cada um. Se calhar por ter percebido isto tarde, magoei pessoas que conheci depois, só porque as queria iguais a ti. Como te conheci. Felizmente hoje já não é assim...
Quero acreditar que tudo o que passámos durante mais de dois anos foi verdadeiro. Que rias com vontade. Que desabafavas porque tinhas necessidade. Que choraste naquele dia porque ficaste triste. Não quero pôr isso em causa. Preciso de não pôr isso em causa.
No entanto, parece que te fui descobrindo (ou desmascarando?)... Não imaginas a desilusão que sofri quando percebi que os teus olhos verdes me escondiam mais do que aquilo que apenas reflectiam. Como pudeste dar lições de moral se eras tu que traías, ainda por cima várias vezes, as pessoas que gostavam de ti? Como pudeste abusar do teu poder e ficar com dinheiro destinado a outros que mais precisavam dele? E, acima de tudo, como pudeste ter a ousadia de negar tudo isto, principalmente sabendo que todos sabiam? Como é que alguém, com quem tanto aprendi, era afinal assim? Ainda hoje não sei se o que mais me chateia é o facto de afinal seres quem eu não pensava que eras ou se será o facto de eu não o ter percebido mais cedo. Mas a partir daí tomei noção que tinha de te dizer adeus... Mesmo que isso me custasse tanto como me custou. Mesmo que tivesse que chorar o que chorei. Não me arrependo. Tenho muita pena por ter tido que ser assim, mas não me arrependo. O que fizeste obrigou-me a isto. A minha maneira de ser obrigou-me a isto. Sei que te perdi. Não sei se perdeste alguma coisa. Mas sei que foi melhor para os dois.
... E sabes qual é a maior ironia? É que apesar de tudo o que se passou e de saber que jamais serei capaz de sequer te considerar uma conhecida, continuo a gostar de ti como sempre gostei.
Eras aquela a quem se pode chamar "melhor amiga". Sentia-o quase cegamente. Pensava vê-lo nos teus olhos quando falávamos, nas tuas palavras quando me completavas ou dizíamos o mesmo em simultâneo, no teu sorriso (supostamente) sincero, nos teus braços quando me cumprimentavas com um abraço.
Gostava muito de ti. Como não é possível gostar mais de um amigo. E um dos meus erros foi perceber isso tarde, foi procurar alguém para te substituir. Mas na vida, em qualquer situação, as pessoas não se podem trocar nos papéis que representam na vida de cada um. Se calhar por ter percebido isto tarde, magoei pessoas que conheci depois, só porque as queria iguais a ti. Como te conheci. Felizmente hoje já não é assim...
Quero acreditar que tudo o que passámos durante mais de dois anos foi verdadeiro. Que rias com vontade. Que desabafavas porque tinhas necessidade. Que choraste naquele dia porque ficaste triste. Não quero pôr isso em causa. Preciso de não pôr isso em causa.
No entanto, parece que te fui descobrindo (ou desmascarando?)... Não imaginas a desilusão que sofri quando percebi que os teus olhos verdes me escondiam mais do que aquilo que apenas reflectiam. Como pudeste dar lições de moral se eras tu que traías, ainda por cima várias vezes, as pessoas que gostavam de ti? Como pudeste abusar do teu poder e ficar com dinheiro destinado a outros que mais precisavam dele? E, acima de tudo, como pudeste ter a ousadia de negar tudo isto, principalmente sabendo que todos sabiam? Como é que alguém, com quem tanto aprendi, era afinal assim? Ainda hoje não sei se o que mais me chateia é o facto de afinal seres quem eu não pensava que eras ou se será o facto de eu não o ter percebido mais cedo. Mas a partir daí tomei noção que tinha de te dizer adeus... Mesmo que isso me custasse tanto como me custou. Mesmo que tivesse que chorar o que chorei. Não me arrependo. Tenho muita pena por ter tido que ser assim, mas não me arrependo. O que fizeste obrigou-me a isto. A minha maneira de ser obrigou-me a isto. Sei que te perdi. Não sei se perdeste alguma coisa. Mas sei que foi melhor para os dois.
... E sabes qual é a maior ironia? É que apesar de tudo o que se passou e de saber que jamais serei capaz de sequer te considerar uma conhecida, continuo a gostar de ti como sempre gostei.
domingo, setembro 17, 2006
terça-feira, setembro 12, 2006
Piano
Se há coisa que às vezes gosto e preciso é de me sentar ao teu colo. Ver-te abrir os lábios e mostrar esse teu sorriso enorme, certinho e brilhante. Sinto-me bem quando me sinto um contigo, quando as minhas mãos te agarram.
Sei que me conheces perfeitamente. Sei-o sem dúvidas. Na agressividade ou na suavidade com que falas, no tom mais ou menos alegre da tua voz. Tenho é pena de não te conhecer tão bem... Não me sobra tempo para poder descobrir os recantos de todos os teus cantos, as frases que poderias dizer se eu me esforçasse por isso, o aconchego ainda maior que me darias na solidão...
Nunca te vou perder. Porque não quero. Porque preciso de ti. Porque sei que, em todos os momentos em que estivermos juntos e depois eu te largar, vou estar muito mais leve. Muito melhor.
Sei que me conheces perfeitamente. Sei-o sem dúvidas. Na agressividade ou na suavidade com que falas, no tom mais ou menos alegre da tua voz. Tenho é pena de não te conhecer tão bem... Não me sobra tempo para poder descobrir os recantos de todos os teus cantos, as frases que poderias dizer se eu me esforçasse por isso, o aconchego ainda maior que me darias na solidão...
Nunca te vou perder. Porque não quero. Porque preciso de ti. Porque sei que, em todos os momentos em que estivermos juntos e depois eu te largar, vou estar muito mais leve. Muito melhor.
quinta-feira, agosto 10, 2006
Férias
Férias é coisa que existe em quase tudo na vida... Estou a precisar muito delas agora. Férias de tudo. Para fazer nada. Todo o tempo para desperdiçar. Puramente. Ser um zero.
terça-feira, julho 25, 2006
segunda-feira, julho 17, 2006
Traição
A traição é o caminho dos mais fracos. É deles porque é quase sempre o mais fácil de seguir, aquele em que não é preciso pensar. Aquele que é guiado pelos instintos mais animais, mais brutos, mais crus e mais cruéis que existem dentro das pessoas. E quando digo traição é em relação ao companheiro, mas também ao amigo... e a si próprio. A traição é dos egoístas, dos egocêntricos. Dos que não medem os efeitos e não pensam nos outros quando o fazem (pelo menos até o fazerem). Dos que só procuram a satisfação. A sua satisfação. É a via dos que não lutam por serem racionais e correctos. Verdadeiros. É daqueles que querem aproveitar tudo, sem olhar a meios. Ou quem pisam e magoam. A traição é de quem não assume compromissos, responsabilidades, regras, morais. É de quem quebra tudo isso porque quer. Porque naquele momento (tão frequentemente aclamado como de glória) era o que sabia melhor. É este o caminho que muitos arranjam coragem para tomar mas quase ninguém tem coragem de o assumir, de o mostrar a todos, de dizer "Eu fiz". É o caminho da tentação. Do pecado. Do erro. Do fim.
quarta-feira, julho 12, 2006
Como é possível?
Como é possível deixar que a boca beije a do companheiro(a) quando o cérebro está a beijar a boca de quem se ama?
27
Parece que foi ainda há pouco tempo que tudo começou entre nós. Que deixámos de ser desconhecidos um para o outro. Que deixámos preconceitos e ideias pré-feitas e nos entregámos completamente um ao outro. É lindo pensar que hoje em dia isso ainda é possível de acontecer. E mais lindo é quando nos apercebemos que isso pode acontecer com nós próprios. Quase que chega a ser sonho…
quinta-feira, julho 06, 2006
Uma vez
A vida é feita de momentos singulares. Momentos que são oportunidades, coisas, pessoas. E enquanto bússolas da nossa vida, cabe a nós optar pelos momentos que queremos viver. Qual a oportunidade ou a pessoa ou a coisa que queremos a dada altura. Qual a oportunidade que abdicamos por determinada coisa, que coisa pomos em causa por aquela pessoa, que pessoa deixamos para trás porque queremos esta oportunidade. No entanto temos que ter a noção de que a maioria das oportunidades só acontece uma vez. Tal como as outras coisas... e tal como as pessoas. Muitos desses momentos só acontecem uma vez (tens muita sorte se te cruzares com eles de novo...). E ao optarmos por uns, estamos a perder outros definitivamente. Para sempre. Oportunidades, coisas, pessoas. A vida é um jogo. Sempre o será. E o jogo está precisamente na capacidade de tentarmos adivinhar as melhores escolhas... para não nos arrependermos. Porque enquanto se ganham umas oportunidades, umas coisas e umas pessoas, há também oportunidades, coisas e pessoas que se perdem. Para sempre.
Let's play?
