terça-feira, março 20, 2007

Inferno

Fervo de raiva as lágrimas salgadas que choro cada dia, há já algum tempo. Cheira a queimado, a sangue, a dor. A incongruência e incredibilidade. É com certeza castigo grave. Ferros cravados na minha carne. Nos meus sentimentos. Amputação de crenças ou vontades de acreditar. Isto é somente o preço a pagar por quem escolhe seguir os seus princípios mais nobres e morrer com eles. Sou assim. E sei que não presto. Nem para mim e muito menos para os outros.
Sou como uma cana verde. Dobra, verga, contorce-se. Mas não quebra. Só parte quando está seca, velha, chupada de todo o seu interior. Vazia. Morta. Podre. Preciso de um sopro gélido que me petrifique e me destrua o resto do que ainda tenho. Do nada que nunca vou perder.
Por favor, quero estar sozinho. Só sei estar sozinho. Deixem que o meu fogo me consuma e me aniquile. Quero não ser eu. Quero não ser isto. Quero ser... não sei. Anseio por sonhos, ilusões. Parvoíces. Edifícios sólidos feitos de cartas que ruem cinicamente a meus pés. Para que sirvo? Digam-me. Diz-me. Não tenhas medo. Quero ouvir-te gritá-lo na minha cara. Quero que digas "zero", "vazio", "nada". Ou simplesmente olha-me nos olhos e não digas uma única palavra.
Não quero desaparecer ou morrer. Quero vaguear. Ao sabor da vontade de algo que sempre me transcende. Quero sentir o impacto com que essa punição me arremessa brutalmente contra as paredes e me desfaz cada pedaço de esperança e felicidade. Quero ver o pó que resta de tudo isso. De mim. Quero uma borracha para te apagar e para me esborratar. Quero perder a lucidez. E a nitidez. Para que nos lembremos sempre de nos esquecer.

1 comentário:

Anónimo disse...

Arrepio-me com a forma como escreves...o exagero!bjs*