quinta-feira, dezembro 22, 2005

Realista

Todos os que me conhecem dizem frequentemente que sou pessimista. Fatalista. Exagerado. Na verdade eu dou-lhe outro nome: realista.
Uma pessoa pessimista é aquela que vê o mal em tudo. Nada está certo. Tudo está errado. Nada corre bem. É uma pessoa negativa, que só vê negro em todo o lado. Talvez por isso possam dizer que sou pessimista, porque, em grande parte, também eu vejo assim as coisas. No entanto o pessimista difere do realista num determinado ponto: quase nunca tem razão.
O realista é aquele que, simplesmente, vê a realidade. Quer seja boa ou má. Mas o facto de a realidade ser maioritariamente má faz com que estes dois tipos de encarar a vida se toquem largamente.
Eu sou realista. Eu não sou pessimista. Caramba, eu também sei ver as (poucas) coisas boas que existem! E acreditem que lhes sei dar o devido valor, embora raramente o mostre. O problema é que, para quem conseguir abrir os olhos, o que nos cerca é quase tudo um cenário de uma encenação. Onde todos são actores que não representam o seu verdadeiro papel. Onde cada gesto está escrito no guião para agradar ao espectador. Resultado: quase nada é verdadeiro. E por mais que se tente, é muito difícil esconder mentiras, ocultar falsas verdades. É só isso que eu faço. Olhar para trás da cortina, das máscaras, dos papéis que cada um representa. E tentar ver o que está lá... Muitas vezes não gosto do que vejo. Quase sempre me arrepio do que não queria ou devia saber. E pior: tenho quase sempre razão. Parece que adivinho tudo o que de mau vai acontecer. Porque, afinal de contas, tudo tem lógica. E percebendo a lógica, facilmente se chega lá.
É bom ser assim? Talvez. Uma pessoa realista não é necessariamente infeliz. Nunca apanha desilusões e pode frequentemente ser positivamente surpreendida. Sabe quase sempre com o que conta. O que não é bom é ter sempre razão. Principalmente quando se vê o pior que há em cada um de nós (sim, porque a nossa natureza natural é ser mau, muito mau).
Não sabem o quanto eu gostava de estar errado em certas situações e em relação a algumas pessoas. De ser burro. De ser ignorante. De me deixar iludir por toda esta arte que é a vida. De ser mais inocente. Como uma criança. Apesar de não me queixar, acho que seria muito mais feliz. Porque o saber magoa.

Porque sou uma pessoa de palavra e as apostas são para se pagar...

4 comentários:

Anónimo disse...

aí está o post que eu já andava a prever.. até tinha estranhado não ter aparecido antes. creio que temáticas mais importantes tenham surgido primeiro. muito bem.
o realismo é benéfico. o pessimismo adjacente não. é bom acordar de manha e saber com que cara nos apresentarmos à vida. é igualmente bom acordar e sorrir.. dar o beneficio da dúvida ao dia que desperta conosco. é por isso que "Uma pessoa realista não é necessariamente infeliz (...) e pode (...) ser positivamente surpreendida. o principio devia ser que, em todos os dias, surpresas boas nos surgiriam defronte.. e que as pessoas sao boas. ha que acreditar nisso.
mesmo que a tendencia geral seja inversa.. nao quer dizer que esteja correcta.
desta vez nao tivest razao.. *bjs

Anónimo disse...

Às vezes não vale a pena continuar a acreditar numa mentira em que tropeçamos todos os dias...
Acredita... gostei de não ter razão.

Anónimo disse...

Nao sei se as coisas são bem assim.Eu penso que somos todos realistas.Tem tudo a ver com a maneira como queres que essa realidade seja traduzida na tua vida.Por vezes,não a conseguimos iluminar, desviando-a do "negro" que disseste.A ideia do texto é boa.Há contudo, coisas que não me parecem "realistas": um realista, desilude-se. E o que magoa nao é o teu saber, é o que os outros fazem com ele.É bom ver a face de negra dos outros,previne desilusões...mas não as evita totalmente...

André

Anónimo disse...

É verdade que a vida tem coisas boas e más e que realisticamente há que reconhecer tanto umas como outras. Mas a desilusão magoa, e falando como alguém que a sofreu na pele sob as mais variadas formas e feitios, reconheço que é preferível contar com o pior e ter depois aquela agradável surpresa que nos faz dar o dia como ganho. Ao menos assim poupa-se o miocárdio.