Let's play?
domingo, julho 02, 2006
sábado, julho 01, 2006
Melancolia
Hoje estou melancólico. Não sei. Esta altura do ano deixa-me sempre assim. Preciso falar mas nem sei bem do quê. Não tenho ninguém para o fazer. "Valores mais altos se levantam". Não estou a 100%. Falta-me algo. Ou tenho algo a mais. Uma pedra no sapato talvez. Uma pedra da qual não sei a cor, nem o tamanho. Se calhar nem lá está. Não sei. É tudo confuso. Preciso de uma peneira que me tire esta areia miúda, um aspirador para me livrar deste pó irritante. Ou de uma luz. Para me clarificar.
domingo, junho 25, 2006
Completamente feliz
A felicidade é sempre uma meta que qualquer um tenta atingir. Está na nossa natureza sentirmo-nos satisfeitos e essa satisfação passa obrigatoriamente por sermos felizes. E dá para sê-lo? Sim, claro. Mas nunca completamente. Porquê? Porque simplesmente nunca ninguém o conseguiu, consegue ou conseguirá. É daquelas coisas que todos sabemos mas que ninguém quer admitir. Acordem: é assim que funciona. E digo ainda mais: quanto mais se esforçarem e lutarem por atingirem essa felicidade suprema, mais longe estarão dela. Quanto mais correrem para a apanhar, mais pessoas vão ter que atropelar, passar por cima e empurrar para o lado. E tenham noção que algumas dessas pessoas são aquelas que gostam de vocês acima de tudo. E que, na realidade, vos fazem felizes. No final, a luta pelo "paraíso" vai acabar por vos levar para o "inferno", para a tristeza. Procurem a felicidade, mas não insistam muito. Sofrem menos e não perdem a vossa vida em busca de uma ilusão. Vão ver que o resultado é melhor.
quinta-feira, junho 22, 2006
Eu
Eu não sou mais nem menos que ninguém. Se me analisassem, veriam que sou feito de carbono, hidrogénio, oxigénio, azoto, cálcio, ferro, fósforo, magnésio e mais uns minerais pequenos. Tal como qualquer outra pessoa. Tenho alegrias como todos. Choro muito quando estou triste. Grito, salto, brigo, chateio-me. Vibro, supero-me, frustro-me. Sofro e vivo. Sou meramente normal. Talvez tenha é a capacidade de dar tudo (às vezes de mais) por aqueles que me fazem sentir bem, pelas pessoas de quem gosto. Estar sempre ao lado delas quando elas precisam. Dizer-lhes o que acho que é melhor para elas, seja bom ou mau. Para que nunca me fujam. Como sempre acontece.
terça-feira, junho 20, 2006
When you're down...
O tipo de pessoa que nos faz mais falta é aquele que não precisa de nos perguntar como estamos para o saber. Basta-lhe olhar e já está. É tão menos invasivo e tão mais reconfortante do que qualquer outra abordagem. São também essas as pessoas que não precisam de dizer nada para nos apoiarem de alguma maneira. Muitas vezes basta-lhes um gesto ou um toque. Sim, porque essas pequenas coisas também valem por (bem mais de) mil palavras. Obrigado amiga.
sábado, junho 03, 2006
Para vocês
Podia vir falar de mim. Mas não o vou fazer. Não faria sentido. E não faria porque eu não sou propriamente eu. Eu não sou mais do que o fruto de todas as pessoas que me rodearam e rodeiam, desde a minha parte genética à minha maneira de ser. Eu sou como sou porque essas pessoas existiram ou existem. Criei-me a partir das suas imagens, contra as suas imagens. Sou resultado das críticas destrutivas, dos elogios, dos exemplos (bons e maus), das pisadelas, das vitórias, das derrotas, dos sonhos, das desilusões, do amor, do ódio, das (in)amizades, dos silêncios, dos gritos, dos olhares, dos carinhos, das chapadas. Sou o vosso resultado.
Parabéns para vocês.
Parabéns para vocês.
segunda-feira, maio 29, 2006
Mais leve...
Quero que me dês um dia radiante. Com o céu limpo e com o sol a brilhar lá no alto. Calor. Muito calor. Quero que me dês um dia assim. Para que o possas destruir de seguida.
Para que eu possa ver chegar, ao longe, as nuvens escuras que eu adoro. Essas nuvens que se vão colocar à frente do sol que me queima. Vão tapá-lo, apagá-lo, destruí-lo. Acabando com o maldito calor que me derrete. Traz-me o frio de morte, de solidão. Gela tudo o que ouse mover-se lá fora. Enche de neve cada lugar e cada pessoa obscura que encontres. Tapa-as. Congela-me a alma e faz-me sentir como novo. Quero que essas nuvens escuras, pretas, comecem a chorar tudo aquilo que têm acumulado dentro delas. Deixa-me ver cada remorso cair como pedra cá em baixo. Levanta o vento para que todos estes sentimentos rodopiem no ar e voem muito e para longe. Mostra-me um vendaval grotesco que dispa todas as árvores do que as cobre. Que as deite mesmo para o chão. Onde tudo está ao mesmo nível. E por fim quero que o céu rebente de raiva. Que ruja e ilumine tudo até onde a minha vista alcance. Oferece-me um relâmpago que rasgue o ar sem piedade e queime tudo o que mereça ser queimado, aclarando tudo o que teima em se esconder. Não me negues o trovão que se segue. Esse barulho horroroso e terno que faz com que os valentes se escondam com medo. Como cobardes que na realidade são. Destrói-me o dia maravilhoso que me mostraste ao início. Detesto-o.
Quero que me satisfaças o desejo. Que me apagues o sol e o calor e me dês um dia maravilhoso com o céu colorido de breu, muita chuva, vento e trovoada. Porque é que gosto destes dias? Sinto que são eles que me "lavam", que me limpam de muita coisa. Que me deixam mais leve...
Para que eu possa ver chegar, ao longe, as nuvens escuras que eu adoro. Essas nuvens que se vão colocar à frente do sol que me queima. Vão tapá-lo, apagá-lo, destruí-lo. Acabando com o maldito calor que me derrete. Traz-me o frio de morte, de solidão. Gela tudo o que ouse mover-se lá fora. Enche de neve cada lugar e cada pessoa obscura que encontres. Tapa-as. Congela-me a alma e faz-me sentir como novo. Quero que essas nuvens escuras, pretas, comecem a chorar tudo aquilo que têm acumulado dentro delas. Deixa-me ver cada remorso cair como pedra cá em baixo. Levanta o vento para que todos estes sentimentos rodopiem no ar e voem muito e para longe. Mostra-me um vendaval grotesco que dispa todas as árvores do que as cobre. Que as deite mesmo para o chão. Onde tudo está ao mesmo nível. E por fim quero que o céu rebente de raiva. Que ruja e ilumine tudo até onde a minha vista alcance. Oferece-me um relâmpago que rasgue o ar sem piedade e queime tudo o que mereça ser queimado, aclarando tudo o que teima em se esconder. Não me negues o trovão que se segue. Esse barulho horroroso e terno que faz com que os valentes se escondam com medo. Como cobardes que na realidade são. Destrói-me o dia maravilhoso que me mostraste ao início. Detesto-o.
Quero que me satisfaças o desejo. Que me apagues o sol e o calor e me dês um dia maravilhoso com o céu colorido de breu, muita chuva, vento e trovoada. Porque é que gosto destes dias? Sinto que são eles que me "lavam", que me limpam de muita coisa. Que me deixam mais leve...
sábado, maio 27, 2006
Conclusão
Acontece porque somos completamente diferentes. Não completamente. Quase totalmente. Como duas circunferências tangentes num só ponto. Ponto esse que me permite ser apenas "uma voz". Talvez nem isso. Talvez algo lá perto, por defeito. Não posso esperar por mais. Iludi-me apesar de não o querer. Não passou o teste. Somos completamente diferentes. É essa a conclusão.
Fim...
Fim...
domingo, maio 21, 2006
Impulso
Arrasto-me, lentamente, sem destino...
Como uma simples pedra rolada,
Batida, esfolada, partida mil vezes
Pelas teimosas ondas constantes
Que não cessam nunca de me magoar.
Porquê tamanha tristeza que me assola?
De onde vem esta apatia que me invade?
Esqueço-me, apago-me, ignoro-me...
Talvez porque sentimentos tão maus
Acabam por ir dilacerando a minha existência.
Tento ser eu, só eu próprio!
Alegre, bem-disposto, radiante.
Penso que me tratam com sinceridade,
Que me compreendem e que me ajudam,
Que os outros também estão a ser eles...
Tudo mentiras, falsidades!
Oportunismo em cima de ganância,
Toda ela coberta por avareza...
Pés enormes e brutos sobre ovos pequenos,
Olhos revirados para si próprios!
Nunca aprendo: sou burro.
Só posso adorar estar e ser assim,
Abaixo, por abaixo, no fundo!
Sem vontade de me erguer de vez
E gritar tudo o que tenho em mim.
Não mudo porque não consigo,
Porque simplesmente não me deixam!
E ao fim de tanto penoso tempo
Continuo sem perceber porquê!...
Só gostava de saber porquê!
Sou excelente, até mesmo grandioso
(Só quando vos interessa...)
Reles, decrépito, inexistente
Por vezes (muitas vezes, por sinal).
Sou uma mera carta jogada quando convém...
Assim não vale mesmo a pena!
Ser-se aquilo que não se é
Não é um fardo carregável por todos...
Não confio em nada nem ninguém...
Apetece-me desistir por completo!
O problema deve ser meu...
Só pode ser meu todo ele,
Deste pseudo-projecto de pessoa que sou!
Detesto-me, odeio-me sem fim...
Enojo-me de mim próprio!
Porque nem sempre temos momentos mais racionais e porque às vezes o que escondemos e calcamos em nós tem que arranjar maneira de sair. Às vezes estamos mal. Acontece.
Como uma simples pedra rolada,
Batida, esfolada, partida mil vezes
Pelas teimosas ondas constantes
Que não cessam nunca de me magoar.
Porquê tamanha tristeza que me assola?
De onde vem esta apatia que me invade?
Esqueço-me, apago-me, ignoro-me...
Talvez porque sentimentos tão maus
Acabam por ir dilacerando a minha existência.
Tento ser eu, só eu próprio!
Alegre, bem-disposto, radiante.
Penso que me tratam com sinceridade,
Que me compreendem e que me ajudam,
Que os outros também estão a ser eles...
Tudo mentiras, falsidades!
Oportunismo em cima de ganância,
Toda ela coberta por avareza...
Pés enormes e brutos sobre ovos pequenos,
Olhos revirados para si próprios!
Nunca aprendo: sou burro.
Só posso adorar estar e ser assim,
Abaixo, por abaixo, no fundo!
Sem vontade de me erguer de vez
E gritar tudo o que tenho em mim.
Não mudo porque não consigo,
Porque simplesmente não me deixam!
E ao fim de tanto penoso tempo
Continuo sem perceber porquê!...
Só gostava de saber porquê!
Sou excelente, até mesmo grandioso
(Só quando vos interessa...)
Reles, decrépito, inexistente
Por vezes (muitas vezes, por sinal).
Sou uma mera carta jogada quando convém...
Assim não vale mesmo a pena!
Ser-se aquilo que não se é
Não é um fardo carregável por todos...
Não confio em nada nem ninguém...
Apetece-me desistir por completo!
O problema deve ser meu...
Só pode ser meu todo ele,
Deste pseudo-projecto de pessoa que sou!
Detesto-me, odeio-me sem fim...
Enojo-me de mim próprio!
Porque nem sempre temos momentos mais racionais e porque às vezes o que escondemos e calcamos em nós tem que arranjar maneira de sair. Às vezes estamos mal. Acontece.
quarta-feira, maio 17, 2006
Mais do que palavras
O Homem é preguiçoso. Umas pessoas mais, outras menos. Mas todos o são. E tu também. Não preciso que me digas ou escrevas nada. Até podes adornar com palavras bonitas e sentimentais todos os textos que te saem das mãos ou da boca. Não chega. Nunca chegará. Para mim serão sempre mentiras. Mentiras talvez não. Mas de certeza que não serão verdades. Porquê? Só porque o que eu quero é que faças, que mostres aquilo que eventualmente tenhas vontade de dizer. Quero menos palavras. Aliás, quero muito mais do que palavras. Quero gestos, expressões, acções. É claro que podes sempre dizer e escrever. Mas eu só vou acreditar quando vir. E sobretudo sentir.
segunda-feira, maio 08, 2006
A carne é fraca
Aceitar uma relação a dois é quase como assinar um daqueles contratos que têm, em rodapé, a letra 6, uma infinidade de "ses" e de premissas que é necessário cumprir ao milímetro. E uma dessas alíneas é sem dúvida a existência de respeito. Dos dois lados.
Existe muita gente (e hoje em dia cada vez mais) cuja carne é fraca. Muito fraca. E para estas pessoas, estas relações só têm um fim possível: para baixo. Perto do respectivo são tudo rosas. Longe dele é aquele arrastar e babar perante outros. Aquele insinuar como se fossem algo de apetecível. À procura de uma esmola que os faça sentir importantes. E nojentos. Sim, porque essas pessoas são nojentas. Porcas. Mentirosas. Falsas. Putas (a palavra é feminina, mas no contexto aplica-se a ambos os sexos) na verdadeira origem da palavra. Aliás, são piores que as putas porque essas admitem o que fazem. E não enganam ninguém nas costas.
Mas o mais hilariante de tudo isto é ver estas ditas pessoas ("cuja carne é fraca") a criticarem a fragilidade da carne dos outros. Realmente é muito bonito dizer "Eu não faria aquilo!", "Tanto contacto físico que eles têm! Eu nem a metade me atrevia!", "Andam assim agarrados e por fora têm namorado". Desculpem a minha ignorância, mas como é que alguém é capaz de dizer isto quando faz pior? Para a próxima vez em que pensarem abrir a boca para criticar lembrem-se que muito do que vocês, moralistas da treta, cospem para o ar, vai acabar por vos cair em cima. Tornando-se um bocadinho mais ridículos do que aquilo em que, com a vossa própria ajuda, se tornaram.
Existe muita gente (e hoje em dia cada vez mais) cuja carne é fraca. Muito fraca. E para estas pessoas, estas relações só têm um fim possível: para baixo. Perto do respectivo são tudo rosas. Longe dele é aquele arrastar e babar perante outros. Aquele insinuar como se fossem algo de apetecível. À procura de uma esmola que os faça sentir importantes. E nojentos. Sim, porque essas pessoas são nojentas. Porcas. Mentirosas. Falsas. Putas (a palavra é feminina, mas no contexto aplica-se a ambos os sexos) na verdadeira origem da palavra. Aliás, são piores que as putas porque essas admitem o que fazem. E não enganam ninguém nas costas.
Mas o mais hilariante de tudo isto é ver estas ditas pessoas ("cuja carne é fraca") a criticarem a fragilidade da carne dos outros. Realmente é muito bonito dizer "Eu não faria aquilo!", "Tanto contacto físico que eles têm! Eu nem a metade me atrevia!", "Andam assim agarrados e por fora têm namorado". Desculpem a minha ignorância, mas como é que alguém é capaz de dizer isto quando faz pior? Para a próxima vez em que pensarem abrir a boca para criticar lembrem-se que muito do que vocês, moralistas da treta, cospem para o ar, vai acabar por vos cair em cima. Tornando-se um bocadinho mais ridículos do que aquilo em que, com a vossa própria ajuda, se tornaram.
quarta-feira, maio 03, 2006
Não consigo
Por vezes até gostava de ser mais eu perante as pessoas. Algumas. De não jogar à defesa. De não apostar sempre no contra-ataque. Mas é mais forte do que eu. Simplesmente porque tenho medo. Tenho medo das pessoas. Porque há sempre pormenores que me fazem confusão. Que não encaixam na lógica que eu tento atribuir e ver em tudo. Que me impedem de arriscar a pôr o pé em falso. Sou assim. Fizeram-me assim. Cresci assim. Peço desculpa se esperavam mais de mim, mas de outra maneira não consigo.
terça-feira, maio 02, 2006
Vénia ao "rei"
Façam vénia ao vosso "rei". Verguem-se por quem sempre esperam e desesperam. Rebaixem-se por aquele que vos faz, cinicamente, sentir importantes todos os dias. Lambam o chão ao que se mete em todas as conversas para mostrar que é superior, que sabe, que domina. Que vos domina. Arrastem-se atrás dele como se pedissem esmola e se sentissem importantes por o conhecer. Destruam-se para lhe dar um sorriso mesmo que não vos apeteça. Sejam escravos, lacaios, vermes. Simplesmente sejam. Eu não sou.
domingo, abril 30, 2006
Sapo
A verdade é que eu nunca acreditei e sempre disse que, se acontecesse, não era merecido. E ainda o digo. O homem não percebe grande coisa daquilo mas acabou por se safar. Com muita sorte.
Entre um gatinho convencido com garras de borracha e um dragão um pouco chamuscado e aos trambolhões há muito tempo... Que venha de lá esse dragão! Queriam tudo? Não perdiam? Eram melhores? Foram piores, perderam e não ganharam nada. Sabem que mais? Engulam este sapo: o F. C. Porto é campeão.
Entre um gatinho convencido com garras de borracha e um dragão um pouco chamuscado e aos trambolhões há muito tempo... Que venha de lá esse dragão! Queriam tudo? Não perdiam? Eram melhores? Foram piores, perderam e não ganharam nada. Sabem que mais? Engulam este sapo: o F. C. Porto é campeão.
quarta-feira, abril 26, 2006
25 de Abril...
Quer o admitamos quer não ou quer a vejamos ou não, tudo o que acontece na vida tem uma lição para nos dar. Melhor ou pior, maior ou mais pequena. Tudo serve para aprendermos. Tudo acontece com um determinado propósito. Até mesmo a morte.
terça-feira, abril 18, 2006
Acontece...
O pior que pode existir é ver a pessoa que amamos com outro companheiro. Não. O pior que pode existir é ver a pessoa que amamos com outro companheiro e saber que, no passado, esse companheiro éramos nós. Não. O pior que pode existir é ver a pessoa que amamos com outro companheiro, saber que, no passado, esse companheiro éramos nós e que perdemos esse lugar por nossa culpa. Isso sim é o pior.
E é nessas situações que se mede a inteligência de cada um. O burro sofre, critica como quem diz que não presta e, apesar disso, continua a arrastar-se e a fazer e dizer tudo para que o impossível se volte a tornar realidade. O inteligente sofre e vai embora. Simplesmente. Só porque sabe que a culpa foi dele. E é este o destino que merece.
E é nessas situações que se mede a inteligência de cada um. O burro sofre, critica como quem diz que não presta e, apesar disso, continua a arrastar-se e a fazer e dizer tudo para que o impossível se volte a tornar realidade. O inteligente sofre e vai embora. Simplesmente. Só porque sabe que a culpa foi dele. E é este o destino que merece.
quinta-feira, abril 13, 2006
Prenda
Porque as melhores prendas não são as mais caras. Porque as melhores prendas não têm de ser alguma coisa em que as nossas mãos possam tocar ou os nossos olhos possam ver sempre que nos apeteça. Porque as melhores prendas não têm de ser grandes.
As melhores prendas são as que são surpresa, originais e simples. São as que não se esquecem. As que se têm para sempre na memória. As melhores prendas são aquelas que só tu me dás.
Obrigado pelas prendas, mas, principalmente, obrigado por estares ao meu lado há tanto tempo...
As melhores prendas são as que são surpresa, originais e simples. São as que não se esquecem. As que se têm para sempre na memória. As melhores prendas são aquelas que só tu me dás.
Obrigado pelas prendas, mas, principalmente, obrigado por estares ao meu lado há tanto tempo...
Tretas
Há muitas coisas que são bonitas de se dizer... Mas rara é aquela que passa da beleza para a verdade. E disso é exemplo o "ganhar ou perder é desporto". Desculpem? Há alguém para quem isto faça sentido? Desporto é ganhar, vencer, derrotar. Só isso. Há alguém que jogue para perder? Há alguém que tenha gosto em não levar os outros de vencidos? É impossível haver alguém assim. É claro que se pode aceitar uma derrota com naturalidade. Mas isso não quer dizer que, lá no fundo, não quiséssemos ganhar. Que não critiquemos tudo aquilo que tenha corrido mal e que nos tenha impedido de ser melhor que os outros. Porque esse é o único objectivo dos jogos.
Desporto é ganhar. O resto... bullshit.
Desporto é ganhar. O resto... bullshit.
quinta-feira, abril 06, 2006
Amigo da internet
Logo que nasci, tive aquele que foi até hoje o maior momento de sorte da minha vida. E é provável que a vida mo tenha dado em troca de algo. Algo que leva a que as pessoas raramente consigam manter uma conversa comigo. Mas só "cara à cara"...
Porque será que as pessoas não me confiam conversas quando estou frente a elas, numa situação que é sempre mais natural? Deve ser pela minha cara que é feia, pelo meu nariz que é enorme, pela minha voz que não é agradável, pela minha maneira de ser que não é nada lamecha e que dispensa o cumprimento dos outros com dois beijos ou um aperto de mão, pela minha natureza que é demasiado bruta. Se calhar não consigo falar. Se calhar não tem nada que ver com isto. Digam-me vocês porquê...
Porque será que as pessoas só me confiam conversas quando estamos escondidos atrás de um computador? Deve ser pela minha escrita que é melhor que o meu discurso, pela impessoalidade que toda a situação gera, pelas outras pessoas mais interessantes que existem quando se está no meio de um grupo. Se calhar só aqui atrás desta máquina é que sou útil. Se calhar não tem nada que ver com isto. Digam-me vocês porquê...
Uma coisa sei: sei que não sei porque isto acontece. Se calhar não é suposto saber... Mas, também, o que é que isso interessa? Como já muitas vezes ouvi, a ignorância é um dos maiores bens que se pode ter... Ignorante ou não, estarei sempre aqui a desempenhar o papel que a sociedade moderna de hoje me atribuiu: ser, simplesmente, o amigo da internet. O amigo que serve quando o "toque pessoal" não funciona.
Porque será que as pessoas não me confiam conversas quando estou frente a elas, numa situação que é sempre mais natural? Deve ser pela minha cara que é feia, pelo meu nariz que é enorme, pela minha voz que não é agradável, pela minha maneira de ser que não é nada lamecha e que dispensa o cumprimento dos outros com dois beijos ou um aperto de mão, pela minha natureza que é demasiado bruta. Se calhar não consigo falar. Se calhar não tem nada que ver com isto. Digam-me vocês porquê...
Porque será que as pessoas só me confiam conversas quando estamos escondidos atrás de um computador? Deve ser pela minha escrita que é melhor que o meu discurso, pela impessoalidade que toda a situação gera, pelas outras pessoas mais interessantes que existem quando se está no meio de um grupo. Se calhar só aqui atrás desta máquina é que sou útil. Se calhar não tem nada que ver com isto. Digam-me vocês porquê...
Uma coisa sei: sei que não sei porque isto acontece. Se calhar não é suposto saber... Mas, também, o que é que isso interessa? Como já muitas vezes ouvi, a ignorância é um dos maiores bens que se pode ter... Ignorante ou não, estarei sempre aqui a desempenhar o papel que a sociedade moderna de hoje me atribuiu: ser, simplesmente, o amigo da internet. O amigo que serve quando o "toque pessoal" não funciona.
domingo, abril 02, 2006
Sem medo
Houve tempos em que me detestava. Em que me enojava a mim próprio. Rejeitava-me por os outros me rejeitarem. Por ser demasiado diferente... Hoje não. Aprendi (porque me ensinaram) a dar-me valor. Posso não ser bom. Mas sou eu. Sempre tive valores, gostos e ideias que vão contra as maiorias. E quando se é pequeno nem sempre é fácil enfrentá-las. Mentira. É sempre difícil... Mas hoje já não sou criança.
Sou portista ferrenho. De esquerda. Melhor, bloquista. Gosto de música clássica e dos oldies do início e meados do século passado. Detesto sair à noite e enfiar-me numa discoteca rodeado de "estrangeiros" do meu mundo. Pouco bebo e jamais meti um cigarro na boca. Gosto de história e arqueologia e se sustentassem uma vida, era esse o meu futuro. Abomino a praia, o verão e o calor. Delicio-me com o mau tempo, vendavais, chuva e trovoadas acompanhadas de relâmpagos. Que querem que faça? Sou assim! E sempre fui. E sempre serei. A diferença está em que hoje o mostro. Com naturalidade. Com gosto em mim próprio. Sei que há quem goste (poucos). Também sei que há muitos mais que não gostam. Há até os que detestam. Não me interessa.
Se há coisa que aprendi com a vida foi a ser eu mesmo e não o que os outros querem. A ser eu mesmo sem qualquer tipo de pressões... sem medo.
Sou portista ferrenho. De esquerda. Melhor, bloquista. Gosto de música clássica e dos oldies do início e meados do século passado. Detesto sair à noite e enfiar-me numa discoteca rodeado de "estrangeiros" do meu mundo. Pouco bebo e jamais meti um cigarro na boca. Gosto de história e arqueologia e se sustentassem uma vida, era esse o meu futuro. Abomino a praia, o verão e o calor. Delicio-me com o mau tempo, vendavais, chuva e trovoadas acompanhadas de relâmpagos. Que querem que faça? Sou assim! E sempre fui. E sempre serei. A diferença está em que hoje o mostro. Com naturalidade. Com gosto em mim próprio. Sei que há quem goste (poucos). Também sei que há muitos mais que não gostam. Há até os que detestam. Não me interessa.
Se há coisa que aprendi com a vida foi a ser eu mesmo e não o que os outros querem. A ser eu mesmo sem qualquer tipo de pressões... sem medo.
domingo, março 26, 2006
Morte
Hoje em dia só se morre. Só se fala em morte. Só se vê morte. E das mais variadas maneiras. Morre-se por se ser homem ou se ser mulher. Por se ter uma carinha engraçada ou por se meter medo ao susto. Por se adorar Jesus Cristo ou por se preferir Alá. Por sermos "brancos" como a cal ou "pretos" como o carvão. Por se ser mais de direita ou, pelo contrário, puxar mais para a esquerda. Por se torcer e vibrar pelo clube A ou B ou até por se viver no país C ou D. Por se ser homo ou heterossexual (eventualmente até por se conjugar ambas as coisas). Por ser velho com uma vida enorme ou criança com uma vida minúscula. Por se respirar ar (poluído) ou asfixiado com falta dele. Por comer e beber (demais e mal) ou por desesperar por algo que nos alimente. Por ter dinheiro e não lhe saber dar uso ou por ter dívidas que não dá para pagar. Por passar a vida a dormir e deixá-la passar por nós ou por estar muito tempo acordado e não a saber aproveitar. Por se andar a pé e ser-se atropelado ou andar de carro e enfiá-lo numa parede ou mesmo num buraco. Morre-se pelos filhos ou pelos pais. Morre-se também por causa dos filhos e dos pais. Porque nos matam ou porque nos matamos. Porque matamos ou porque os outros se matam. Por doenças que nunca mais acabam ou por nunca as ter tido. Morre-se por solidão ou por se ter demasiadas (más) companhias. Por se saber muito pouco ou demais. Morre-se cansado de fazer muito ou de tédio de não fazer nada. Por sermos nós próprios ou por tentarmos imitar os outros. Por darmos a vida por alguém. Por amor ou pela falta dele. Às vezes por se ter sorte, outras vezes por se ter azar...
Hoje em dia tudo morre. E das mais variadas maneiras. Haverá alguém que, apesar do que nos rodeia, consiga dizer "Eu... estou vivo"? Eu acho que consigo.
Hoje em dia tudo morre. E das mais variadas maneiras. Haverá alguém que, apesar do que nos rodeia, consiga dizer "Eu... estou vivo"? Eu acho que consigo.
domingo, março 12, 2006
Uma questão de dinheiro...
Recentemente cheguei a uma conclusão que assim à primeira ouvida, admito, soa um pouco mal. Mas não é por soar mal que deixa de ser verdade, principalmente no meio em que frequentemente me insiro. E a conclusão é tão simples quanto esta: para se ter amigos é preciso ter dinheiro.
A minha família, desde as gerações mais longínquas, nunca nadou em dinheiro. Só um dos meus quatro avós tirou mais do que a 4ª classe. Carpinteiros, metalúrgicos e costureiras. Os meus pais escolheram uma das profissões mais ingratas que hoje se pode ter, ou seja, são professores (não recebem nada de especial, têm um terço das férias dos alunos e têm que aturar e educar os filhos dos outros). Com este panorama, é lógico que nunca fui habituado a grandes excentricidades.
Quando entrei para o curso de Medicina, na saudosa FML, penetrei numa realidade completamente diferente, que já tinha tido o "prazer" de roçar ao de leve. Mais de metade dos meus colegas são pessoas que estão bem na vida. As profissões dos pais e os seus negócios assim o permitem. Até aqui tudo bem. Cada um tem aquilo com que nasce e para que trabalha. É justo. Mas é também aqui que surge o problema. Pessoas com mais posses fazem coisas que os de menos posses não podem. Simplesmente têm dinheiro para gastar nisso. Mas eu não tenho.
Como se sentiriam, estando na minha posição, se à vossa volta estivesse um grupo de pessoas que todas as semanas fala de todos os lugares do globo onde esteve, mostrando fotografias e esquecendo-se e pondo de parte aqueles que, como eu, tem o simples prazer de conhecer este cantinho a que chamamos Portugal? Desculpem mas eu não me sinto bem, quando todo o mundo fala de coisas que não me dizem respeito, estando eu a escassos centímetros do centro da conversa. Acho que é falta de consideração porque sempre me ensinaram que ser amigo, companheiro ou colega é deixar todos à vontade, não ignorar, integrar. Peço perdão se discordam ou se firo susceptibilidades. Sou assim como sou, não consigo fingir quando não estou bem e quando não gosto de algo...
É por isto que digo que para ter amigos é preciso ter dinheiro. Se eu o tivesse, também viajaria e aí poderia contar todas as viagens, brinquedos e acessórios que tivesse comprado. Poderia conversar e entrar nas vossas conversas. Mas não o tenho. E não pensem que tenho inveja. Caminhando por Portugal, também eu vi coisas que vocês nunca viram. E mesmo que também as tenham visto, com certeza não o viram da mesma maneira que eu (porque às vezes não basta ver... é também importante a maneira como se vê e isso parte de cada um). Conheci a perfeição em muitos cantos que vocês se calhar não sonham e que não encontram lá fora... Por isso não vos invejo. Porque quase sem me mexer, também eu conheci um mundo fascinante e repleto de beleza.
Talvez seja (também) pelo dinheiro que este não é o meu lugar no puzzle. Se calhar nem é este o meu puzzle. O meu será talvez um de 500 peças e não um de 10000. Será talvez num puzzle mais baratinho e acessível ao meu bolso.
A minha família, desde as gerações mais longínquas, nunca nadou em dinheiro. Só um dos meus quatro avós tirou mais do que a 4ª classe. Carpinteiros, metalúrgicos e costureiras. Os meus pais escolheram uma das profissões mais ingratas que hoje se pode ter, ou seja, são professores (não recebem nada de especial, têm um terço das férias dos alunos e têm que aturar e educar os filhos dos outros). Com este panorama, é lógico que nunca fui habituado a grandes excentricidades.
Quando entrei para o curso de Medicina, na saudosa FML, penetrei numa realidade completamente diferente, que já tinha tido o "prazer" de roçar ao de leve. Mais de metade dos meus colegas são pessoas que estão bem na vida. As profissões dos pais e os seus negócios assim o permitem. Até aqui tudo bem. Cada um tem aquilo com que nasce e para que trabalha. É justo. Mas é também aqui que surge o problema. Pessoas com mais posses fazem coisas que os de menos posses não podem. Simplesmente têm dinheiro para gastar nisso. Mas eu não tenho.
Como se sentiriam, estando na minha posição, se à vossa volta estivesse um grupo de pessoas que todas as semanas fala de todos os lugares do globo onde esteve, mostrando fotografias e esquecendo-se e pondo de parte aqueles que, como eu, tem o simples prazer de conhecer este cantinho a que chamamos Portugal? Desculpem mas eu não me sinto bem, quando todo o mundo fala de coisas que não me dizem respeito, estando eu a escassos centímetros do centro da conversa. Acho que é falta de consideração porque sempre me ensinaram que ser amigo, companheiro ou colega é deixar todos à vontade, não ignorar, integrar. Peço perdão se discordam ou se firo susceptibilidades. Sou assim como sou, não consigo fingir quando não estou bem e quando não gosto de algo...
É por isto que digo que para ter amigos é preciso ter dinheiro. Se eu o tivesse, também viajaria e aí poderia contar todas as viagens, brinquedos e acessórios que tivesse comprado. Poderia conversar e entrar nas vossas conversas. Mas não o tenho. E não pensem que tenho inveja. Caminhando por Portugal, também eu vi coisas que vocês nunca viram. E mesmo que também as tenham visto, com certeza não o viram da mesma maneira que eu (porque às vezes não basta ver... é também importante a maneira como se vê e isso parte de cada um). Conheci a perfeição em muitos cantos que vocês se calhar não sonham e que não encontram lá fora... Por isso não vos invejo. Porque quase sem me mexer, também eu conheci um mundo fascinante e repleto de beleza.
Talvez seja (também) pelo dinheiro que este não é o meu lugar no puzzle. Se calhar nem é este o meu puzzle. O meu será talvez um de 500 peças e não um de 10000. Será talvez num puzzle mais baratinho e acessível ao meu bolso.
domingo, março 05, 2006
Desculpem...
Se há capacidade que eu não tenho é inteligência emocional... Inteligência não é só saber pensar, responder certo a mil e uma perguntas e saber de tudo e mais alguma coisa. Há também a inteligência dos sentimentos. Aquela que muita gente diz estar no coração, mas que, de certeza absoluta, está na nossa cabeça. Este tipo de inteligência é aquele que nos faz conjugar os sentimentos, as opiniões, as vontades. As nossas e as dos outros. Quer sejam iguais ou diferentes. É a capacidade de respeitar a visão dos outros e, mesmo que nos incomode, lidar com as pessoas independentemente disso. Porque as pessoas não são um clube de futebol, um partido político, uma religião, amor, amizade, aborto ou eutanásia. As pessoas são pessoas e, por o serem, têm opções.
Infelizmente esta não é uma das minhas áreas fortes. Talvez não por ignorância mas mais por desatenção. Daí que, frequentemente, atropele as pessoas. Sou emocionalmente burro. Nasci assim e se calhar não me esforço o suficiente para mudar. E esse é talvez o meu maior erro. Por isso, gostaria de pedir desculpa a todos aqueles que magoei. É muito provável que o tenha feito inconscientemente, mas isso não atenua o que fiz. Fi-lo e, na maioria dos casos (se os viesse a descobrir), arrepender-me-ia.
Aos que gostam de mim, desculpem por vos ter desiludido, magoado ou traído.
Infelizmente esta não é uma das minhas áreas fortes. Talvez não por ignorância mas mais por desatenção. Daí que, frequentemente, atropele as pessoas. Sou emocionalmente burro. Nasci assim e se calhar não me esforço o suficiente para mudar. E esse é talvez o meu maior erro. Por isso, gostaria de pedir desculpa a todos aqueles que magoei. É muito provável que o tenha feito inconscientemente, mas isso não atenua o que fiz. Fi-lo e, na maioria dos casos (se os viesse a descobrir), arrepender-me-ia.
Aos que gostam de mim, desculpem por vos ter desiludido, magoado ou traído.
terça-feira, fevereiro 28, 2006
Para baixo
Há coisas que estão destinadas a acontecer. E se o estão, uma coisa é certa: vão acontecer mesmo. Os pequenos pormenores que podem escapar ao olho mais distraído, são sempre a resposta para estes fados. Não se queixem. Foram vocês os culpados. Foram vocês que criaram os pormenores. E que os continuam a recriar, dia após dia, ininterruptamente. Todas as pessoas o vêem. Todas as pessoas o comentam.
Por isso não se preocupem. Não falta muito para que este barco, embora de vime, se parta em dois. E aí só há um caminho. Para baixo.
Por isso não se preocupem. Não falta muito para que este barco, embora de vime, se parta em dois. E aí só há um caminho. Para baixo.
quinta-feira, fevereiro 23, 2006
Praça
Era um dia qualquer... em meados dum mês de Inverno cujo ano já não me lembro. Nem eu nem ninguém. Devia ser de manhã. Ou de tarde. Mas para que é que isso interessa? Sentado numa daquelas cadeiras velhas de madeira, que rangem como se fossem partir, ele olhava lá para fora através das vidraças da sua janela. Umas partidas ou rachadas, outras sujas que nem carvão e outras ainda que já não existiam, deixando entrar o frio gelado e aquele sol tão quentinho e tímido, que se consegue esgueirar entre as nuvens carregadas que se passeiam no ar.
Lá fora era quase tudo branco. Branco de neve pura acabada de cair sobre tudo o que havia naquela linda praça da aldeia. Só se vislumbrava um branco fofo e aconchegante, excepto nas cabeças, mãos e corpos de duas crianças que, vestidas a rigor com as cores mais alegres que existem, se divertiam como se fosse a primeira vez que presenciassem tal espectáculo (é essa uma das maravilhas de se ser criança: é sempre a primeira vez para tudo, por mais vezes que a repitamos). Bola para cá, bola para lá. Umas que voavam para lá do alcance da sua visão, outras que atingiam em cheio o alvo. Perto de tanta agitação, o banco onde se costumava sentar, todas as tardes, a ler o jornal e a olhar, nunca soube bem para onde. Simplesmente olhava. Decorava cada pormenor daquela paisagem monótona mas tremendamente perfeita. E à noite, quando recolhia, sabia que tinha feito a viagem da sua vida, sem nunca se ter mexido. E assim viajava todos os dias.
Um pardal passara à sua frente, do lado de fora, despertando-o. Seguira-o até uma pedra do lago agora de gelo. Pousado nela dava pulinhos para se manter quente. Será? Que mania inquietante do Homem em tentar perceber o que os animais pensam ou fazem... Salta e pronto. Não é mais bonito vê-lo simplesmente pular, sem mais nada?
Hoje não era possível adivinhar onde passava a estrada daquela pedra granítica brilhante, aos cubos, da qual toda a gente de fora refilava por arruinar aquelas máquinas a que chamam carros. Ele sabia perfeitamente onde ela se encontrava. Sabia-o desde o dia em que, na sua eterna companheira de duas rodas, foi obrigado a tirar os pés dos pedais e atirar-se direitinho a ela para não passar por cima do gato amarelo da praça. O gato que ele carinhosamente cumprimentava todos os dias com uma festa de inveja. Inveja de ser como ele, de poder ser mais livre, ir onde quisesse sem dar satisfações. Ir. Era irritante ter que ver aquele animal tão livre e tão belo (coisas que nunca foi). Mas era tão reconfortante senti-lo a roçar nas suas pernas quando mais ninguém para ele olhava. Acima de tudo, e apesar de o odiar de certa maneira, amava-o. E fazia-o de uma forma tão pura como não fora capaz de fazer por nenhuma pessoa. Porque, e disso tinha a certeza, aquele animal nunca o magoara e jamais o iria fazer.
O centenário carvalho da praça, no qual ele, o seu pai, o seu avô e sabe-se lá mais quem, andaram no baloiço (que ainda hoje lá se encontrava), começara há pouco tempo a ganhar os primeiros rebentos, quase como se ressuscitasse da morte em que parecia ter enveredado. O baloiço, esse, era já um ramo da própria árvore. Quase como que um velho que acolhe uma pequena criança para que possa sentir perto dele toda a festa que caracteriza o petiz. E o coreto... Como se poderia esquecer do coreto? O sítio onde sempre tocara na banda, fazendo as pessoas soltar aplausos que tanto o reconfortavam. Que lhe despertavam aquele arrepio só ao alcance dos que se fundem com o instrumento e que chegam com ele ao céu. O coreto, atrás do qual se escondia quando brincava às escondidas com os amigos. Esconderijo que só ele conhecia e no qual nunca ninguém o achou. Ganhava sempre. E gostava de o fazer.
Muitas crianças passaram naquela praça. Conhecia-as todas, viu-as crescer, partir, desaparecer. Riu e chorou com muitas das travessuras que pequenos e graúdos fizeram à frente da sua janela, principalmente em dias como aquele... Lá em cima, o sol fugira. Inclinou-se para olhar um pouco melhor e ver o primeiro floco de neve que descia triunfalmente sobre a praça já deserta. As crianças, já encharcadas, haviam voltado a pedido das preocupadas e zelosas mães. O pardal esvoaçara dali. Não sabia para onde nem tal facto lhe interessava. Até o próprio baloiço, que até há instantes atrás gingava ao sabor da brisa que corria, decidiu parar para que se visse começar a nevar de novo. De repente, atrás do coreto, surgiu o seu gato amarelo. Despreocupado, deu uma corrida decidida e foi-se sentar no banco onde tantas vezes fora acariciado. Virou-se para a janela. Ao vê-lo no seu banco e relembrar aquele cenário no qual participara durante tantos anos, ele sorriu por trás das vidraças. Cansado, mas ainda a sorrir, fechou os olhos.
E foi nesse dia qualquer, em meados de um mês de Inverno cujo ano já não me lembro, atrás da sua vidraça que dava para a sua praça com todas as suas coisas, e sentado na sua cadeira de madeira que rangia, que ele fechou os olhos alegremente. E não mais os abriu.
Lá fora era quase tudo branco. Branco de neve pura acabada de cair sobre tudo o que havia naquela linda praça da aldeia. Só se vislumbrava um branco fofo e aconchegante, excepto nas cabeças, mãos e corpos de duas crianças que, vestidas a rigor com as cores mais alegres que existem, se divertiam como se fosse a primeira vez que presenciassem tal espectáculo (é essa uma das maravilhas de se ser criança: é sempre a primeira vez para tudo, por mais vezes que a repitamos). Bola para cá, bola para lá. Umas que voavam para lá do alcance da sua visão, outras que atingiam em cheio o alvo. Perto de tanta agitação, o banco onde se costumava sentar, todas as tardes, a ler o jornal e a olhar, nunca soube bem para onde. Simplesmente olhava. Decorava cada pormenor daquela paisagem monótona mas tremendamente perfeita. E à noite, quando recolhia, sabia que tinha feito a viagem da sua vida, sem nunca se ter mexido. E assim viajava todos os dias.
Um pardal passara à sua frente, do lado de fora, despertando-o. Seguira-o até uma pedra do lago agora de gelo. Pousado nela dava pulinhos para se manter quente. Será? Que mania inquietante do Homem em tentar perceber o que os animais pensam ou fazem... Salta e pronto. Não é mais bonito vê-lo simplesmente pular, sem mais nada?
Hoje não era possível adivinhar onde passava a estrada daquela pedra granítica brilhante, aos cubos, da qual toda a gente de fora refilava por arruinar aquelas máquinas a que chamam carros. Ele sabia perfeitamente onde ela se encontrava. Sabia-o desde o dia em que, na sua eterna companheira de duas rodas, foi obrigado a tirar os pés dos pedais e atirar-se direitinho a ela para não passar por cima do gato amarelo da praça. O gato que ele carinhosamente cumprimentava todos os dias com uma festa de inveja. Inveja de ser como ele, de poder ser mais livre, ir onde quisesse sem dar satisfações. Ir. Era irritante ter que ver aquele animal tão livre e tão belo (coisas que nunca foi). Mas era tão reconfortante senti-lo a roçar nas suas pernas quando mais ninguém para ele olhava. Acima de tudo, e apesar de o odiar de certa maneira, amava-o. E fazia-o de uma forma tão pura como não fora capaz de fazer por nenhuma pessoa. Porque, e disso tinha a certeza, aquele animal nunca o magoara e jamais o iria fazer.
O centenário carvalho da praça, no qual ele, o seu pai, o seu avô e sabe-se lá mais quem, andaram no baloiço (que ainda hoje lá se encontrava), começara há pouco tempo a ganhar os primeiros rebentos, quase como se ressuscitasse da morte em que parecia ter enveredado. O baloiço, esse, era já um ramo da própria árvore. Quase como que um velho que acolhe uma pequena criança para que possa sentir perto dele toda a festa que caracteriza o petiz. E o coreto... Como se poderia esquecer do coreto? O sítio onde sempre tocara na banda, fazendo as pessoas soltar aplausos que tanto o reconfortavam. Que lhe despertavam aquele arrepio só ao alcance dos que se fundem com o instrumento e que chegam com ele ao céu. O coreto, atrás do qual se escondia quando brincava às escondidas com os amigos. Esconderijo que só ele conhecia e no qual nunca ninguém o achou. Ganhava sempre. E gostava de o fazer.
Muitas crianças passaram naquela praça. Conhecia-as todas, viu-as crescer, partir, desaparecer. Riu e chorou com muitas das travessuras que pequenos e graúdos fizeram à frente da sua janela, principalmente em dias como aquele... Lá em cima, o sol fugira. Inclinou-se para olhar um pouco melhor e ver o primeiro floco de neve que descia triunfalmente sobre a praça já deserta. As crianças, já encharcadas, haviam voltado a pedido das preocupadas e zelosas mães. O pardal esvoaçara dali. Não sabia para onde nem tal facto lhe interessava. Até o próprio baloiço, que até há instantes atrás gingava ao sabor da brisa que corria, decidiu parar para que se visse começar a nevar de novo. De repente, atrás do coreto, surgiu o seu gato amarelo. Despreocupado, deu uma corrida decidida e foi-se sentar no banco onde tantas vezes fora acariciado. Virou-se para a janela. Ao vê-lo no seu banco e relembrar aquele cenário no qual participara durante tantos anos, ele sorriu por trás das vidraças. Cansado, mas ainda a sorrir, fechou os olhos.
E foi nesse dia qualquer, em meados de um mês de Inverno cujo ano já não me lembro, atrás da sua vidraça que dava para a sua praça com todas as suas coisas, e sentado na sua cadeira de madeira que rangia, que ele fechou os olhos alegremente. E não mais os abriu.
segunda-feira, fevereiro 20, 2006
Adeus
Por favor, não me perguntes porquê... Eu já bebi esse veneno que contigo vem mascarado. Essa armadilha que tão imbecilmente já pisei. Eu sei como é. Como iria ser. Já o vivi. E não gostei.
São impressionantes as semelhanças... em tudo. Como ingénuo (ou simplesmente sonhador) pouco devia faltar para voltar a ir com a maré. Mas desta vez não embarco. Posso-me enganar, mas quase que adivinho que a terra prometida não estaria do outro lado. Lá ao longe somente um enorme remoinho de água, de vento, de tudo. Um remoinho que mistura tudo e de onde nada sai. Já lá estive. E não gostei.
Por isso te peço: não me perguntes porquê. Se eu te explicasse nunca o irias entender. Não irias ter capacidade para o fazer. Eu vejo determinadas coisas que por mais que tentasse explicar, que outras pessoas também te tentassem mostrar, tu jamais as entenderias. Não és burra. Muito longe disso. Mas, simplesmente, não irias perceber. Só eu sei o que me custa fazer ou dizer isto. Mas ir-me-ia custar muito mais depois. Já o senti. E não gostei.
Por isso, antes que te diga olá, digo-te adeus...
São impressionantes as semelhanças... em tudo. Como ingénuo (ou simplesmente sonhador) pouco devia faltar para voltar a ir com a maré. Mas desta vez não embarco. Posso-me enganar, mas quase que adivinho que a terra prometida não estaria do outro lado. Lá ao longe somente um enorme remoinho de água, de vento, de tudo. Um remoinho que mistura tudo e de onde nada sai. Já lá estive. E não gostei.
Por isso te peço: não me perguntes porquê. Se eu te explicasse nunca o irias entender. Não irias ter capacidade para o fazer. Eu vejo determinadas coisas que por mais que tentasse explicar, que outras pessoas também te tentassem mostrar, tu jamais as entenderias. Não és burra. Muito longe disso. Mas, simplesmente, não irias perceber. Só eu sei o que me custa fazer ou dizer isto. Mas ir-me-ia custar muito mais depois. Já o senti. E não gostei.
Por isso, antes que te diga olá, digo-te adeus...
quinta-feira, fevereiro 16, 2006
Puzzle
Quando duas peças de um puzzle não encaixam é porque uma delas não está no sítio certo. Poder-se-ia cortá-la até que encaixasse. Talvez fosse toda cortada e nunca servisse... Até poderia vir a servir. Mas já não era a mesma peça que não encaixava no início. Tinha perdido o seu sentido, a sua forma, a sua identidade, a sua função. Tinha-se perdido nela própria. Só para encaixar nas outras que a circundavam.
Eu não encaixo aqui? Desculpem-me, mas não me vou recortar até encaixar. Algures, não sei onde, há de haver o meu lugar. O meu lugar único neste puzzle... Uma certeza tenho: não me vou perder em mim mesmo, porque aqui não encaixo. Não é aqui que pertenço. É ali.
Eu não encaixo aqui? Desculpem-me, mas não me vou recortar até encaixar. Algures, não sei onde, há de haver o meu lugar. O meu lugar único neste puzzle... Uma certeza tenho: não me vou perder em mim mesmo, porque aqui não encaixo. Não é aqui que pertenço. É ali.
segunda-feira, fevereiro 13, 2006
Atlas
O meu Atlas até pode parecer frágil. Mas de certeza que não parte com o peso de tudo o que o rodeia. E mesmo que parta, sei que haverá alguém que o agarrará e não o deixará cair. Amo-te.
terça-feira, fevereiro 07, 2006
Espelhos
A única maneira de nos vermos é no espelho. De nos vermos por fora. A nossa cara, o corpo, .... E quem consegue ver o que está dentro de nós? A nossa maneira de ser? Aquilo que temos de bom e o que temos de abominável? Para isso não há nada melhor que os outros. Aqueles que nos conhecem, que lidam connosco e que nos vêem de uma maneira que nós jamais seremos capaz de atingir. Não existe melhor espelho que eles.
Vermo-nos através desses espelhos mostra-nos coisas que, gostando ou não, nos tornam tão mais enormes. Só por termos uma maior consciência de nós. Não tiraremos mais sucesso da vida se nos conhecermos a fundo e vivermos de acordo com esse saber?
O problema é que muitas vezes esses espelhos não nos dão reflexo. Apesar de terem reflexo. Só que aprisionado dentro dos próprios espelhos. Nós estamos em frente ao espelho e sabemos que nos estamos a ver através dele. Só não sabemos o quê! O que é que o espelho mostra de nós? O quê?
Mas em ti vejo tudo, em todo o lado. Nos teus olhos quando me olhas, nos teus lábios quando me sorris, na tua boca quando me beijas, nas tuas mãos quando me tocas. Nem precisas falar. Reflectes-me na tua mais ínfima existência. Sei que não sou perfeito. Mas graças a ti consigo gostar do que sou. Tenho defeitos que me mostras sempre que os exponho. Tenho virtudes que me mostras quando preciso de força. Hoje sou mais eu graças a ti. Por me teres mostrado a mim próprio. Por me teres reflectido quando todos os outros não o fizeram. Por ainda hoje o fazeres. Por ter a certeza que o vais continuar a fazer. Para sempre...
Vermo-nos através desses espelhos mostra-nos coisas que, gostando ou não, nos tornam tão mais enormes. Só por termos uma maior consciência de nós. Não tiraremos mais sucesso da vida se nos conhecermos a fundo e vivermos de acordo com esse saber?
O problema é que muitas vezes esses espelhos não nos dão reflexo. Apesar de terem reflexo. Só que aprisionado dentro dos próprios espelhos. Nós estamos em frente ao espelho e sabemos que nos estamos a ver através dele. Só não sabemos o quê! O que é que o espelho mostra de nós? O quê?
Mas em ti vejo tudo, em todo o lado. Nos teus olhos quando me olhas, nos teus lábios quando me sorris, na tua boca quando me beijas, nas tuas mãos quando me tocas. Nem precisas falar. Reflectes-me na tua mais ínfima existência. Sei que não sou perfeito. Mas graças a ti consigo gostar do que sou. Tenho defeitos que me mostras sempre que os exponho. Tenho virtudes que me mostras quando preciso de força. Hoje sou mais eu graças a ti. Por me teres mostrado a mim próprio. Por me teres reflectido quando todos os outros não o fizeram. Por ainda hoje o fazeres. Por ter a certeza que o vais continuar a fazer. Para sempre...
domingo, fevereiro 05, 2006
Falta de comparência
A vida é feita de competições constantes. Não se vai a lado nenhum se não se for capaz de vencer umas quantas. De preferência as mais certas. Mas há competições que não me interessam minimamente...
Quando, sossegado no meu canto, vejo alguém falar-me já sei o que lá vem. Curioso... É época de exames. Pessoas que não conheço de lado nenhum (a memória visual não conta para o efeito) tratam-me como se me conhecessem há milénios. "Ah e tal, não percebo isto", "Coisa e meia, é esta a resposta?"... Está bem. Sou inteligente. E depois? Não tenho culpa! Sinceramente, muitas vezes gostava de não o ser. Gostava de não ter nenhuma mais-valia. Saberia assim que os que me cercam não o fazem por oportunismo...
Mas pior dos que os amigos de exame, são aqueles que batalham para serem melhores que os outros. Perguntam-me se os exames correm bem e ainda não acabei de responder já me estão a perguntar a nota. Vejo-lhes nos olhos um secreto desejo de ouvirem uma nota inferior à deles e poderem depois dizer "Tive mais que tu". Um desejo de se verem por cima. De verem os outros em baixo. De criarem uma competição de tudo. Criam um campeonato como se a vida deles disso dependesse. Mas eu com esses não compito. Porquê? Não faço parte do campeonato deles. Não que eu seja melhor que vocês ou vocês melhor que eu. Não participo nesses duelos porque não quero. Não, também não tenho medo de perder. Simplesmente o meu campeonato é comigo próprio. É a mim que eu tenho de me bater. É a mim que eu tenho de vencer, derrotar, esmagar, aniquilar, superar. Só a mim. Insistem em competir comigo? Tudo bem. Ganharam... por falta de comparência.
O que me consola? Ainda há pessoas que me perguntam "Como correu? Estás a ver? Eu sabia que te ia correr bem". E eu vejo que ficam contentes só por saber que correu bem. Porque uma pessoa é mais do que 1 ou 2 dígitos. Mais que um valor. Mais que escola. Uma pessoa, antes disso, é uma pessoa.
Quando, sossegado no meu canto, vejo alguém falar-me já sei o que lá vem. Curioso... É época de exames. Pessoas que não conheço de lado nenhum (a memória visual não conta para o efeito) tratam-me como se me conhecessem há milénios. "Ah e tal, não percebo isto", "Coisa e meia, é esta a resposta?"... Está bem. Sou inteligente. E depois? Não tenho culpa! Sinceramente, muitas vezes gostava de não o ser. Gostava de não ter nenhuma mais-valia. Saberia assim que os que me cercam não o fazem por oportunismo...
Mas pior dos que os amigos de exame, são aqueles que batalham para serem melhores que os outros. Perguntam-me se os exames correm bem e ainda não acabei de responder já me estão a perguntar a nota. Vejo-lhes nos olhos um secreto desejo de ouvirem uma nota inferior à deles e poderem depois dizer "Tive mais que tu". Um desejo de se verem por cima. De verem os outros em baixo. De criarem uma competição de tudo. Criam um campeonato como se a vida deles disso dependesse. Mas eu com esses não compito. Porquê? Não faço parte do campeonato deles. Não que eu seja melhor que vocês ou vocês melhor que eu. Não participo nesses duelos porque não quero. Não, também não tenho medo de perder. Simplesmente o meu campeonato é comigo próprio. É a mim que eu tenho de me bater. É a mim que eu tenho de vencer, derrotar, esmagar, aniquilar, superar. Só a mim. Insistem em competir comigo? Tudo bem. Ganharam... por falta de comparência.
O que me consola? Ainda há pessoas que me perguntam "Como correu? Estás a ver? Eu sabia que te ia correr bem". E eu vejo que ficam contentes só por saber que correu bem. Porque uma pessoa é mais do que 1 ou 2 dígitos. Mais que um valor. Mais que escola. Uma pessoa, antes disso, é uma pessoa.
terça-feira, janeiro 31, 2006
Promessas
Não prometas... Pelo menos aquilo que já sabes que não vais fazer. Fica mal. Mais tarde ou mais cedo vou saber que, enquanto deverias estar a cumprir a promessa, estavas noutro mundo, a fazer outras coisas, a pensar em tudo menos no prometido.
Não justifiques. Eu entendo. A promessa foi só o adiar de algo que não gostavas nem querias fazer. Adiaste na esperança de esquecer. De eu me esquecer. E não será esse o papel principal das promessas? Não vou mentir. Custa-me que assim seja. Dizes "Eu prometo". E eu espero. Desespero. Desisto. Entristeço-me. Resigno-me.
Porque é que és assim? Porque é que são assim? Não prometas o que não queres fazer. Não prometas aquilo que virá sempre depois de tudo, ou seja, que nunca virá. Não prometas... Simplesmente não o faças. Da próxima vez diz simplesmente "Não vou fazer". Se assim for, também vou ficar triste. Mas não me iludo.
Não justifiques. Eu entendo. A promessa foi só o adiar de algo que não gostavas nem querias fazer. Adiaste na esperança de esquecer. De eu me esquecer. E não será esse o papel principal das promessas? Não vou mentir. Custa-me que assim seja. Dizes "Eu prometo". E eu espero. Desespero. Desisto. Entristeço-me. Resigno-me.
Porque é que és assim? Porque é que são assim? Não prometas o que não queres fazer. Não prometas aquilo que virá sempre depois de tudo, ou seja, que nunca virá. Não prometas... Simplesmente não o faças. Da próxima vez diz simplesmente "Não vou fazer". Se assim for, também vou ficar triste. Mas não me iludo.
terça-feira, janeiro 24, 2006
Tradução
Todas as línguas podem ser traduzidas umas nas outras, com mais ou menos dificuldade. Mas há muita coisa que se perde, principalmente nas entrelinhas, quando se tenta passar as palavras de país para país. É como a "saudade" do nosso português. Só nós, lusitanos, nos apercebemos do que se esfuma quando se escreve "I miss"... Não é o mesmo. Em inglês é tão mais frio...
Mas esta estrada de erro tem sem dúvida dois sentidos... Há também expressões inglesas que só fazem sentido em inglês. E dessas, a que mais gosto (ou que mais me marca e que mais sigo frequentemente) é uma que quase todos utilizamos: I'll forgive but I'll never forget. Precisa de tradução?
Mas esta estrada de erro tem sem dúvida dois sentidos... Há também expressões inglesas que só fazem sentido em inglês. E dessas, a que mais gosto (ou que mais me marca e que mais sigo frequentemente) é uma que quase todos utilizamos: I'll forgive but I'll never forget. Precisa de tradução?
domingo, janeiro 15, 2006
Praia
Numa pequena praia deserta
Quatro pés passeiam lado a lado...
O mar, atrás deles como ladrão,
Estica-se, enrola-se, desliza,
Apagando as suaves pegadas
Que nós os dois deixamos atrás.
O sol, lá do alto, do longe,
Bate nas rochas, no oceano...
Nos nossos corpos também.
Do horizonte, como que com medo,
Uma brisa fresca e alegre
Mexe nos teus cabelos, como eu gosto.
Pego numa pedra, preta e lisa.
Atiro-a sobre a água, com força.
Salta uma, duas, três vezes...
Rimos juntos e tu dás-me um beijo.
Uma gaivota, só, voa sobre nós,
Indo até ao pôr-do-sol que já vê.
Sentamo-nos, bem agarrados.
Olhamos para o horizonte, lá ao fundo,
Entre o céu já com sono
E o mar que quer dormir.
O sol, uma bola de fogo laranja,
Desce e apaga-se na fria água abaixo.
Lá em cima, no azul estrelado,
Há agora uma esfera branca,
Uma lua cheia tão perfeita...
Um barco navega ao largo,
Numa imensidão teimosamente suave,
Tão teimosamente linda.
E o luar desce devagar, com calma,
Escorrendo no brilhante espelho salgado,
Vindo sorrateiramente até nós dois,
Tocar nos teus olhos verdes fechados
Que, cansados, adormeceram no meu ombro,
Esperando pelo novo amanhecer de amanhã.
Quatro pés passeiam lado a lado...
O mar, atrás deles como ladrão,
Estica-se, enrola-se, desliza,
Apagando as suaves pegadas
Que nós os dois deixamos atrás.
O sol, lá do alto, do longe,
Bate nas rochas, no oceano...
Nos nossos corpos também.
Do horizonte, como que com medo,
Uma brisa fresca e alegre
Mexe nos teus cabelos, como eu gosto.
Pego numa pedra, preta e lisa.
Atiro-a sobre a água, com força.
Salta uma, duas, três vezes...
Rimos juntos e tu dás-me um beijo.
Uma gaivota, só, voa sobre nós,
Indo até ao pôr-do-sol que já vê.
Sentamo-nos, bem agarrados.
Olhamos para o horizonte, lá ao fundo,
Entre o céu já com sono
E o mar que quer dormir.
O sol, uma bola de fogo laranja,
Desce e apaga-se na fria água abaixo.
Lá em cima, no azul estrelado,
Há agora uma esfera branca,
Uma lua cheia tão perfeita...
Um barco navega ao largo,
Numa imensidão teimosamente suave,
Tão teimosamente linda.
E o luar desce devagar, com calma,
Escorrendo no brilhante espelho salgado,
Vindo sorrateiramente até nós dois,
Tocar nos teus olhos verdes fechados
Que, cansados, adormeceram no meu ombro,
Esperando pelo novo amanhecer de amanhã.
terça-feira, janeiro 10, 2006
Vergonha...
Se algum erro existe em qualquer lado que tu possas imaginar, esse erro és tu. Tu mesma. Só tu. Da tua boca, em vez das coisas bonitas que os outros sempre esperaram (mesmo antes de me esperarem a mim) só saem aberrações. Facas com mil gumes que se espetam directamente onde os beijos deviam atracar.
Não são os outros que estão mal. És tu. Não és tu que não consegues viver com os outros. São os outros que não conseguem viver contigo. Não és tu que anseias pela liberdade (que aliás sempre tiveste, demais). São os outros que se querem evadir da Alcatraz que te tornaste.
Há muita gente que daria a tua inteligência por bem empregue. Para fazer algo de útil. Para ser alguém. Tu usa-la para nada. Pior. Tu usa-la para magoar os outros. Para não seres ninguém. Hei! Já viste a ironia...: até a utilizar a tua inteligência consegues ser estúpida.
Juro que um dia, pelo menos eu, não irei aguentar mais qualquer texto, frase, palavra, sílaba, letra que saia da tua boca. Qualquer vestígio de ar que saia tão venenoso como a víbora em que te tornaste. E aí juro fechar a minha mão numa bola de ossos, tendões e músculos e atirá-la dez, cem, mil vezes directamente à tua cara. Bem no meio dela. Tantas vezes quantas as necessárias para perceberes a quão injusta és para todos. O quão não mereces nada do que alguma vez tiveste ou venhas a ter. Juro fechar a mão e enterrá-la bem fundo na cara que devias ter vergonha em mostrar. Enterrá-la até conseguir ver o teu nariz na nuca. Mas... Se calhar é melhor não fazer isto. Mereces pior, não mereces? Sabes o que te farei então? NADA. Simplesmente o vazio. Ignoro-te. Se há coisa pior no mundo é não significar nada para ninguém. Nem bom nem mau. É ser-se um zero. Isso sim merecias. Mas infelizmente não dá. Haverá sempre algo que nos será superior... E em relação a isso é que não podemos fazer mesmo nada.
Não são os outros que estão mal. És tu. Não és tu que não consegues viver com os outros. São os outros que não conseguem viver contigo. Não és tu que anseias pela liberdade (que aliás sempre tiveste, demais). São os outros que se querem evadir da Alcatraz que te tornaste.
Há muita gente que daria a tua inteligência por bem empregue. Para fazer algo de útil. Para ser alguém. Tu usa-la para nada. Pior. Tu usa-la para magoar os outros. Para não seres ninguém. Hei! Já viste a ironia...: até a utilizar a tua inteligência consegues ser estúpida.
Juro que um dia, pelo menos eu, não irei aguentar mais qualquer texto, frase, palavra, sílaba, letra que saia da tua boca. Qualquer vestígio de ar que saia tão venenoso como a víbora em que te tornaste. E aí juro fechar a minha mão numa bola de ossos, tendões e músculos e atirá-la dez, cem, mil vezes directamente à tua cara. Bem no meio dela. Tantas vezes quantas as necessárias para perceberes a quão injusta és para todos. O quão não mereces nada do que alguma vez tiveste ou venhas a ter. Juro fechar a mão e enterrá-la bem fundo na cara que devias ter vergonha em mostrar. Enterrá-la até conseguir ver o teu nariz na nuca. Mas... Se calhar é melhor não fazer isto. Mereces pior, não mereces? Sabes o que te farei então? NADA. Simplesmente o vazio. Ignoro-te. Se há coisa pior no mundo é não significar nada para ninguém. Nem bom nem mau. É ser-se um zero. Isso sim merecias. Mas infelizmente não dá. Haverá sempre algo que nos será superior... E em relação a isso é que não podemos fazer mesmo nada.
domingo, janeiro 01, 2006
Cavaleiro Andante
"Porque sou o Cavaleiro Andante
Que mora no teu livro de aventuras?
Podes vir chorar no meu peito
As mágoas e as desventuras.
Sempre que o vento te ralhe
E a chuva de Maio te molhe,
Sempre que o teu barco encalhe
E a vida passe e não te olhe.
Porque sou o cavaleiro andante
Que o teu velho medo inventou?
Podes vir chorar no meu peito
Pois sabes sempre onde estou...
Sempre que a rádio diga
Que a América roubou a lua
Ou que um louco te persiga
E te chame nomes na rua.
Porque sou o que chega e conta
Mentiras que te fazem feliz?
E tu vibras com histórias
De viagens que eu nunca fiz?
Podes vir chorar no meu peito
Longe de tudo o que é mau
Que eu vou estar sempre ao teu lado
No meu cavalo de pau..."
Mesmo nascendo de aventuras de livros, sendo criados por receios e momentos fracos, tendo vivido histórias inventadas ou montado um cavalo de pau, é sempre bom saber que somos o Cavaleiro Andante de alguém. De alguém que saberá sempre que pode contar connosco. Que saberá sempre que tem o nosso peito disponível. Que saberá sempre onde estaremos... Mesmo ao lado.
Que mora no teu livro de aventuras?
Podes vir chorar no meu peito
As mágoas e as desventuras.
Sempre que o vento te ralhe
E a chuva de Maio te molhe,
Sempre que o teu barco encalhe
E a vida passe e não te olhe.
Porque sou o cavaleiro andante
Que o teu velho medo inventou?
Podes vir chorar no meu peito
Pois sabes sempre onde estou...
Sempre que a rádio diga
Que a América roubou a lua
Ou que um louco te persiga
E te chame nomes na rua.
Porque sou o que chega e conta
Mentiras que te fazem feliz?
E tu vibras com histórias
De viagens que eu nunca fiz?
Podes vir chorar no meu peito
Longe de tudo o que é mau
Que eu vou estar sempre ao teu lado
No meu cavalo de pau..."
Mesmo nascendo de aventuras de livros, sendo criados por receios e momentos fracos, tendo vivido histórias inventadas ou montado um cavalo de pau, é sempre bom saber que somos o Cavaleiro Andante de alguém. De alguém que saberá sempre que pode contar connosco. Que saberá sempre que tem o nosso peito disponível. Que saberá sempre onde estaremos... Mesmo ao lado.
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